17.1.08

Eugénio de Andrade: Os amantes sem dinheiro

Eugénio de Andrade


Os amantes sem dinheiro

Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.




De: ANDRADE, Eugénio. “Os amantes sem dinheiro”. In: Primeiros poemas / As mãos e os frutos / Os amantes sem dinheiro. Vila Nova do Famalicão: Quase, 2006.

10 comentários:

  1. Ah! A sensibilidade do Eugénio...Pra poucos isso. Lindo!

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  2. Lovesong

    He loved her and she loved him.
    His kisses sucked out her whole past and future or tried to
    He had no other appetite
    She bit him she gnawed him she sucked
    She wanted him complete inside her
    Safe and sure forever and ever
    Their little cries fluttered into the curtains

    Her eyes wanted nothing to get away
    Her looks nailed down his hands his wrists his elbows
    He gripped her hard so that life
    Should not drag her from that moment
    He wanted all future to cease
    He wanted to topple with his arms round her
    Off that moment's brink and into nothing
    Or everlasting or whatever there was

    Her embrace was an immense press
    To print him into her bones
    His smiles were the garrets of a fairy palace
    Where the real world would never come
    Her smiles were spider bites
    So he would lie still till she felt hungry
    His words were occupying armies
    Her laughs were an assassin's attempts
    His looks were bullets daggers of revenge
    His glances were ghosts in the corner with horrible secrets
    His whispers were whips and jackboots
    Her kisses were lawyers steadily writing
    His caresses were the last hooks of a castaway
    Her love-tricks were the grinding of locks
    And their deep cries crawled over the floors
    Like an animal dragging a great trap
    His promises were the surgeon's gag
    Her promises took the top off his skull
    She would get a brooch made of it
    His vows pulled out all her sinews
    He showed her how to make a love-knot
    Her vows put his eyes in formalin
    At the back of her secret drawer
    Their screams stuck in the wall

    Their heads fell apart into sleep like the two halves
    Of a lopped melon, but love is hard to stop

    In their entwined sleep they exchanged arms and legs
    In their dreams their brains took each other hostage

    In the morning they wore each other's face

    Ted Hughes

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  3. AMOR (Eugénio de Andrade)

    Cala-te,a luz arde entre os lábios,
    e o amor não contempla,sempre
    o amor procura, tacteia no escuro,
    essa perna é tua?, esse braço?,
    subo por ti de ramo em ramo,
    respiro rente à tua boca,
    abre-se a alma à língua, morreria
    agora se mo pedisses, dorme,
    nunca o amor foi fácil, nunca,
    também a terra morre.

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  4. Muito bonito o poema. Vi que o livro é de 2006, mas de que ano é o poema originalmente? É tão recente assim?

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  5. lindo esse poema, antônio. obrigado por nos apresentar coisas tão belas!

    um abraço,
    lucas

    ps: sucesso na sua viagem e no curso!

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  6. Caro Paulo,
    O livro "Os amantes sem dinheiro" é originalmente de 1950.
    Abraço,
    ACicero

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  7. carrego amor como se fosse faca

    carinho embainhado

    tudo antevejo

    nada me escapa

    tento aprender a usar amor

    estranho amor

    à flor da pele

    o tônus santo

    genitália

    santelmo

    libidinagem

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  8. Minha avó Julia sempre falava que amor e uma cabana não sobrevive. Os amantes sem dinheiro sobrevivem em outro grau...lindo.

    beijão


    www.drikaflor.zip.net

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  9. Oi, Antonio: estava com saudades de seu blog. Belíssimo poema de Eugênio! Em tempo: mudei de blog. Faça uma visita lá. Beijos

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  10. eu à frente de eu génio:

    um dia eu
    dediquei essa
    êuclase a
    eucanaã

    eu génio não

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