19.11.08

Machado de Assis: "A Carolina"

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A Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.



De: ASSIS, Machado de. "Poesias coligidas: Dispersas". In: Obra completa, vol.3. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973.

7 comentários:

  1. GRANDE CICERO,



    ESTE SONETO DECASSÍLABO DE MACHADO É BELÍSSIMO E DELICADO! DEMONSTRANDO AQUI, ASSIS, QUE NEM SÓ DE PROSA VIVE O HOMEM!

    ABRAÇO IMENSO!
    ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.

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  2. AMADO CICERO,


    PARA RIR NESTA MADRUGADA:


    "POEMA DE AMOR"



    LI O POEMA QUE O DIABO RASGOU.
    NÃO AMALDIÇOAVA DEUS NEM O CÉU.
    NÃO ARQUITETAVA VINGANÇA. SOMENTE
    AS REVELAÇÕES DE UM AMOR SEM FIM.


    ALI, PLENA E DIABÓLICA DÍVIDA
    DE PAIXÃO NUNCA RESOLVIDA, HAVIA.
    ENCONTROS MARCADOS, NOITES EM CLARO,
    PEDIDOS DE DESCULPAS, MIL PRANTOS.


    QUIS RIR, MAS TUDO RÓIA O CORAÇÃO.
    NADA TINHA DE TENTAÇÃO NEM TREVA.
    ERAM SIMPLESMENTE VERSOS DO ALÉM.


    VERSOS INVISÍVEIS, VERSOS SATÂNICOS,
    VERSOS DECASSÍLABOS DECAÍDOS,
    PERDIDOS NO PARAÍSO PARA EVA.

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  3. lindo, cicero!

    pela temática, pela força das palavras e dos sentimentos, associei o poema, de imediato, ao soneto do sheakspeare que você publicou.

    adorei!

    e eu estou looouco pra comprar a edição com a obra completa do machado de assis em poesia!

    maravilha encontrar um dos grandes mestres da nossa língua por aqui, em versos!

    beijo grande nocê!

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  4. Prezado Antonio Cícero,
    O que eu mais aprecio num soneto é ele parecer que não deriva da forma soneto.
    Como esse.
    Um abraço,
    JR

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  5. AMADO POETA,


    BOA NOITE!



    "HORA MORTA"



    PERDI O MEDO
    DE TI. NADA
    NÃO TE PEÇO.
    AQUI CADA
    HORA MORRE
    DEPOIS DA
    MADRUGADA.


    LANÇO À VIDA
    O QUE SOU.
    PESO A SORTE.
    NÃO DESEJO
    SÓ VENCER
    ESSE JOGO.
    É TOLICE


    NÃO TE AMAR
    LOUCAMENTE.
    SÃO VONTADES
    VINGATIVAS
    NOSSAS TARAS
    E ARDEM MUITO
    TODA NOITE.




    ABRAÇO FORTE!
    ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.

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  6. AMADO POETA,

    RELI O SEU TEXTO QUE FALA DE JOÃO CABRAL E DECIDI, NESTA MADRUGADA, FAZER ESTE POEMA:


    "AQUISIÇÃO FABULOSA" (PARA JOÃO CABRAL DE MELO NETO)



    LAPIDAR O POEMA.
    LANÇÁ-LO LINDO À LÍNGUA,
    SEM O PESO DO VÁCUO.
    PALAVRA POR PALAVRA,


    SEM PREMATURA PRESSA.
    PALAVRA POR PALAVRA,
    SEM PROEZAS SUPÉRFLUAS.
    PALAVRA POR PALAVRA,


    SEM PRETENSÕES PRECÁRIAS.
    PARA DEPOIS DE PRONTO,
    DEVOLVÊ-LO NU AOS DEUSES,
    SEM O PESO DO VÉU.


    ABRAÇO FORTE!
    ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.

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  7. Soneto das vindimas

    a Machado de Assis


    descreveste-me o caso e ferrei osso
    (e peguei nessa merda pelas pontas)
    e torci de alguns versos o pescoço
    e limpei o poeta das afrontas

    é certo que chegou algum reforço
    (voaram ovos chocos e até pombas)
    e depois do esforço e do desforço
    assobias pró ar num faz de conta

    não sei se é descaro ou cobardia
    rimar o dom casmurro e a sua tia
    com a memória póstuma do cubas

    só vou dizer machado porque assis
    e já que esta rima não condiz
    cá estou a vindimar: e a pisar uvas

    Domingos da Mota

    V.N.Gaia, 29.09.208

    homenagem ao grande escritor da nossa língua, Machado de Assis, no dia do centenário da sua morte.

    (nota: «e torci de alguns versos o pescoço», é uma paráfrase do verso «e torce-lhes o pescoço», do poema "Bom e Expressivo", de Alexandre O'Neill)

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