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Náusea ou é a morte que vem?
Entrega-te, meu coração.
Lutamos bastante.
E que minha vida cesse.
Não fomos covardes,
Fizemos o que pudemos.
Ah! Minha alma,
Partes ou ficas,
precisas decidir.
Não me tateies assim os órgãos,
Ora com atenção, ora com frenesi,
Partes ou ficas,
Precisas decidir.
Eu não aguento mais.
Senhores da morte,
Eu não vos blasfemei nem aplaudi.
Tende pena de mim, viajante já de tantas viagens sem malas,
Sem mestre tampouco, sem riqueza e a glória foi-se embora para outro lugar,
Sois potentes certamente, e esquisitos sobretudo,
Tende pena deste homem desvairado, que antes de ultrapassar a barreira já vos grita seu nome,
Agarrai-o em pleno voo,
Que ele se acostume, se conseguir, a vossos temperamentos e a vossos hábitos,
E se tiverdes a bondade de ajudá-lo, ajudai-o, eu vos suplico.
Nausée ou c'est la mort qui vient ?
Rends-toi, mon cœur.
Nous avons assez lutté.
Et que ma vie s'arrête.
On n'a pas été des lâches,
On a fait ce qu'on a pu.
Oh ! mon âme,
Tu pars ou tu restes,
Il faut te décider.
Ne me tâte pas ainsi les organes,
Tantôt avec attention, tantôt avec égarement,
Tu pars ou tu restes,
Il faut te décider.
Moi, je n'en peux plus.
Seigneurs de la Mort
Je ne vous ai ni blasphémés ni applaudis.
Ayez pitié de moi, voyageur déjà de tant de voyages sans valises,
Sans maître non plus, sans richesse et la gloire s'en fut ailleurs,
Vous êtes puissants assurément et drôles par-dessus tout,
Ayez pitié de cet homme affolé qui avant de franchir la barrière vous crie déjà son nom,
Prenez-le au vol,
Qu'il se fasse, s'il se peut, à vos tempéraments et à vos mœurs,
Et s'il vous plaît de l'aider, aidez-le, je vous prie.
De: MICHAUX, Henri. Ecuador. Paris: Gallimard, 1929.
são meus inimigos:
ResponderExcluiras dores nos pés
a pressão alta
o medo de morrer
a obscuridade
e a frieza frente à vida
no mais, a viagem
tem sido plena de alegria:
amor infinito
natureza exuberante
o anoitecer nesta cidade
e essa voz inigualável
chamada arte
que coisa bela, que coisa perfeita!que mais posso dizer? que mais preciso dizer? nada.
ResponderExcluirme entrego a esse poema oração na minha hora indesejada chegar
ResponderExcluirCesar Vallejo é pouco conhecido entre os amadores/amantes de poesia no Brasil. Náusea e morte são temas caros a ele. Aqui vai um poema dele com minha tentativa de tradução.
ResponderExcluirLOS HERALDOS NEGROS
Hay golpes em la vida tan fuertes... Yo no sé!
Golpes como del odio de Dios; como si ante ellos
la resaca de todo lo sufrido
se empozara en el alma... Yo no sé!
Son pocos; pero son... Abren zanjas oscuras
en el rostro mas fiero y en el lomo más fuerte.
Serán talvez los potros de bárbaros atilas;
o los heraldos negros que nos manda la Muerte.
Són las caídas hondas de los Cristos del alma,
de alguna fe adorable que el Destino blasfema.
Esos golpes sangrientos son las crepitaciones
de algún pan que en la puerta del horno se nos quema.
Y el hombre... Pobre... pobre! Vuelve los ojos, como
cuando por sobre el hombro nos llama una palmada;
vuelve los ojos locos, y todo lo vivido
se empoza, como charco de culpa, en la mirada.
Hay golpes en la vida, tan fuertes... Yo no sé!
OS ARAUTOS NEGROS
Há golpes na vida, tão fortes... Não sei não!
Golpes como do ódio de Deus; como se diante deles,
a ressaca de todo o sofrimento
se encharcasse na alma... Não sei não!
