7.3.13
O pastor Marco Feliciano recolhe dízimos
Convido os amigos que tiverem estômago a assistir a um vídeo que mostra de que modo o pastor-Presidente da Assembleia de Deus, Marco Feliciano (PSC – São Paulo), recolhe (para usar um eufemismo) dízimos dos fiéis de Ribeirão Preto:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=35bnmSimN9Y#!
Marco Feliciano que, apesar de racista (já declarou que “os africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato”) e homofóbico (já declarou que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”), foi -– por uma sórdida articulação política entre o deputado e integrante da bancada evangélica Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB na Câmara, e um acordo de bancadas da Casa -- indicado para ser Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Trata-se de mais um episódio a confirmar que, lamentavelmente, a Câmara não mede eforços para se tornar cada vez mais desmoralizada.
tive que segurar o estômago mesmo... muito triste momento.
ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluirum ensaio meu:
"Ensaio sobre o despotismo das crenças"
Que existam pessoas submissas a crenças e a dogmas desumanos, que aparentem usar bitolas, que não consigam ver além do que querem (será que querem?), que sejam subjugadas pela cegueira a que se submetem, que prefiram ser servas da burrice e da condição de acreditar que um milagre é algo que pode ser ofertado numa cerimônia religiosa às custas de dinheiro, dízimo ou qualquer meio econômico, que há guias para conduzi-las ao paraíso, que há mestres de cerimônia em contato direto com o Deus Supremo, pilantras, fantoches, mafiosos que se aproveitam da humildade e das fraquezas alheias, do desespero do homem frente à vida, - que não é fácil, sabemos, mas pode ser tecida pelas cores de todas as virtudes, sobretudo, as do amor, da bondade e da verdade - posso , mesmo relutando contra isso, ainda aceitar. Porque sou capaz de aceitar as decisões de outrem. O que é inadmissível é delegar a alguém certos poderes, sendo esse alguém o protótipo do lado podre da vida, o lado mesquinho e aproveitador, um estelionatário da verdade, da imensidão da existência, entregar a um falsário o poder de decidir sobre questões importantes que se referem às minorias, aquelas minorias que estão quase sempre dadas ao esmagamento social, ao descaso público e privado, ao trator dinâmico do desprezo e do preconceito. É inadmissível que tenhamos postos deputados para que decidam por nós, para a melhoria coletiva e que esses mesmos deputados barganhem o destino de muitos, sem pesar o amanhã, como se dessem a um moralizador a chance de ele impor a sua verdade, a verdade que só a ele é digna, a verdade distorcida, maculada, sub-reptícia . Entregar o cargo de presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara ao deputado Marco Feliciano fere no cerne o povo brasileiro, dilacera a esperança viva, nítida, necessária, de igualdade garantida pela Constituição Brasileira! Não podemos aceitar essa empreitada política, esse arranjo repugnante que viola o direito de sermos todos felizes e, sim, semelhantes, sem distinção de coisa alguma. E, ao mesmo tempo, diferentes, para que possamos compreender gratuitamente as nossas diferenças. E, acatá-las, amá-las, sem repressões, sem juízos destituídos de razão.
Abraço forte,
Adriano Nunes
Nesses tempos, digamos, "pastorais" ver/ouvir:
ResponderExcluirhttp://youtu.be/QBDQgbEW-pA
(Afonso)
Caros Cicero, Adriano e demais,
ResponderExcluirAcabo de ler um texto maravilhoso, de Contardo Calligaris ("A sedução totalitária" in: "Clínica do Social: Ensaios". São Paulo: 1991). Segundo Contardo me informou, o texto é um fragmento de sua tese de doutorado, tese esta que ele pretende revisar este ano e lançar o ano que vem, pela Companhia.
Contardo, na obra referida, cuida da perversão enquanto patologia social e não sexual. Tomando como guia Albert Speer, que, como é cediço, foi o primeiro arquiteto de Hitler e depois ministro dos armamentos do Reich, o autor tenta responder como o nazismo foi possível e lança a seguinte hipótese: o que aconteceu foi decorrência “do interesse e da paixão humana em sair do sofrimento neurótico banal, alienando a própria subjetividade, ou melhor, reduzindo a própria subjetividade a uma instrumentalidade” (p. 110).
