30.11.18
Bruno Darcoleto Malavolta: "Epicurus revisited"
Epicurus revisited
disco, agulha, caixas
onde ouço os sonhos de coltrane e duke ellington
o velho violão em que aprendi os primeiros acordes
o novo violão, superior, trincado
poemas que li, poemas que escrevi, por todos os lados
uma cadeira, uma mesa, um cigarro, um filtro de água
o meu corpo cercado por gatos neste exato
ponto do espaço-tempo
-- sou rico.
MALAVOLTA, Bruno Darcoleto. "Epicurus revisited". In:_____. Quase. São Paulo: Patuá, 2018.
28.11.18
Dênis Rubra: "cansei de tentar explicar"
Agradeço ao poeta Dênis Rubra por me ter autorizado a publicar, em primeira mão, o seguinte belo poema que o ouvi recitar:
cansei de tentar explicar
RUBRA, Dênis. "cansei de tentar explicar".
cansei de tentar explicar
cansei de tentar explicar
e de tentar entender
para explicar a mim
o que eu não sei dizer
vivo apenas
sobrevivo quando posso
e prossigo na direção que se apresenta
pois todo caminho se abre
quando não se fecha.
não é preciso entender
nem é preciso culpa
basto quando me basto
e me cerco de tudo o que sei que eu sou
enquanto mudo tudo que eu sei que fui sem querer ser
enquanto mudo tudo que eu sei que fui sem saber
enquanto mudo apenas
e mudo
RUBRA, Dênis. "cansei de tentar explicar".
25.11.18
Friedrich Nietzsche: "Ecce Homo"
Ecce Homo
Sim, sei que origem me reclama.
Insaciável como a chama,
Ardo e me acabo com presteza;
Converto em luz tudo o que toco
E, tudo o que deixo, em carvão:
Sim, eu sou chama, com certeza!
Ecce Homo
Ja, ich weiss, woher ich stamme!
Ungesättigt gleich der Flamme
Glühe und verzehr ich mich.
Licht wird alles, was ich fasse;
Kohle alles, was ich lasse:
Flamme bin ich sicherlich!
NIETZSCHE, Friedrich. "Ecce Homo". Trad. por Agmar Murgel Dutra. In: CAMPOS, Geir (org.). O livro de ouro da poesia alemã. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.
22.11.18
Luciano Figueiredo: Exposição em Nice: "La couleur: pli et contre-pli"
Prochaine exposition :
Luciano FigueiredoLa couleur : pli et contre-pli
Vernissage Jeudi 6 décembre 2018 de 16h à 21h
Exposition jusqu’au 5 janvier 2019
Entrée libre
RELIEF, 2018. Acrylique sur toile et papier craft 97cm X 70cm
Galerie Depardieu
6, rue du docteur Jacques Guidoni
(ex passage Gioffredo)
06000 Nice
tél 09 66 89 02 74 - galerie.depardieu@orange.fr www.galerie-depardieu.com
Ouvert du lundi au samedi de 14h30 à 18h30
Les expositions sont organisées par la Galerie Depardieu
Spectacles (concerts, lectures, conférences...) sont produits par l'association culturelle ARTEP dans les locaux de la Galerie Depardieu
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21.11.18
Geraldo Carneiro: "bazar de espantos"
bazar de espantos
eu não tenho palavras, exceto duas
ou três que me acompanham desde sempre
desde que me desentendo por gente,
nas priscas eras em que era eu mesmo.
agora sou uma espécie de arremedo,
despido das minhas divinaturas.
já não me atrevo ao ego sum qui sum.
guardo entanto em meu bazar de espantos
a palavra esplendor, a palavra fúria,
às vezes até me arrisco à palavra amor,
mesmo sabendo por trás de suas plumas
a improvável semântica das brumas
o rastro irremediável de outro verso
ou quem sabe a sintaxe do universo.
CARNEIRO, Geraldo. "bazar de espantos". In:_____. Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira / Fundação Biblioteca Nacional, 2010.
20.11.18
Carlos Nejar: "Sem revolver o fogo"
Sem revolver o fogo
I
Escrever a dor
sem revolver o fogo,
a envelhecida cinza.
O que pode o amor
com os dons aprisionados?
Escrever
a ferocidade das coisas.
2 Era preciso
limo e pedra
para te ver.
Escrever a dor,
Abandonar
minha guitarra
o sol.
Um homem não respira
sem o mundo à soleira.
NEJAR, Carlos. "Sem revolver o fogo". In:_____. A ferocidade das coisas; Um país, o coração. Palhoça: Unisul, 2015.
18.11.18
Adriana Calcanhotto canta "Inverno"
Agradeço a meu amigo Arthur Nogueira, por me ter enviado o link para o seguinte clip, dirigido pela maravilhosa Suzana Moraes, de Adriana Calcanhotto cantando uma das primeiras canções que ela e eu fizemos em parceria: "Inverno".
