A CABRA
Cabra de Picasso, lição de metamorfose:
de como um cesto vira barriga
duas cabaças viram úberes
cepos de parreira viram chifres
argila e ferro viram pernas e pés
folhas de palmeira viram pelos
lata dobrada vira sexo
um pedaço de cano vira ânus
de cabra
de como lixo vira bicho
Cabra de Picasso: arremedo de cabra
que nos mostra a cabra
cabra mais que cabra
cabeçuda apojada prenha
mais cabra que todas
as cabras
arcaica arquetípica
terrestre terrena
artefato sem artificio:
— de esqueleto à mostra
GULLAR, Ferreira. Relâmpagos [dizer o ver]. São Paulo: Coscnaify, 2003.
Pablo Picasso: La Chèvre (Musée Picasso, Paris)
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ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluireu excluí o comentário anterior porque, quando o reli, havia um erro. Tinha-o escrito, com pressa. Desculpe-me. O que eu queria dizer é que o poema é tão belo que parece que a beleza está, ela mesma, toda imersa no poema.
Abraço forte,
Adriano Nunes
A cabra de Picasso
ResponderExcluire a poesia que a veste:
Gullar, cabra e Picasso,
que três cabras da peste!