De acordo com Contardo, esta paixão, que ele chama “a paixão da instrumentalidade” ou a “paixão de ser instrumento”, parece ser uma tendência inercial de qualquer neurótico.
Analisando uma neurose exemplar, qual seja, “a incerteza do querer”, o autor afirma “muito sinteticamente” que “o neurótico se organiza ao redor da tentativa de se proteger desesperadamente de um impossível”. Tal “impossível” seria, no caso, não ser possível saber o que de fato se quer. Para proteger-se desta impossibilidade, o neurótico recorre à instância paterna (que não é necessariamente “o pai”, mas sim uma referência, cujo saber suposto valida e justifica a função paterna).
Segundo pude depreender do texto, a relação com a instância paterna pode ser de duas formas: como sujeito ou como objeto (instrumento).
Na primeira, há uma relação de “interrogação perplexa”, onde o neurótico que todos somos “é condenado a uma ignorância sobre o que quer e à perplexidade sobre o que fazer”.
Na segunda, para sair daquela perplexidade, optamos por “abdicar a própria singularidade de sujeito, aliená-la, construindo – de preferência coletivamente – um SEMBLANTE de saber paterno que por isso mesmo seja sabido e compartilhado. Que isso nos garanta a certeza nos atos e a prática possível de uma fantasia comum é o prêmio da operação. O seu custo é a transformação do sujeito em INSTRUMENTO do saber assim estabelecido” (p. 112, grifos originais).
Contardo sustenta que, por ser um “semblante”, esta saída do sofrimento neurótico de não se saber o que se quer é um “fracasso”. Fracasso não porque ao semblante de saber faltaria uma “não sei qual dignidade epistemológica, mas porque um semblante sempre e necessariamente persegue a difícil tarefa de demonstrar que não é um semblante”.
[segue]
[2a Parte]
ResponderExcluirMas como demonstrar que não é um semblante? De duas formas.
A primeira é estender, difundir o semblante, o que pode inclusive levar à morte ou à prisão de quem não aceite o nosso semblante, já que “sujeitos que não reconheçam o saber que estamos compartilhando, que não aceitem funcionar como seus instrumentos, comprometem intoleravelmente o nosso semblante” (p. 113).
A segunda é a alienação total, integral, do sujeito à sua posição instrumental. Em suma, para demonstrar que o seu saber não é um semblante, o neurótico que optou pela saída perversa aqui mencionada quer instrumentalizar todos os demais sujeitos e o sujeito todo.
Como dito antes, essa saída perversa é uma tendência inercial de todo e qualquer neurótico, ou seja, de TODOS NÓS. Contardo chama a isso de “inércia totalitária” e diz que ela é ordinária da vida social, presente no laço associativo, na micro (amizade, casamento, família, igreja etc.) e na macro associação (Estado).
O autor afirma (e eu com ele) que não está fazendo uma crítica absurda de qualquer laço associativo. Segundo Contardo (com quem eu concordo, novamente), “o ideal político nunca é mais do que a procura de um equilíbrio instável entre uma alienação necessária para a vida social e a resistência à sua inércia totalitária” (p. 116).
Bom, como já devo ter cansado a todos por aqui, volto depois para responder a pergunta que deve ou não estar pairando no ar: o que Marco Feliciano tem a ver com isso?
Por ora, o que me interessava era somente fazer uma explanação rápida do pensamento de Contardo – que é mais complexo do que o exposto aqui – e lançar a seguinte reflexão: vc já foi instrumentalizado?
Forte abraço a todos!
Aetano
Aetano (e todos q se encontram por aqui),
ResponderExcluircurioso é q dia desses questionei a Cicero sobre a compatibilidade da apócrise com a psicanálise, justamente por quando em vez me deparar com esses “nós”, essas generalizações “universais” sobre o comportamento do sujeito, como: “essa saída perversa é uma tendência inercial de todo e qualquer neurótico, ou seja, de TODOS NÓS.”.
