O seguinte artigo de Paulo Guedes foi publicado em O Globo, segunda-feira, 12 de novembro de 2007:
A estética fascista
O rei Juan Carlos, da Espanha, mandou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, calar a boca durante a Cúpula Ibero-Americana, em Santiago do Chile. Chávez acusara de fascista o ex-presidente do governo espanhol José María Aznar. Por mais simpatia que se tenha pelas intenções da "revolução bolivariana", os sintomas desta terrível doença política, o fascismo, estão mais próximos de Chávez do que ele pensa. Segundo Luis Dupeux, em "História cultural da Alemanha: 1919-1960" (1989), "a utilização de palavras de ordem e das manifestações de massa foram comuns aos nazistas e fascistas. Bem como a gradual interdição da imprensa por um conjunto de leis e decretos sempre assegurando a legalidade do sistema". Fechamento da RCTV?
"Na mais visual de todas as formas, o fascismo se apresenta por vívidas imagens: um demagogo discursando bombasticamente para uma multidão em êxtase; jovens desfilando em paradas; militantes espancando membros de alguma demonizada minoria. Nacionalismo, ataques a propriedades, recurso à violência, voluntarismo, antiintelectualismo, rejeição a soluções de compromisso, desprezo pela sociedade estabelecida foram características do fascismo", registra Robert Paxton, em "A anatomia do fascismo" (2005).
Prossegue o autor: "Os primeiros movimentos fascistas ostentavam também seu desprezo pelos valores burgueses, pelo "dinheiro, imundo dinheiro", atacando o capitalismo financeiro internacional com veemência. Prometeram expropriar os donos de loja em favor de artesãos, e os proprietários de terra em favor de camponeses. Exploraram as vítimas da industrialização rápida e da globalização, os perdedores da modernização, usando as técnicas de propaganda mais modernas. Política de massas, tentava apelar sobretudo às emoções, pelo uso de retórica intensamente carregada. O fascismo ajuda um povo a realizar seu destino. Repousa na união mística do líder com o destino histórico de seu povo, agora plenamente consciente de sua identidade e seu poder." Líder, povo, identidade e poder "bolivarianos"?
"Um artifício usado pelos fascistas eram as estruturas paralelas, tanto na ascensão quanto no exercício do poder. O Estado oficial e essas estruturas conferiam ao regime sua bizarra mistura de legalismo e de violência arbitrária." Chavistas atacando universitários?
"Tendo chegado ao poder na legalidade, líderes fascistas podiam exercê-lo apenas nos termos da Constituição. Seu poder era limitado. O golpe dos fascistas foi transformar um cargo constitucional em autoridade pessoal ilimitada, controlando por completo o Estado. Os Parlamentos perderam o poder, e as eleições foram substituídas por plebiscitos do tipo "sim ou não"."
E, a propósito do alerta do senador José Sarney para a possibilidade de um futuro confronto, e também da manchete segundo a qual os comandantes militares pressionam o Congresso por mais verbas para o reaparelhamento das Forças Armadas, adverte Paxton: "Parece ser regra geral que a guerra seja indispensável à manutenção do tônus muscular do fascismo. Pois o ápice da experiência estética fascista seria a guerra."
liberdade tem o verbo que circula
ResponderExcluiratravessando mentes
demarcando corpos
estruturando o pensamento: opinião
aprisionado está aquele que conjuga o verbo
em solidão
aquele que, sozinho,
fecha a boca, obediente, reprimido
A face do mal nem sempre se oculta
ResponderExcluirDas trevas surge o brilho
Luz de lâmina
Explosivos
Tiroteios
Todo dia
Brilho mortiço iluminando a cal
Morte nada significa
Extermínio não quer dizer nada
É a perpetuação de uma doença
Essa é sua intenção
Cicero, a qualidade de seu blog é indiscutivel. Só para registrar...estou sempre aqui para le-lo, seja em poesia, seja em prosa, o teor é denso e o trago é forte.
ResponderExcluirum Abraço, Vinicius.
Caro Antônio,
ResponderExcluirConcordo que as características de Hugo Chávez coincidem com as do facismo, e que seu governo tem sido calcado no autoritarismo.
