24.10.13

Carlos de Oliveira: "O viandante"






O viandante

Trago notícias da fome
que corre nos campos tristes:
soltou-se a fúria do vento
e tu, miséria, persistes.
Tristes notícias vos dou:
caíram espigas da haste,
foi-se o galope do vento
e tu, miséria, ficaste.
Foi-se a noite, foi-se o dia
fugiu a cor às estrelas:
e, estrela nos campos tristes,
só tu, miséria, nos velas.



OLIVEIRA, Carlos de. Mãe pobre. Coimbra: Coimbra Editora, 1945.

2 comentários:

  1. AΠΕΙΡΟΝ
    O abutre abissal abre as asas — leque
    suspenso sobre as telhas. Essas luzes
    poluindo as águas com seus reflexos,
    são estrelas — espectros de obuses.
    Essa foice que atravessa o mar (fim
    de todo rio, fonte do cardume
    de nuvens) é a lâmina de marfim,
    lua afiada pelo fio — o lume
    já tão pálido e póstumo do sol.
    Ó terrível galeão espanhol
    submetendo o mundo à sua coroa
    de cores, essa juba de leão
    na altura do farol. Que seja vão
    tudo o que brilha. Sim, que brilhe à toa.

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  2. Cicero,

    poema belo! Grato por compartilhá-lo!


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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