Esse ultimo texto dele, sobre a tortura (07.03.2013, na Folha), me chamou bastante a atenção. Que Pondé tenha falado que os EUA não poderiam se dar ao luxo de não torturar terroristas, não vi nenhuma novidade. Mas quando Contardo afirma que “os de Kant a Rawls” são formalistas, e portanto, também seguiriam uma cartilha, percebi que ele não concorda com a existência de um absoluto negativo. Segundo ele, estaríamos “presos” ao foro íntimo, fato esse que inviabiliza a existência de uma ética universal. Para o psicanalista italiano, “quem escolhe são os indivíduos concretos, em toda sua miséria. Há, aliás, uma certa grandeza humana na desproporção entre o caráter "indigno" do que nos motiva e o caráter eventualmente grandioso e generoso de nossos atos.”
Bom, esse pensamento, levado às últimas consequências, pelo menos em tese, me permitiria impor “verdades do meu foro íntimo aos demais cidadãos”, desde que eu fosse maioria, ou apenas detivesse poder político. E isso é o que um “deputado-evangélico” (leia-se: um deputado que faz política com esse propósito de pregar-o-evangelho-a-toda-criatura) quer, não?
Mas se Contardo estiver certo quando afirma que “o ideal político nunca é mais do que a procura de um equilíbrio instável entre uma alienação necessária para a vida social e a resistência à sua inércia totalitária”, cabe ao Estado Moderno (moderno conforme esclarecido pelo Cicero em seu ensaio O Mundo Desde o Fim) garantir a segurança de todos os cidadãos (garantir um equilíbrio estável) quando um sujeito resolve não resistir mais a essa inércia totalitária, se “desaliena”, e parte para o ataque. (Será que não residiria aí aquele velho chavão de que os loucos é que dizem a verdade? rs)
Respondendo a sua pergunta: sim, já fui instrumentalizado, e muito. (Risos) Na primeira comunhão, no Partido dos Trabalhadores, em toda Copa do Mundo; logo no início, quando comecei a trabalhar no Ministério Público, etc etc. Mas nunca me rendi a times de futebol estaduais – ali é tudo muito evidente, não? Kkkk
Por fim, os inimigos da sociedade aberta são muitos e perigosos; e reagem de forma violenta quando percebem que seu INSTRUMENTO já quebrou...
E pra terminar: quem vai colar os tais caquinhos?
Abrçs!
Cícero, há tantos vídeos de teor semelhante, não só desse pastor, mas de tantos outros, que parece não haver saídas. Uma tragédia nacional!
ResponderExcluirDevemos lembrar que este "pastor" é da base de apoio do governo Dilma. Devemos lembrar que o Vice Presidente de Lula, durante oito anos, foi membro do partido do "bispo" Macedo. E Dilma nomeou para presidir a Comissão da Verdade um fundamentalista religioso que durante o governo Lula entrou no Supremo com uma ação para proibir as pesquisas de células-tronco no Brasil! Logo, o que temos que denunciar é a busca do voto fácil através da exploração da fé popular que sustenta o poder atual.
ResponderExcluirLázaro Lokovaks
Caro Nóbile.
ResponderExcluirSegue a minha resposta:
1. A generalização que vc aponta é minha, não se encontra no texto abordado. O que Contardo afirma é que o "sintoma social dominante" é o neurótico. Pode-lhe parecer igualmente uma generalização, mas, para mim, isso não importa muito. Com efeito, desde a leitura de "O mundo desde o fim" que aprendemos com Cicero que não há positividade absoluta. Sendo assim, a psicanálise (e NENHUMA outra teoria) pode arrogar-se o direito de ter conclusões positivas universalmente válidas, quer dizer, absolutas. Não havendo positividade absoluta, a mim me importa mais o valor prático de uma teoria que o seu suposto valor teórico. Isto é, mais relevante pra mim é a lição ética de uma teoria que a sua infalibilidade lógica, infalibilidade esta que, de resto, como Cicero demonstra, é positivamente inatingível. Eu retiro das leituras de Cicero e de Contardo lições de tolerância e de respeito às liberdades.