16.11.18
Deado Lara: "Barro barroco"
Barro barroco
Quevedo,
Calçado em grilos,
Não temia
A sina natural
De nossa raça fidalga
Para escrever no belo soneto preferido de vovô:
"cago-me nos brasões desses monarcas"
LARA, Deado. "Barro barroco". In:_____. Uma canção para o IRA. São Lourenço, MG: Gráfica Novo Mundo, 2016.
14.11.18
Abel Silva: "O poço"
O poço
A moeda do Acaso
cai tão fundo
no Poço dos Destinos
que vivemos descolados
do viver do outro,
como num contrato de comportamento.
O milagre do viver nos entorpece.
Então a notícia da doença de um amigo,
o convite para a missa de um outro,
um susto, um alarme, uma suspeita
nos vareja no rosto uma aragem de morte.
Às vezes choramos,
ficamos desorientados
mas abrimos os olhos,
levantamos os ombros e seguimos em frente.
A gente é assim.
Como não guardo a esperança
de um encontro feliz
ao final das eras,
valorizo o tempo do aconchego,
abraço, beijo, conforto, aceito, sirvo.
Armo como posso a teia do afeto,
enquanto estamos perto
enquanto estamos vivos.
SILVA, Abel. "O poço". In:_____. Fôlego. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2018.
12.11.18
Paulo Henriques Britto: "Da irresolução"
Da irresolução
Por não se estar preparado
perde-se a vida inteira.
A preparação, porém,
pra ser completa e certeira,
exigiria no mínimo
uma existência e meia.
Compreende-se, portanto,
aquele que titubeia
ao se ver face a face
com tamanho compromisso,
e termina decidindo
viver mesmo de improviso.
BRITTO, Paulo Henriques. "Da irresolução". In:_____. Nenhum mistério. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
10.11.18
W.B. Yeats: "To a child dancing in the wind" / "A uma criança que dança no vento"
A uma criança que dança no vento
Dança aí junto ao mar;
Que te importa
O rugido da água, o rugido do vento?
Sacode a tua cabeleira
molhada de gotas de sal;
Tu que és tão jovem ignoras
O triunfo do néscio, não sabes
Que o amor mal se ganha e logo se perde,
Nem viste morrer o melhor operário
E todos os feixes por atar.
Por que hás de temer
O terrível clamor dos ventos?
To a child dancing in the wind
Dance there upon the shore;
What need have you to care
For wind or water’s roar?
And tumble out your hair
That the salt drops have wet;
Being young you have not known
The fool’s triumph, nor yet
Love lost as soon as won,
Nor the best labourer dead
And all the sheaves to bind.
What need have you to dread
The monstrous crying of wind?
YEATS, W.B. "To a child dancing in the wind" / "A uma criança que dança no vento". In:_____. Uma antologia. Seleção e trad. de José Agostinho Baptista. Lisboa: Assírio & Alvim, 2010.
8.11.18
Antonio Cicero: "Voz"
Voz
Orelha, ouvido, labirinto:
perdida em mim a voz de outro ecoa.
Minto:
perversamente sou-a
CICERO, Antonio. "Voz". In:_____. Guardar. Poemas escolhidos. Rio de Janeiro: Record, 1996.
6.11.18
Duda Machado: "De vez"
De vez
pôr de vez
uma pedra
sobre a palavra
perda
perder
a pedra
perder
perder
de uma vez
de uma vez
de uma vez
o quê?
MACHADO, Duda. "De vez". In:_____. Crescente. São Paulo: Duas Cidades, 1990.
4.11.18
Wisława Szymborska: "Vermeer": trad.: Regina Przybycien
Vermeer
Enquanto aquela mulher do Rijksmuseum
atenta no silêncio pintado
dia após dia derrama
o leite da jarra na tigela,
o Mundo não merece
o fim do mundo.
SZYMBORSKA, Wisława. "Vermeer". In:_____. Um amor feliz. Trad. de Regina Przybycien. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
2.11.18
Heinrich Heine: "Das Glück ist eine leichte Dirne" / "A Sorte é uma mulher vadia": trad. de André Vallias
A Sorte é uma mulher vadia
Que não se aquieta no lugar;
Te beija, abraça, acaricia,
Desaparece num piscar.
Senhora Azar é toda amor,
Te prende firme ao coração;
Diz não ter pressa e faz tricô,
Esparramada em teu colchão.
Das Glück ist eine leichte Dirne,
Und weilt nicht gern am selben Ort;
Sie streicht das Haar dir von der Stirn
Und küsst dich rasch und flattert fort
Frau Unglück hat im Gegentheile
Dich liebefest an's Herz gedrückt;
Sie sagt, sie habe keine Eile,
Setzt sich zu dir ans Bett und strickt.
HEINE, Heinrich. "Das Gluch ist eine leichte Dirne" / "A sorte é uma mulher vadia". In:_____. heine hein? Poeta dos contrários. Org. e trad. de André Vallias. São Paulo: Perspectiva: Goethe Instituto, 2012.