Como se sabe, o mesmo poema pode ser traduzido – “transcriado”,
dizia sabiamente o saudoso Haroldo de Campos – de muitos modos diferentes. Cada
transcriação de um mesmo poema é um poema novo. E nada impede que um mesmo
poema tenha ensejado mais de uma excelente transcriação.
Assim, já tive
oportunidade de publicar aqui uma bela transcriação, feita pelo Oleg Almeida, do
poema “Amor”, de Mikhail Kuzmin. Agora, Alexander Zhebit, do Instituto Cultural
Brasil – Rússia, acaba de me enviar outra bela transcriação do mesmo poema,
feita por Valério Pereliéchin e H. Marques Passos, explicando que Pereliéchin,
que foi um poeta russo que chegou ao Brasil em 1952, vindo de Xangai, e faleceu
em 1992 no Rio de janeiro, “foi reconhecido pelos círculos intelectuais e
críticos no Exterior Russos (imigrantes da União Soviética) como um dos maiores
poetas russos no Hemisfério Ocidental” E adiciona: “Com o arquivo dele tive o
prazer e a honra de trabalhar em 1993-1994”.
Agradecendo
a Alexader Zhebit, reproduzo o poema de Mikhail Kuzmín, na transcriação de
Valério Préliéchin e H. Marques Passos:
Amor
Quando te
encontrei pela primeira vez,
não me
lembra a frágil memória
se era manhã,
ou dia,
ou tarde, ou
noite profunda.
Só me
lembram as faces empalecidas,
os olhos
cinzentos sob as sobrancelhas escuras,
a gola azul
rente à nuca morena,
e me parece
ter visto tudo isso na tenra infância,
embora eu
seja muito mais idoso do que tu.
É Cícero: a beleza é um momento, um breve momento e nada mais... abç
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