2. Não vejo muita diferença entre quem diz que não há positividade absoluta e quem afirma que o neurótico, optando por ser sujeito, permanece numa "interrogação perplexa de um saber que nunca será sabido". Note que o "perverso social" é justamente o sujeito que toma uma positividade como sendo absoluta e, a partir daí, quer instrumentalizar todas as subjetividades e as subjetividades todas. Espero que vc entenda, Nóbile, que aqui não foi possível transcrever o texto integral, razão por que naturalmente a complexidade do texto se perde. Eis aqui algo não dito por mim e que se encontra no fim do aludido texto: "talvez seja ainda mais difícil e fatalmente irrisório tomar a defesa da psicanálise como alternativa à neurose, e mais propriamente como alternativa à saída da neurose do lado da perversão" (p.118). Ou seja, Contardo não endossa a ideia de que a psicanálise seja uma positividade absoluta.
[segue]
[2a parte]
ResponderExcluir3. A possibilidade de uma "ética universal" não foi resolvida por Antonio Cicero, como vc parece acreditar. Mas se essa crença lhe agrega valor ético, pra mim tudo bem. De todo modo, não concordo com a sua interpretação do último artigo de Contardo. Não vou esmiuçar minha discordância porque não quero abusar desse espaço, mas qualquer leitura instrumentalizadora dos textos de Contardo, pra mim, são ilegítimas (não veja nisso uma ofensa, caro Nóbile). O que quero dizer é que Contardo - curiosamente baseado em Kant - apela para o foro íntimo, para uma moral autônoma, em contraposição à moral heterônoma das cartilhas. Sendo assim, não há como afirmar, ao menos para mim, que o pensamento dele deságua numa moral heterônoma do tipo que impõe "verdades do foro íntimo aos demais cidadãos”.
4. Não penso que o tal "equilíbrio estável" - na acepção que vc dá à expressão - possa ser atingido e, ainda que isso pudesse ser atingido, não vejo como o Estado pudesse viabilizar tal objetivo. Mais ainda: a estabilidade - no sentido calligariano - só é atingida com a instrumentalização da subjetividade. O sujeito embarca nessa justamente porque não suporta a instabilidade de não saber o quer, o que fazer e de não ter nenhuma positividade absoluta que lhe possa servir de consolo. Essa instabilidade é produto da modernidade (mas não do Estado moderno), que foi a instauradora da incerteza do querer, transformando, assim, o sintoma social dominante, antes perverso, em neurótico. A modernidade liberou o ser humano de "comunidades" instrumentalizadoras: a família, a igreja, o estamento etc, assim como de papéis instrumentalizados (o de mulher, por exemplo). Defendo que essa é também uma diferença entre uma sociedade aberta e uma sociedade fechada. Ao mostrar esse meu argumento a Contardo, ele expressou concordância, ressalvando o ressurgimento de fenômenos totalitários.
5. Mas o que tem Marco Feliciano a ver com isso? Tem tudo a ver. Explico: no livro "Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a ressurreição" (Planeta, 2011), Ratzinger afirma, acerca de Jesus: "Como filho, nada faz por Si mesmo, mas age TOTALMENTE a partir do Pai e para o Pai" (p. 43, e-book, grifei); noutra passagem, na mesma página, o então Papa afirma que a expressão "os pequeninos" tornou-se a "própria designação dos crentes, da COMUNIDADE dos discípulos de Jesus. Na fé, estes encontram o modo autêntico de ser pequeninos, que reconduz o homem à sua VERDADE" (grifei). Sendo assim, penso que a própria cultura cristã, da qual somos herdeiros, está fundada "na redução da subjetividade a uma instrumentalidade" - somos "crianças", "pequeninos", diante de um Pai que dirá o que queremos e o que devemos fazer. Foi assim que Cristo se comportou - fazendo a vontade do "Pai". Nesse sentido, a paixão de Cristo - o maior ídolo da cultura mencionada -, talvez seja o mais acabado exemplo daquilo que Contardo chama de "paixão da instrumentalidade". Sim, o cristianismo, como defende Chesterton, é paradoxal. Sim, todas as religiões são paradoxalmente instrumentalizadoras. Sim, eu sou cristão. Sou?
Forte abraço!
Aetano
http://www.avaaz.org/po/petition/Imediata_destituicao_do_Pr_Marco_Feliciano_da_Presidencia_da_Comissao_de_Direitos_Humanos_da_Camara_Federal/?bNXFqdb&v=22810
ResponderExcluirPetição para destituição de Marco Feliciano.
