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Velho Tema
I
Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
De: CARVALHO, Vincente de. In: BANDEIRA, Manuel (org.). Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e da Saúde, 1938.
Eis o suplício de Tântalo!
ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluirBelíssimo soneto, tipicamente parnasiano, plenamente trabalhado.
"SEGREDO"
Na vida somos sós e tudo mesmo
Demais ainda brilha: toda promessa,
Essa grande alegria que atravessa
A todos em segredo e desfaz, a esmo,
O nosso sofrimento, breve morte.
Depois tudo se afasta da razão
E vemos esperanças em fusão,
Mas não acreditamos que são fortes
Todas essas lembranças e queremos
Do futuro fugir, mas não sabemos
Se devemos lutar contra quem somos.
Desistimos então do que supomos,
Dentro do coração, ser. Em que tomo
Do destino, felizes, findaremos?
Abraços.
Adriano Nunes.
Tenho só 17 anos, mas sou MUITO sua fã !
ResponderExcluirLeio suas poesias, visito seu blog e o site da Marina.
Vc é sensacional !
Obrigada por escrever mais uma página da poesia brasileira, como quem guarda uma chave, ou esconde um segredo.
Um grande beijo, Clarissa.
Amado Cicero,
ResponderExcluirBoa noite!
"ROLETA-RUSSA"
Em casa,
A minha
Vontade
É só
Sair.
Lá fora,
O meu
Desejo
É mais
Sumir.
Mas onde
Então
Eu devo
Fincar
Os pés?
No céu
De Ícaro?
No espaço
Infindo
Do verso?
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Feitiço do Rio
ResponderExcluirAlamedas, morros
Gente de montão
Pelas ruas, praias
Levou meu coração
Rio, feitiço do Rio
No cio
Flagro agora um instantâneo
Que tudo é momentâneo
E nesse rio, corrupio,
É tudo mais espontâneo
Suas praças, igrejas,
Natureza, quanta beleza,
Os bares, leblon, os
Mares
Rio, feitiço do Rio
Meu pedaço de Antares.
Antonio,
ResponderExcluirOs parnasianos são ótimos ourives do verso e os seus sonetos são pérolas preciosas. Pena que pouca gente dê por isso! Ultimamente, venho relendo as obras parnasianas e simbolistas. E que grande satisfação invade a minha alma! Bem que você poderia postar algum poema de Cruz e Souza, apenas um pedido.
"ÓPTICA"
Dar àquele dia
Um prisma? Viria
Dele meu poema,
Vestígio de sol?
No papel, rascunhos
Ultravioleta.
De repente, nuvens,
Raios e trovões.
Do ventre volúvel
Do céu, chuva veio.
Dos versos, sobrou
Um sonho caótico.
Beijos,
Cecile.
Antonio,
ResponderExcluirperdoe-me a grafia de Souza com "Z"... compenetrada no CRU(Z), terminei escrevendo CRUZ E SOU(Z) A... influência explícita das "veludosas vozes"...
Beijos,
Cecile.
Cecile,
ResponderExcluireu nem tinha percebido o "Z" no lugar do "S".
Já postei o Cruz e Sousa.
Beijo
Cicero, não sei se vc gosta de Mario de Sá-Carneiro - não o encontrei por aqui. De todo modo, acho esse poema mto bonito e lembrei do seu blog.
ResponderExcluirQUASE
(MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO)
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…
Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido…
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão…
Mas na minh’alma tudo se derrama…
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo … e tudo errou…
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim…
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…
Momentos de alma que,desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram mas que não fixei…
Se me vagueio, encontro só indícios…
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios…
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí…
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi…
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…
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Abraços.
Aetano.
Obrigado, Aetano.
ResponderExcluirGosto dele sim.
Abraço
Olá, Cícero!
ResponderExcluirGrande Vicente de Carvalho!
Não me contive. Para mim, um dos melhores sonetos da nossa literatura!
Parabéns pela escolha!
Grande abraço.