18.6.20

Antonio Cicero: "Cidade"





Cidade
Para Arthur Nestrovsky

Lembro que o futuro era uma cidade
nebulosa da qual eu esperava
tudo e que, sendo uma cidade, nada
esperava de ninguém. Ah, cidade
sonhada de avenidas macadâmicas,
turbas febris e prédios de granito:
o que era que eu perdera e que, perdido
e em cacos, buscava nas tuas áridas
calçadas e esquinas? Hoje constato
que a névoa do futuro do passado
adensa-se dia a dia. De longe
teus contornos são mais arredondados.
Tu, cidade irreal, aos poucos somes:
já anseio te rever e já te escondes.






CICERO, Antonio. "Cidade". In: Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012.

5 comentários:

  1. Outro

    Você sempre existiu
    Aqui prá mim
    E isso é uma grande
    Surpresa
    Para quem não espera
    por surpresas
    E me põe noutra condição
    que desconheço
    E, se conheço,
    Será que reconheço?

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  2. Belíssimo poema, Cicero! Daqueles que ficam ecoando dentro da gente após a leitura, e que se apresentam desde o primeiro momento como um acréscimo importante à nossa vida. Já sei que retornarei inúmeras vezes a ele, a essa "cidade irreal" de "avenidas macadâmicas" e "áridas calçadas" que eu jamais suspeitei que existisse, mas que a partir de agora faz também parte da minha vida. Abraço!

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  3. Caro Rodrigo Cardozo,

    Suas palavras me deixaram felicíssimo. Muito obrigado!

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  4. Lindo! Estou aqui relendo. Tem poema que exige logo ser relido, relembrado. Este, Antonio Cícero, eu já sei que vamos ficar (o poema e eu) nos revisitando.

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  5. Que bom, Meigle! Suas palavras me deixam feliz.

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