Divulguem.
"Nietzsche disse que o cristianismo era uma platonismo para o povo. Pois bem, eu digo que o marxismo é um cristianismo acadêmico."
ResponderExcluir(Jeremiaz, o filósofo)
Aetano,
ResponderExcluirSempre um prazer papear com você.
1. Adoro os textos do Calligaris, principalmente quando ele aborda questões ligadas à psicanálise. Mas discordo dele quando o assunto migra para questões políticas; acho que a psicanálise deve entrar com muito cuidado (se é que deva entrar mesmo!) em questões relativas ao papel do Estado.
2. Não deixei clara a diferença entre o pastor e o Calligaris, e de fato, devo esclarecer. O pastor faz uma catácrase anabásica (acredita que seus valores são absolutos), e Calligaris, ao que me parece, faz uma catácrase catabásica (não há absoluto, logo, tudo é relativo). Então, quando Contardo direciona seus estudos ao sujeito, suas perplexidades, sua constituição subjetiva, à neurose (no caso, como uma constituição moderna do sujeito, vez que regida pela dúvida) acho tudo muito interessante. E analisando o conjunto do texto – o que em Direito costumamos chamar de interpretação sistemática (risos) – quando Contardo afirma que é mais livre quem pode decidir a partir do foro íntimo ao invés de seguir uma cartilha, acaba ele por confirmar a apócrise. Só faltou a ele reconhecer no Estado o papel de garantir a realização desse desejo de foro íntimo – desde que tal desejo não limite o desejo de outrem. Aqui entra Kant, cujo princípio universal do direito é perfeitamente compatível com a apócrise. E sinceramente, não acho que isso seja uma questão de crença – pelo contrário, é justamente uma ausência de crença.
3. Esse pastor na Comissão de Direitos Humanos entra em cena com a tarefa de tentar promover o fechamento da sociedade. Tem como alvo principal, ao que parece, atacar os direitos dos homossexuais, e em segundo plano, todos aqueles direitos que não restem confirmados sua cartilha.
4. Esse movimento de repúdio aos direitos dos gays não é de agora, e a reação, ao mesmo tempo ridícula, é perigosa. A entrevista daquele outro pastor para Marília Gabriela, a tentativa de fazer o CFP reconhecer a homossexualidade como doença, e portanto oferecer uma cura, são apenas algumas das inúmeras formas que tais zelotes vem tentando proibir algo que sequer é da conta deles.
5. Os efeitos, seja de uma catácrase anabásica, seja de uma catácrase catabásica, são muito parecidos, pois visam fechar a sociedade, seja vinculando o Estado a uma cartilha, seja vinculando o Estado aos desejos de uma suposta maioria. Se há muito não me interessam as cartilhas, tampouco estou preocupado com o foro íntimo alheio. E o Estado DEVE me proteger da fúria desse foro-íntimo-coletivo. Argumentar o contrário é referendar a barbárie.
6. Li muito pouco de psicanálise e de filosofia. Mas pra mim é clara a distinção entre: a) a subjetividade do sujeito diante das questões que a vida lhe apresenta, topos aonde impera a ética do desejo, e portanto, um choque entre racionalidade e irracionalidade (daí o equilíbrio instável); e b) a objetividade do Estado, que deve ser regido pela ética universal do direito, devendo passar incólume às contingências coletivas ou de foro íntimo.
7. Mesmo que legisladores sejam irracionais, que juízes sejam irracionais, etc etc, o Estado não pode sê-lo, sob pena de confirmar-se a barbárie. Por isso o exemplo do Contardo me incomodou: ao usar uma criança sequestrada, logo penso: e se fosse meu filho? Eu torturaria? Pior: talvez eu entendesse o policial que, ao me devolver meu filho, me confessasse a tortura. Talvez ele até me dissesse: eu também tenho filhos, sei como é... Perigoso, não? Certamente é o que pastores dizem ao seu rebanho, ao atacar a homossexualidade: e se fossem seus filhos?