São poucos; mas são... Abrem rugas escuras
no rosto mais ferino e no dorso mais forte
Serão talvez os potros de bárbaros átilas;
ou os arautos negros a mando da Morte
São as quedas profundas dos Cristos da alma,
de alguma adorável fé que o Destino blasfema.
Esses golpes sangrentos são as crepitações
de algum pão que na porta do forno nos queima.
E o homem... Pobre... pobre! Volta os olhos, como
Quando desaba um tapa sobre nosso ombro;
volta os olhos loucos, e todo o vivido
se encharca, como poça de culpa, no olho escombro.
Há golpes na vida, tão fortes... Não sei não!
Amado Cicero,
ResponderExcluirSempre grato por alimentar-nos com o que há de melhor da Poesia Mundial!
Abraço forte!
Adriano nunes.
«Flores queimadas pela geada
ResponderExcluirOs grãos caídos
semeiam a tristeza»
Matsuo Bashô
in O GOSTO SOLITÁRIO DO ORVALHO, Antologia poética, Versões de Jorge Sousa Braga, ed. Assírio & Alvim
Querido Cicero,
ResponderExcluirque bela sequência de posts... Esse poema e o texto de Ashbery são geniais. Sempre um prazer poder compartilhar tais belezas com você aqui.
Um beijo.
Amado Cicero,
ResponderExcluirMeu novo soneto:
"É PRECISO ACENDER TODAS AS VELAS" (PARA A MINHA AMADA MÃE)
Preciso descobrir qual a palavra
Pagã, que sempre vibra, sozinha,
Dentro do coração, da vida minha,
Inquieta, Invisível, desarmada,
Vinda do nada, vã, grande vilã
Das horas preciosas, dos acasos
Volúveis, dos abraços, dos ocasos
Perdidos na visão, toda manhã,
Enquanto seus matizes, os sentidos
Dos ocultos vocábulos, dos traços
Pétreos desse caminho, distorcidos
Pelo veneno eterno do que caço,
Por desejo de versos, eu lapido.
Os asfaltos poéticos, eu faço.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
"Tu pars ou tu restes, Il faut te décider.... "
ResponderExcluirLindo poema!!!!
:0
Não sei se vc a conhece, mas a poeta portuguesa Ana Gastão aprecia muito a obra de Henri Michaux e alguns percebem isso no último livro dela Lápis Mínimo.
ResponderExcluirpoema lindo!
ResponderExcluirpôxa pôxa,
este tempo cinza, chuvoso, que gosto até, mas que me deixa mais pensativo-melancólico com as questões neste poema abordadas. "o pó da morte", como "um insecto louco", assim, me rondando a cuca, "saltando de um lado para o outro", como lindamente escreveu casimiro de brito.
ontem assisti a um filme que muito me tocou, e que deixo -- com muita humildade --, para quem se interessar, como recomendação: o filme, em inglês, chama-se "elegy" e ganhou, no português, o título "fatal". traz a belíssima, que adoro de paixão!, penélope cruz, e o charmosíssimo (no filme tá uma delícia - rs!) ben kingsley, nos papéis principais (os dois arrebentando!). fotografia desbundante, atuações impecáveis, enredo e narrativa bacanas. "fatal" trata de um monte de coisas a ver com o poema: o passar do tempo, a vida que se viveu, a chegada da velhice, as surpresas da trilha, a morte. vale a pena para quem se inclina por estes temas.
não bastasse, vindo para o trabalho, sentei-me, no coletivo, ao lado de uma senhora, que me relatou um tanto da sua história de vida com o marido agora doente, vítima de um 'avc', problema que desencadeou a morte do meu pai há 4 anos atrás.
enfim, por todas essas questões, este poema, lido num momento como este, como me tocou...
é, meu poeta grande e bonito, não deixo de fechar com o seu belíssimo verso, de grande valia: "os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro".
beijo grande e carinho bom.
O teu corpo
ResponderExcluirAcorda e ri.
Eu te abraço
E sou feliz.
Ton corps
Se réveille et rit.
Je t´embrasse
Et c´est tout chérit.
(original e versão de minha autoria)
[]´s
entre a sensação nauseante de tudo que nos devora, vemos a morte que se aproxima. Desejo que hesita: o suicídio. Um poema que esfria todo o corpo, Cícero!
