4.1.09

Eugénio de Andrade: "O sorriso"

.



O sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.



De: ANDRADE, Eugénio de. Poemas de Eugénio de Andrade. Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

6 comentários:

  1. Amado Cicero,

    Muito lindo e delicadamente musical. Dá vontade de entrar no sorriso do poema! ( ou entrar na poesia de todo sorriso?)


    Abraços.
    Adriano Nunes.

    ResponderExcluir
  2. Insone, pensei em criar sobre o tema, que me pareceu muito instigante, mas não deu certo. Segue o fracasso:

    Tudo por um sorriso

    Não creio que um sorriso tenha sido...
    Abriu-me a cal em cálcio sem motivo,
    Saliva aos borbotões, e eu convencido,
    Na dúvida, com medo progressivo

    De estar, pois, em perigo parecido
    Com bicho que é de abate, nutritivo,
    Proteico ao seu carrasco. Conduzido
    Me fui para a bocarra do nocivo.

    Simpático por dentro, mas fechou
    A boca. Então seus dentes, na pressão,
    Cortaram-me em frações e eu fui partindo.

    De ser à gororoba foi um show
    E a pasta remoída à depressão
    Desceu. Será que agora ele está rindo?

    - Henrique Pimenta

    ResponderExcluir
  3. A florzinha do jardim
    Ora laranja, ora amarela
    Brinca com as cores dela
    Nasce de um dia para o outro
    Na calada da noite
    Momento fugaz
    Decerto ela não me vê
    Ou crê
    Nem possui o desatino
    Ou qualquer destino
    De ser só ou de ser outro
    Ser singela e bela
    É a alma dela
    Mas sendo ou não o seu desejo
    Algo além do que vejo
    É o mesmo que almejo.

    ResponderExcluir
  4. Antonio,

    Poema encantador! Parabéns pela sublime postagem!


    ***BREU***



    De que me servem tais fotografias
    Se nem mesmo na poesia quero
    Ver-te revelado, meu grande amor?
    De que me vale, por tudo, velar?


    Teu riso terá que cor no papel?
    Teu cheiro será aconchego no verso?
    Ou nada disso tem sentido agora
    E tudo deve ficar no vazio


    Do nitrato de prata, dessas sombras,
    Ou verter do véu de qualquer palavra?
    A paisagem, não me agrada, por trás


    Das duras verdades vindas de nós.
    Que faríamos com o breu dos astros
    E com os opacos flertes visíveis?


    Beijos,
    Cecile.

    ResponderExcluir
  5. Que lindo. Há tanta malícia nesse sorriso que, só de imaginar, dá vontade de pular pra dentro.

    Um beijo, querido.

    ResponderExcluir
  6. observador,

    se os olhos são a janela da alma, a boca é a porta... (lembrei do taiguara: "sorriso bom só de dentro...")

    no "sorriso" que você apresentou é bonita a mensagem direta!
    poucas linhas, muita imagem, sem rodeios. lindo.

    grande abraço!

    ResponderExcluir