8. Por fim, já que mixamos Direitos Humanos, psicanálise, homossexualidade e filosofia, vale a pena dar uma lida nesse artigo de Acyr Maya, que analisa como a noção psicanalítica de homossexualidade é significada pelos analistas pertencentes à Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ). Tomei um susto. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382007000200006
9. Forte a braço a todos!
Caro Nóbile,
ResponderExcluirde fato a conversa está boa, mas não quero “flodar” a caixa de comentários deste blog, de modo que tecerei minhas últimas considerações. Se vc pretender dar continuidade ao papo, segue o meu e-mail: aetano10@gmail.com
Sobre o seu ponto 1: Discordo. A questão da autoridade é uma questão psicanalítica, seja a autoridade do pai, seja a autoridade do Estado. Veja “Totem e Tabu”, de Freud. Além disso, os textos metapsicanalíticos de Freud são extraordinários. “O mal-estar na civilização” certamente está entre os livros mais influentes do século XX.
Sobre o seu ponto 2: Contardo não diz que tudo é relativo. Considere que o texto dele não é epistemológico, mas sim psicanalítico. Sim, como eu já disse, há muitas convergências entre o pensamento de Cicero e o de Contardo. Contudo, vc me parece estar utilizando a sua leitura do pensamento de Cicero para impugnar o pensamento de Contardo. Não vejo como vc possa fazê-lo sem desfigurar o texto de Contardo.
[segue]
[2a parte]
ResponderExcluirConcordo com os seus pontos 3 e 4, tenho ressalvas ao seu ponto 5 e sobre os seu pontos 6 e 7, não compartilho dessa sua fé no Estado. Vc fala do Estado como se ele fosse um ente dotado de vida própria e independente da vontade e dos interesses dos seus legisladores e juízes. Esse erro já foi cometido por Rousseau e denunciado por muitos, entre os quais, Benjamin Constant:
“Assim, pode-se reconhecer como da sociedade apenas aqueles direitos que o governo pode exercer sem se tornar perigoso. Sendo a soberania uma coisa abstrata, e a coisa real o exercício de tal soberania, isto é, O GOVERNO, sendo necessariamente delegada a seres de natureza bem diferente da do soberano, uma vez que ELES NÃO SÃO COISAS ABSTRATAS, precisamos tomar medidas acauteladoras contra o poder soberano POR CAUSA DA NATUREZA DOS QUE O EXERCEM, da mesma maneira que as tomaríamos no caso de uma arma excessivamente poderosa que pudesse cair em mãos não-confiáveis.” (Constant, Benjamin. “Princípios de Política aplicáveis a todos os Governos”. Tradução de Joubert de Oliveira Brízida. - Rio de Janeiro: Topbooks, 2007, p. 63, grifei)
Sobre o seu ponto 8: é lamentável a visão esposada pela maioria dos analistas da SBPRJ, com a qual, tenho certeza, Contardo não concorda.
Forte abraço, Nóbile, foi um prazer.
Aetano
http://www.youtube.com/watch?v=t11JYaJcpxg&feature=share
ResponderExcluirCicero, este é um vídeo de humor, mas tem a ver com o tema e acho que vai gostar.
É engraçado mesmo, Erick.
ResponderExcluirAbraço
O PASTOR que não consegue seguir com a OBRA DE DEUS em sua igreja, nos dias atuais, sem A PRATICA DA COBRANÇA DO DÍZIMO. Só tem uma resposta. A Igreja que ele pastoreia, não é do PLANO DE DEUS, e não é da vontade de DEUS, pois se fosse de fato uma CASA DE ORAÇÃO como diz DEUS em sua PALAVRA, DEUS mesmo SUPRE a sua CASA DE ORAÇÃO de todas as NECESSIDADES, pelas OFERTAS DE AMOR de suas próprias OVELHAS. Ao que ganhe mais ELE DEUS coloca no coração OFERTAR MAIS. Ao que ganhe menos ELE DEUS coloca no coração, OFERTAR MENOS. E a ninguém, nem ao que ganha MAIS, e nem ao que ganhe MENOS, e nem a CASA DE ORAÇÃO, faltará coisa alguma. DEUS é o DONO DO OURO E DA PRATA. Alguém DUVIDA disso? Hoje igrejas as atuais igrejas, são abertas aos montões, a cada esquina abre-se uma, mais será que a FINALIDADE é a SALVAÇÃO DAS ALMAS, ou a finalidade é só o LUCRO FÁCIL. MEDITEM NISSO. DEUS não se deixa escarnecer.
