9.1.09

Cruz e Sousa: "Vida obscura"

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VIDA OBSCURA


Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!



De: CRUZ E SOUSA, João da. In: ANDRADE MURICY (Org.). Panorama do movimento simbolista brasileiro. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1973.

8 comentários:

  1. Antonio,

    Sem palavras! Aqui é o centro do aprendizado poético. Cada poema que você escolhe e posta tem muito a acrescentar a nós, amantes da poesia, aprendizes dos poemas. Obrigada!

    "E chegaste ao saber de altos saberes
    Tornando-te mais simples e mais puro."



    Beijos,
    Cecile.

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  2. Cicero,

    É muito bom ver Cruz e Sousa em seu blog e este soneto é muito lindo. Agora vivo contando as sílabas... e vendo as possibilidades da contagem (risos!). Recentemente, no blog do Mariano houve uma homenagem aos poetas simbolistas, com vários poemas postados.



    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

    P.S.: onde estão os marcadores da postagem????

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  3. Amado Cicero,

    Ótima madrugada!

    "MILAGRE" (Para Walt Whitman)

    "To me every hour of the light and dark is a miracle"
    (WALT WHITMAN)


    Eu quero O SOL
    Agora a pino.


    Seus raios
    Suas cores
    Suas luzes
    Seus tons


    Rápido ocaso,
    Depois. Que lindo!


    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

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  4. Da obscura vida, sai o poema para a luz! Maravilhoso!
    Abraço

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  5. Adriano,

    obrigado por me alertar. Realmente, eu havia esquecido de pôr marcadores.

    Abraço

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  6. Cicero,

    Analisando os poemas/prosas de Fernando Pessoa percebi grande influência simbolista. Por exemplo, estes versos de Chuva Oblíqua:
    "Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
    E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro..."

    Abraços!
    Adriano Nunes.

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  7. não fosse muito a luz do hotel marina quando acende, encontro por aqui também o farol de cícero, que brilha por nós dois. abraços poéticos. http://almalesma.zip.net

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  8. lindíssimo, cicero, adorei!

    assisti, no rio, ao espetáculo de bethânia e omara portuondo. há pouco, comprei o dvd. tão bonito ver a abelha-rainha abrindo o show, ao lado da grande grande grande omara portuondo, com cio da terra, para, depois, atacar com gente humilde e partido alto, que fiquei imaginando a sua voz, a voz da abelha, recitando este belíssimo 'vida obscura'. e sabe o que me ocorreu agora agora agora? (uma maluquice, diga-se de passagem - rs, mas vá lá!) bethânia recitando este poema e, logo após, imendando-o com 'a balada do lado sem luz', do gilberto gil, que ela gravou magistralmente no seu disco 'pássaro proibido'. não ficaria bacana (rs)?

    beijo!

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