13.2.15
Nobile José: "Topia"
Topia
Nossos bisnetos não vão saber quem foi Feliciano, nem Bolsonaro, nem Eduardo Cunha. Talvez a história que chegará a nossos descendentes será a narrativa da existência de um grupo cômico que achava graça em achar que todos deveriam se comportar como eles, mediante o uso da força estatal. Isso, no futuro, vai ser motivo de riso; anotem!
Ninguém se importará mais com a cabeleira do Zezé, e alguns cantarão a música, gargalhando.
Cor de pele vai ser igual cor de olho – como já é hoje, mas ninguém percebe: insistem no mito idiota da raça.
As religiões, se ainda existirem, serão privadas. E ponto.
Não existirão mais minorias porque não existirão mais maiorias.
Então ninguém mais vai dizer o que outra pessoa deve fazer; nem os “vovôs Simpsons” da época.
O mundo será diluído nas individualidades, e por isso, aprenderemos a lidar com outro como ele mesmo é, e não como gostaríamos que ele fosse. Mas não se enganem: pessoas unidas por um vínculo profundo continuarão se desentendendo; afinal, o acaso existe!
Finalmente entenderão Nelson Rodrigues e a autonomia da arte.
Uniões entre pessoas serão aleatórias, independente de gênero, podendo ser pares, trios, quadras, etc etc.
Pessoas serão trans-humanas, ou seja, além das alterações do próprio corpo (com supressão ou implantação de órgãos e partes), poderão ter alguma parte do corpo ligada a aparelhos, sendo que esses passarão a integrar sua constituição corpórea, e isso não será um 'grilo' (aliás, não existirá a palavra grilo como 'grilo').
Sim, nossos tataranetos acharão nossa época ridícula, como hoje nós achamos Luís XIV, Napoleão e Mussolini cafonas – ou como não entendemos como que existiu uma época em que as mulheres não podiam votar.
Os radicalismos acabarão por total ausência de identidades coletivas.
O sentido da vida estará na mão de cada um e sob sua total responsabilidade.
Ainda existirá culpa e desejo, mas teremos menos medo.
Nobile José
Que ótimo! Acho que vou adotar como uma espécie de "oração ateia". Obrigado por compartilhar, um abraço Cícero!
ResponderExcluirdo
Roberto Bozzetti
Um pouco mais, e seria Pasolini, bradando contra os babacas de outrora. Mas cada um tem seu estilo e Nobile é firme, dolorosamente sarcástico.
ResponderExcluirÉ um texto para ser lido, e merece atenção. Reflexão. E, obviamente, sei que seu autor preferia não o ter escrito, pois a ironia resulta como antídoto para combater a Peste humana...
Sabe qual é Nobile? É que "as pessoas nas sala de jantar/ estão ocupadas [apenas] em nascer e morrer..." É um texto mantra ou uma "oração desacreditada", como bem aludiu o Roberto Bozetti.
Abraços
Arsenio Meira Júnior
Ps-Abraços ao Cicero.
Ps2- Pernambuco me mata de vergonha. Dois gays foram agredidos há dois dias por dois "policiais militares", porque se beijaram em Olinda, "cidade patrimônio histórico da humanidade". Isso é infame, e devastador. Quem disser que é exagero meu, que vá... Bem vocês sabem.
Cicero,
ResponderExcluirótimo texto! Grato por compartilhar!
Abraço forte!
Adriano Nunes
Texto incrível!!!
ResponderExcluirParabéns Nobile pelas palavras!!
Bjs, Luana