23.3.09

Donizete Galvão: "(Abrigo)"

.


(Abrigo)

Há uma casa,
como casca,
crosta presa
nas costas.
Cicatriz de um
ninho quente,
vermelho de
fogão de lenha,
infância
onde o homem
já não cabe.

Há uma casa
branca corno
a cal, vazia,
imaterial,
que flutua
no espaço,
onde o corpo
busca guarida
quando a vida
já perdeu
o seu sal.


De: GALVÃO, Donizete. In: Traçados diversos. Uma antologia da poesia contemporânea. Org. por Adilson Miguel. São Paulo: Scipione, 2009.

8 comentários:

  1. Belo poema «sine grano salis»

    Domingos da Mota

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  2. Um lampejo
    Uma luz no breu
    Lá longe, aonde o mar parece ser seu,
    Na vastidão
    onde fala alto o coração
    Que vê tudo que sente
    Pupilas soltas ao vento.

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  3. ótima escolha Antônio....

    eu tbm preciso de uns "abrigos".

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  4. Oi Antônio Cícero,
    Estive olhando o seu blog e o coloquei na lista de interessantes de meu blog para que outros possam ver. Não sou de escrever poesias, entretanto, possuo um livro editado (Gráfica Porto, de meu falecido pai) e publicado, sobre os meus próprios sentimentos, em forma de poemas. Enfim, eu resolvi "acompanhar" o seu blog. À propósito, eu criei o meu neste domingo que passou (22/03) e ficarei contente se o visitasse. Um abraço, Ana Lúcia Porto.

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  5. Cicero,
    Lindo!

    Meu novo soneto:


    "PORTO DE PEDRAS"


    Do sobrado descrevo o coração
    Da cidade, esse céu, todos os mares,
    Os vértices de mármore, pilares
    Dos vastos devaneios da visão.


    O meu ser se congela na paisagem
    E pra sempre se prende à Poesia
    Do povoado. Em vão, tudo seria.
    Talvez, uma vertigem da linguagem.


    Serve-me de moldura, de morada
    O limite das praias, o vestígio
    Do lindo litoral que nunca acaba.


    Cais, pedras, praças, casas elogio.
    À vista, a voz da vida se propaga.
    Para além da miragem, foz de rio.





    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

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  6. não conhecia o poeta e gostei. vou atrás.

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  7. Entre a casa física e o homem, existe uma casa sonhada onde o homem pode habitar quando a antiga casa está em ruínas: sonhos!

    Abraços.
    Jefferson

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  8. porra, cicero, que poema lindo!

    ele me remeteu ao disco da marina, da sua linda irmã, o "abrigo". primeiramente, por conta da coincidência de títulos. e também porque, à época do seu lançamento, ela deixou, em suas entrevistas, este poema do donizete galvão implícito: o repertório como um grande abrigo, um ninho quente, como a casa branca, imaterial, que flutua no espaço e que fornece guarida.

    eu, graças!, também possuo a minha casa-crosta presa nas costas.

    beijo, lindão!

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