Da Amizade
Não é pelo saber nele encerrado,
mas sim pelo sabor da língua antiga
– qual num palimpsesto culinário,
na língua nova a língua traduzida:
os nomes próprios são especiarias,
Tibério, Caio Lélio, Cipião,
são como mariscos pescados nas ilhas,
aura e sal conservados no som –,
que a leitura do Da Amizade,
de Marco Túlio Cícero, o romano,
portanto é menos uma aprendizagem,
que um pequeno rito gastronômico:
é como se comêssemos um prato
envolto em naufrágios e segredos
– os cozinheiros estão todo mortos,
os livros, porém, guardam a receita.
BOSCO, Francisco. "Da Amizade". In:_____.
Da Amizade. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003.
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