Contudo, não me parece que o fechamento da rede de televisão seja exatamente um ato de consolidação dessa atitude. E não devemos descartar o papel da própria mídia venezuelana no processo de "desdemocratização" daquele país.
Ao optar, desde muito cedo, por uma solução golpista para problemas provocados por um presidente eleito democraticamente, a oposição negligenciou seu papel de vigilância democrática, levando o país a uma situação em que restava apenas escolher entre duas ditaduras. O golpe mal sucedido contra o Chávez permitiu a ele retornar ao poder renovado, e com justificativas para todos os seu excessos e autoritarismos, supostamente necessários para combater os "inimigos da revolução".
O "problema" da política de Chavéz deveria ter sido tratado desde o princípio pelas via legal, e qualquer resistência, mesmo que armada deveria partir do princípio legalista, da busca de alternativas previstas no próprio sistema para corrigir suas falhas.
um abraço,
Lucas Nicolato
Cicero,
ResponderExcluirpergunto-me se os acontecimentos recentes não aproximam o governo de Chavez, mais do que fascista, de um - ainda que em estado embrionário - regime comunista.
aliás os exemplos que Paulo Guedes dá - populismo, demostrações de força "nacional" como os comícios, os desfiles de exército e de armamento, discursos inflamados, nacionalização de propriedade privada, ataques à liberdade indivuidual, de imprensa etc - são aspectos tão emblemáticos dos regimes totalitários de Hitler e de Estaline... a diferença fundamental é a ideologia escolhida para justificar o regime totalitarista que lideram.
A definição do CITI, da Univ. Nova de Lisboa, para Fascismo é,
" Os regimes fascistas surgiram na Alemanha e na Itália nos anos trinta e são o exemplo mais elaborado dos regimes totalitários capitalistas. Totalitário, porque nestes regimes o exercício do poder político não resultou de eleições livres e a oposição é interdita; capitalista, porque ocorrem em sociedades cuja estrutura económica se fundamenta na propriedade privada dos meios de produção."
ora Chavez assume-se, pelo menos supostamente, contra a economia capitalisma e as desigualdades sociais que lhe são subjacentes.
não é que me pareça que um sistema totalitário seja preferível ao outro - ambos são terríveis - simplesmente se vamos "catalogar" a política e o governo de Chavez à luz de acontecimentos infelizes da História, então quero ter a certeza daquilo que lhe devo chamar...
Abraço,
Filipa
Vinícius,
ResponderExcluirObrigado pelas suas palavras. Seja bem-vindo.
ACicero
Lucas,
ResponderExcluirPara mim, o importante do artigo do Paulo Guedes é mostrar ainda mais claramente o que já era claro: o estilo fascista de Chávez. É importante mostrar isso porque há muita simpatia por ele em toda a América Latina. O próprio Lula acaba de declarar que o governo de Chávez é o que há de mais democrático. E há grupos do PT, que recebem petrodólares venezuelanos. Ante a escalada anti-democrática de Chávez, os erros que a oposição a ele cometeu passam a segundo plano. Esses erros, aliás, são relativizados pelo fato de que Chávez mesmo já na década de 90 tentara um golpe de Estado contra um presidente eleito. Quanto ao fechamento da rede de televisão, acho que representa, sim, um ato anti-democrático, mesmo que não tenha sido ilegal. Hoje mesmo saiu a notícia de que ele pretende fechar outro canal de televisão, com o mesmo pretexto de que não faz uma cobertura imparcial e equilibrada das notícias. Ora, como comenta um professor de comunicação venezuelano (O Globo, 15/11/2007), “o motivo não é a falta de imparcialidade, e sim a falta de parcialidade a favor do governo. Se o presidentes e o Parlamento estivessem realmente interessados em fechar as emissoras que consideram imparciais, deveriam começar pelas estatais”. Sejam quais forem os pretextos do fascismo (e nunca faltou pretexto a Hitler ou a Mussolini) não se pode contemporizar com ele, nem mesmo quando tem ares de chanchada, como o de Chávez.