ResponderExcluirUm abraço.
Jefferson.
lindo, o poema, Cícero
ResponderExcluiràs vezes é difícil saber se é a morte que nos vence ou se nós é que a desejamos
abraço de fã
Adoro o nada
ResponderExcluirO nada, prá mim,
É tudo
Só assim fico mudo
E esqueço
Fico leve
Para assim percorrer
Os labirintos do ser
Crosta dura inaugurada
Pelos olhos da bem amada.
Adeuses se desenham sobre as nossas faces.
ResponderExcluirMil vezes morte sob a foice desses dias.
Mil vezes ódio sob o céu enluarado.
Há despedida em cada gesto.
O esgar da morte nos transforma em nada.
A cal do tempo nos transforma em nada.
A poesia está em falta.
Ser agarrado em pleno vôo. Deve ser esta a sensação... Que poema incrível.
ResponderExcluirUm abraço
Querido Cicero,
ResponderExcluirsem querer dar trabalho, desconsidere a outra postagem de comentário. Havia um erro pronominal no último verso e aqui foi corrigido.
Em consonância com o tema de Michaux, volto ao Ronsard e preparei uma peça especial: um primeiro soneto de uma série de seis que foram ditados no leito de morte, segundo a edição de Jacques Roubaud (Soleil du Solei - anthologie du sonnet français de Marot à Malherbe - Gallimard, 1990)
Minha versão é apenas uma versão e não por falsa modéstia. Ressinto deixar ao largo sutilezas preciosíssimas que percebo no original...
Je n'ay plus les os, un Schelette je semble,
decharné, denervé, demusclé, depoulpé,
que le trait de la mort sans pardon a frappé,
je n'ose voir mes bras, que de peur je ne tremble.
Apollon& son filz deux grands maistres ensemble,
ne me sçauroient guerir, leur mestier m'a trompé,
adieu plaisant soleil, mon oeil est estroupé,
mon corps s'en va descendre où tout se desassemble.
Quel amy me voyant em ce point despouillé
ne remporte au logis un oeil triste et moullié,
me consolant au lict & me baisant la face,
en essuiant mes yeux par la mort endormis?
Adieu chers compaignons, adieu mes chers amis,
je m'en vay le premier vous preparer la place.
A um esqueleto, nada além de ossos, pareço,
De carne e nervo e músculo fui desprovido,
pela seta da morte impiedosa abatido,
não vejo os braços meus, pois de medo estremeço.
Apolo e filho, mestres do maior apreço,
já não sabem curar-me no ofício iludido.
adeus belo sol, tenho o olhar consumido,
e, então que o corpo jaz, de tudo me despeço.
Que amigo, ao me ver neste extremo despojado,
não lançaria o olhar em lágrimas banhado,
mitigando-me o leito e me beijando a face,
enxugando-me os olhos mortais neste sono?
Adeus, meus companheiros, não vos abandono,
se parto é por rever-vos os em vosso trespasse.
Forte abraço,
Marcelo Diniz
Amado Cicero,
ResponderExcluirOutro poema:
"EU ESTOU-TE AMANDO"
Eu estou-te amando
A mando
Do meu coração.
Eu não
Sabia que, quando
O amor
Nascia, a alegria
Só vinha
Tão na contramão,
Quase atropelando
A vida.
Talvez seja a minha
Alma bem mais cúmplice
De tudo,
Desse teu ciúme.
Eu estou-te dando
A mesma
Razão.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Amado Cicero,
ResponderExcluirOutro poema convulso:
"FAÍSCA"
O meu coração abraça
O teu coração em brasa.
Queimar é nada!
Nem teu corpo nem teus sonhos
Suportam tanto minh'alma.
Sofrer é dádiva!
Sem medo, sempre me exponho,
Enquanto tudo mascaras.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Antonio,
ResponderExcluirBela postagem!
***Ó NOITE! SUMA!***
É noite: vejo
Um outro céu
E penso ser
Qualquer estrela,
Mas sem porquês,
Subitamente,
Esse desejo
Triste me deixa.
Ó noite! Suma!
Beijos,
Cecile.
Dói!
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