Nelson Ascher traduziu "Funeral blues", de W.H. Auden, para a Folha de São Paulo, em janeiro de 1995. Essa primeira versão se encontra no seu livro Poesia alheia (Rio de Janeiro: Imago, 1998). Recentemente, ela a reviu e modificou. Publico aqui a nova, esplêndida e inédita versão, e, em seguida, o poema original:
BLUES FÚNEBRE
Detenham-se os relógios, cale o telefone,
jogue-se um osso para o cão não ladrar mais,
façam silêncio os pianos e o tambor sancione
o féretro que sai com seu cortejo atrás.
Aviões acima, circulando em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Pombas de luto ostentem crepe no pescoço
e os guardas ponham luvas negras como breu.
Ele era norte, sul, leste, oeste meus e tanto
meus dias úteis quanto o meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto.
Julguei o amor eterno: quem o faz se engana.
Apaguem as estrelas: já nenhuma presta.
Guardem a lua. Arriado, o sol não se levante.
Removam cada oceano e varram a floresta.
Pois tudo mais acabará mal de hoje em diante.
FUNERAL BLUES
Stop all the clocks, cut off the telephone,
prevent the dog from barking with a juicy bone,
silence the pianos and, with muffled drums,
bring out the coffin, let the mourners come.
Let airplanes circle moaning overhead
scribbling on the sky the message: he's dead.
Put crepe-bows round the white necks of the public doves,
let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West,
my working week, my Sunday rest,
my noon, my midnight, my talk, my song.
I thought that love would last forever; I was wrong.
The stars are not wanted now, put out every one.
Pack up the moon, dismantle the sun.
Pull away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.
Cicero,
ResponderExcluirque lindos os dois poemas! e que desafio (ingrato, acho eu) é o trabalho de um tradutor - pq, nos casos melhores, o produto final são sempre dois poemas. e por isso é que eu te agradeço as edições bilingues - poesia a dobrar!
pack up the moon, dismantle the sun!
abraço,
F.
Esplêndido mesmo, o poema e a tradução! Uma aula de poesia, outra de tradução. Obrigado por mais estas. Grande abraço,
ResponderExcluiraldemar norek
parece uma letra do tom waits
ResponderExcluirAMADO POETA,
ResponderExcluirESPLÊNDIDOS TRADUÇÃO E POEMA! TUDO DE BOM!
ABRAÇO FORTE!
ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.
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ResponderExcluirOlá Cicero,
ResponderExcluirSem relação com o post, mas eu estava revendo um vídeo cômico agora e pensei em te mandar. Não sei como é o seu humor, mas espero que agrade. É de um comediante chamado Louis CK e o tema é a igreja católica:
http://www.youtube.com/watch?v=VABSoHYQr6k
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ResponderExcluirÉ, tem um ar daquela música "Underground" do Tom Waits.
ResponderExcluirMuito bom.
Gratíssimo!
ResponderExcluirplac plac plac (são os aplausos - rs)!
ResponderExcluirMARAVILHOSO, cicero! que forte, pulsante, que lindo!
e tudo a ver com os poemas que você vem publicando; tanto este como o do shakespeare e o do machado de assis, apesar da temática triste, pulsam, ainda que abatida, ferida, de vida.
beijo beijo beijo!
Esse poema foi recitado pelo personagem Matthew no filme Four Weddings and a Funeral, exatamente no funeral de Gareth. Um filme interessantissimo que nao deveria ter sido tao banalizado.
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ResponderExcluirAntonio Cicero, agradeço muito a publicação da bela tradução do poema de Auden feita por Nelson Ascher.
ResponderExcluirEscrevo-lhe para saber se posso citar seu blog (devido à tradução do poema) em um livro que estou escrevendo. A referência será feita no rodapé da página. Muito grata!
Fátima, obrigado pelo seu comentário. Sim, claro que você poderia citar meu blog. Mas, depois de ler o seu comentário, eu telefonei para o Nelson Ascher e ele me disse que pedisse a você para enviar um e-mail para ele, pois ele fez ainda uma ou duas alterações nessa versão.
ResponderExcluirO melhor é você me enviar o seu e-mail; eu não o publicarei, mas enviarei para ele o e-mail do Nelson.
Abraço!
Que lindo poema.Funeral Blues-w.H.Auden.
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