Abraço,
ACicero
Filipa,
ResponderExcluiracho que, realmente, esses regimes totalitários são muito semelhantes. Por outro lado, nenhuma situação concreta é exatamente igual a nenhuma outra. A ideologia de Chávez, o "Boliviarianismo", não é bastante definido, mas é claro que não pode ser identificado com o fascismo histórico, nem com o marxismo-leninismo. Ele invoca uma idéia vaga de "justiça social", mas invoca também uma espécie de nacionalismo ampliado, o "latinoamericanismo". Mas em matéria de estilo, de comportamento, de procedimento, ele não parece tanto com Stalin: parece mesmo é com os fascistas Mussolini e Hitler, como mostra Paulo Guedes.
Beijo,
ACicero
Senhor Ant�nio C�cero: Desde h� algum tempo que venho lendo o seu blogue. Embora haja algumas coisas que n�o entendo, por n�o estar devidamente enquadrado, acho que o blogue � de muita qualidade,permitindo-nos visisonar outros aspectos de problemas e d�vidas que afectam muita gente, mas que nem sempre s�o f�ceis de escalpelizar solitariamente. Estou perfeitamente de acordo com a sua resposta ao Sr. Lucas Nicolato, acerca do estilo fascista de Hugo Chavez. Lamento que o povo venezuelano esteja a ser governado por um demente como ele, e n�o compreendo como � que, na cimeira ibero-americana, todos se calaram (excepto a delega�o espanhola, em defesa de sua dama) assobiando para o ar, quando � certo que n�o estava a� em discuss�o o fascismo ou quem deveria ser, ou n�o, considerado fascista. � lament�vel a cobardia dos outros governantes, pondo acima de tudo os interesses econ�micos, que s�o os que d�o votos nas elei�es.
ResponderExcluirUm abra�o. Fernando Casimiro, Coimbra, Portugal.
Caro Sr. Fernando Casimiro,
ResponderExcluirMuito obrigado pela sua observação, com a qual concordo.
Um abraço,
Antonio Cicero
Não confundo esquerda, direita, poder, ditadura com democracia
ResponderExcluirOntem conversei com dois colegas professores lá no colégio. Aliás, colegas de primeira qualidade.
Um professor de história e o outro de filosofia, com os quais encho com o meu tartamudear incessante. E conversamos sobre política, pt,
fidel, morales, chávez, lula... E é notória para o meu colega professor de história a minha mente embaraçada de idéias. Ele é, pelo que deixa parecer, um esquerdista, mas não da ala do pt -e vejo isso com bons olhos -- mas a ele, não obstante a nossa amizade, sou - tenho quase certeza disso - um conservador e talvez com um viés pela direita. E eu acho que nem um nem outro, embora eu tenha perdido as minhas asas
de esperança. Na minha juventude sempre fui de esquerda, sem no entanto militar ou ter carteirinha de qualquer partido. Por exemplo, como já escrevi algumas vezes, eu fui um dos primeiros, senão o primeiro dentre os primeiros dos grevistas do setor securitário, isso em meados de 1984. Mas realmente no lugar de perdido passo por um déjà vu. Realmente não acredito em ninguém. Sou cético e desconfiado com tudo e com todos. E esse é um defeito que a Raquel sempre me aponta para o meu bem. Mas como diz aqui na
Vila Ré puxei a minha mãe. Eu, deveras, quereria acreditar nos homens, mas os paradigmas que temos tido não nos favorecem em meu entender. E ontem disse ao colega que eu não conseguia acreditar no Chávez e no Morales e o colega me perguntava para apontar as razões pelas quais eu não os creditava em meu crédito. E eu dizia que era simplesmente intuição. E ele me pedindo
as razões. E eu lembrei de uma frase fora do contexto, aliás duas: ´O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente´
ou outra assim: ´O coração tem razões que a própria razão desconhece.´Acho que é puro
preconceiro desse meu coração cigano e conservador. Torço, entretanto, para que os fatos não me venham comprovar as loucuras desse meu intuitivo coração.
Escrito por wilson luques costa às 15h21