ResponderExcluirMeu email. alonsocarrera@hotmail.com
Malaquias: Chega de Brincar de Religião!
ResponderExcluirNas nossas Bíblias, Malaquias é o último livro do Antigo Testamento. O nome deste profeta quer dizer “meu mensageiro”, significado que bem descreve sua missão de comunicar uma das últimas mensagens do Senhor ao seu povo antes da chegada de Jesus Cristo. Malaquias foi escrito aproximadamente 400 anos a.C., mais ou menos um século depois da volta dos judeus do cativeiro na Babilônia.
Neste livro, o profeta trata de alguns dos mesmos problemas enfrentados pelos seus contemporâneos: Esdras e Neemias. Malaquias combateu a negligência e a hipocrisia, mesmo dos líderes religiosos. Confrontou o desprezo demonstrado pelo povo dos princípios divinos para o casamento. Criticou a mesquinharia de um povo que se preocupava com seu próprio bem-estar material enquanto negligenciava suas responsabilidades para com Deus.
Malaquias inclui, porém, uma mensagem esperançosa que olha para a vinda do Messias. Este profeta, como Isaías havia feito 300 anos antes, falou da vinda de João Batista para preparar o caminho do Cristo. Ele comparou João a Elias, um profeta do Antigo Testamento com algumas características parecidas.
Este pequeno livro trata dos seguintes assuntos:
Capítulo 1 chama atenção do povo judeu por não ter retribuído ao Senhor a honra e amor que ele merece. Especialmente, Deus condena as práticas dos sacerdotes que deveriam ter dado para Deus as primícias, mas ofereciam sacrifícios inferiores.
Capítulo 2 continua a crítica dos líderes religiosos, mostrando sua negligência em abandonar as obrigações dos descendentes de Levi e mostrar a santidade diante do Senhor e instruir o povo sobre a grandeza de Deus. No mesmo capítulo encontramos uma das mais fortes repreensões na Bíblia da prática do divórcio, comparando a quebra desta aliança à violência. Esta infidelidade é motivo do Senhor rejeitar a adoração das pessoas que não cumpriram seus votos matrimoniais.
Capítulo 3 prediz a vinda de um mensageiro para preparar o caminho do Senhor, uma profecia aplicada a João Batista e seu trabalho como precursor de Jesus. Neste capítulo, também, ele fala de um problema nas práticas religiosas da época, criticando os judeus que não davam os dízimos que a lei do Antigo Testamento exigia.
Capítulo 4 encerra o livro como uma nota final de esperança para o povo do Senhor. Comenta de novo do mensageiro que ajudaria o povo a voltar e se converter ao Senhor para evitar a rejeição total.
O livro de Malaquias é citado com grande frequência nas pregações dos dias atuais. Os defensores da teologia da prosperidade frisam alguns versículos, especialmente a ordem de Deus sobre os dízimos em Malaquias 3:10, para ensinar que as pessoas que dão o dízimo com fidelidade serão abençoadas materialmente. O aluno cuidadoso perceberá o erro deste argumento, pois a ordem e a promessa de Malaquias fazem parte do sistema do Velho Testamento, uma aliança temporária entre Deus e o povo judeu. Nas passagens do Novo Testamento que falam sobre o dinheiro das igrejas, encontramos instruções de dar conforme a prosperidade de cada um, sem estipular uma porcentagem obrigatória (1 Coríntios 16:2; 2 Coríntios 9:7).
Se vamos aproveitar alguma lição de Malaquias para as igrejas de hoje, ajudaria refletir sobre o princípio ensinado no primeiro capítulo do livro. Quando Deus viu a falta de santidade e de dedicação por parte dos adoradores daquela época, ele falou que seria bom se alguém fechasse as portas do templo para não permitir a adoração insincera (Malaquias 1:10). Em outras palavras, ele pediu para parar de brincar de religião. Ou faça o certo, ou feche as portas!
Meu: email.alonsocarrera@hotmail.com