Nihil
nada sustenta no nada esta terra
nada este ser que sou eu
nada a beleza que o dia descerra
nada a que a noite acendeu
nada esse sol que ilumina enquanto erra
pelas estradas do breu
nada o poema que breve se encerra
e que do nada nasceu
CICERO, Antonio. Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012.
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ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluirum belíssimo poema, muito amplo em sentidos e imagens, contrastando com próprio canto do nada. E eis a prova de uma grande criação poética: Todo feito de decassílabos intercalados por redondilhas maiores. E mais: Decassílabos todos com marcação na sétima! Viva! Por este e por todos os poema que há em "Porventura é que, como já afirmei antes, "Porventura" é um dos mais belos livros que já li e que me inspira tanto! Grato por você existir em minha vida!
Abraço forte,
Adriano Nunes
Fantástico. Com a devida vênia, repostei em meu tumbrl.
ResponderExcluirAbçs
Cicero, desde que comprei o seu Porventura este poema não deixa de ressoar em minha mente. Nihil hoje está em cada célula, em cada ribossomo de neurônio meu e, vez por outra, me pego declamando-o em voz baixa, internamente como um mantra. É triste e engraçado como a tragédia do nada foi incorporada com prazer no meu cotidiano. Te agradeço o presente, a métrica perfeita de Nihil, que se faz viva e que gera vida em mim. abraço, Luis Ludmer
ResponderExcluirQuerido poeta Antonio, sou fã de teu trabalho e acompanho teu blog, minha dose diária de inspiração e belezas. Estou tendo a ousadia de enviar um poema, também foi gravado em vídeo pelo ator Carlos Eduardo Valente.Um grande abraço José Couto
ResponderExcluirO Templo
eu penso no hálito de gim e café frio
do solitário cafetão sifilítico
quando vejo a magreza das meninas
contabilizando minguados michês
de seus corpos ocres de não tempo
eu penso no odor do liberal
em sua singela sinceridade
distribuindo moedas
nos semáforos do tempo interrompido
um desolhar de revés
tempo desassossegado fluindo indo in
eu penso no êxtase de jimi rendrix compondo little wing
o ácido no pico exercendo a não liberdade
quando ouço um acorde dissonante ou iluminado
transmutando-nos em seres delicados altruístas
ressignificando perversas desumanidades
eu penso em charles baudelaire
alucinado de ópio e insight desfigurado
reescrevendo a modernidade
"é que nossa alma arriscou pouco ou quase nada."
quando escrevo o que minha anima inspira
nessas horas onde o tempo germina
auroras luminosas de nossa impermanência
um desolhar de revés
tempo de sincronicidade
relâmpagos dissipando-se em silêncios
José Couto
https://youtu.be/2-dm6_YQTsI
Obrigado, José Couto. Gostei muito do seu poema e da leitura feita pelo Carlos Eduardo Valente.
ResponderExcluirAbraço