Selecionei e traduzi alguns dos pensamentos que Montesquieu não pôs em suas obras. "São idéias que não aprofundei", diz, "e que guardo para sobre elas pensar quando surgir a ocasião".
Quase nunca tenho tristeza, e menos ainda tédio.
O estudo tem sido para mim o remédio soberano contra os desgostos da vida, e jamais tive tristeza de que uma hora de leitura não me tenha livrado.
Acordo de manhã com uma alegria secreta; vejo a luz com uma espécie de arrebatamento. Todo o resto do dia fico contente.
Passo a noite sem acordar e, à noite, quando vou para a cama, uma espécie de entorpecimento me impede de fazer reflexões.
Quando viajei pelos países estrangeiros, liguei-me a eles como ao meu próprio: tomei parte da sorte deles, e gostaria que estivessem num estado florescente.
Nunca me irritei de passar por distraído: isso me permitiu arriscar-me a cometer muitas negligências que me teriam encabulado.
Quanto à maior parte das pessoas, prefiro aprová-las a escutá-las.
Jamais vi correrem lágrimas sem me enternecer.
Perdoo facilmente, pela razão de que não sei odiar. Parece-me que o ódio é doloroso. Quando alguém quis se reconciliar comigo, senti minha vaidade lisonjeada e parei de ver como inimigo um homem que me prestava o serviço de me dar uma boa opinião de mim.
Quando se esperou que eu brilhasse numa conversa, jamais o fiz. Prefiro ter um homem de espírito a me apoiar do que muitos tolos a me aprovar.
Se eu soubesse de uma coisa útil para minha nação que fosse destruidora para outra, não a proporia ao meu príncipe, porque sou homem antes de ser francês, (ou então) porque sou necessariamente homem, e só sou francês por acaso.
Se eu soubesse de alguma coisa que me fosse útil e que fosse prejudicial à minha família, eu a expulsaria do meu espírito. Se soubesse de alguma coisa útil à minha família e que não o fosse à minha pátria, eu tentaria esquecê-la. Se eu soubesse de alguma coisa útil à minha pátria, e que fosse prejudicial à Europa, ou que fosse útil à Europa e prejudicial ao gênero humano, eu a consideraria um crime.
Não esposo opiniões, exceto as dos livros de Euclides.
Eu dizia: “Não faço parte das vinte pessoas que conhecem essas ciências em Paris, nem das cinquenta mil que crêem conhecê-la”.
Alguém me reprochou de ter mudado a seu respeito. Eu lhe disse: “Se é uma mudança para você, é uma revolução para mim”.
De: MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat. "Mes pensées". In Oeuvres complètes. Vol.1. Org. p. Roger Caillois. Paris: Gallimard, 1949.
"also sprach montesquieu" (rs).
ResponderExcluircoisa linda!, adorei as anotações.
arrebentando nos textos. como sempre.
beijo, fofura!
pensador,
ResponderExcluirmuitíssimo obrigada!
além de, particularmente, ter sentido forte emoção ao desvendar a beleza do texto que você propôs,
fico sempre muito feliz quando confirmo que não errei na escolha dos meus heróis!
(entre eles os heróis poetas & filósofos!)
as traduções que você publica aqui, tenho reparado, são delicados trabalhos de conhecimento e carregam sua admiração pelo pensamento e pelos autores escolhidos.
muito sensível!
belo texto, fantástica defesa da liberdade da alma!
mais uma vez, obrigada!
Cisão
ResponderExcluirImprecisão
Vagos Sinais
Mil veredas há
A serem exploradas
Mil saídas e entradas
Ilhas escondidas nas beiradas
Para quem não tem a alma pesada!
Cícero, belíssimo texto! Sou grande admirador da sua poesia. Grande abraço do Alexandre Bonafim.
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