28.10.13

Carlos Pena Filho: "As dádivas do amante"






As dádivas do amante


Deu-lhe a mais limpa manhã
que o tempo ousara inventar.
Deu-lhe até a palavra lã,
e mais não podia dar.

Deu-lhe o azul que o céu possuía
deu-lhe o verde da ramagem,
deu-lhe o sol do meio dia
e uma colina selvagem.

Deu-lhe a lembrança passada
e a que ainda estava por vir,
deu-lhe a bruma dissipada
que conseguira reunir.

Deu-lhe o exato momento
em que uma rosa floriu
nascida do próprio vento;
ela ainda mais exigiu.

Deu-lhe uns restos de luar
e um amanhecer violento
que ardia dentro do mar.

Deu-lhe o frio esquecimento
e mais não podia dar.




PENA FILHO, Carlos. Livro geral -- poemas. Org. e seleção de textos por Tânia Carneiro Leão. Recife: Liceu, 2004.

2 comentários:

  1. Cicero,


    considero Carlos Pena Filho um dos grandes. que poema belo! Grato por compartilhá-lo.


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  2. Fantástica poesia de um grande homem Pernambucano. Parabéns por disponibilizar! Abraço de Roberto Solano

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