A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
BILAC, Olavo.
Tarde. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1919.
Cicero,
ResponderExcluirmuito obrigado por postar esse belíssimo soneto!
Abraço forte,
Adriano Nunes
Olavo: tornou-se odiado e banido.
ResponderExcluirE, claro, não mais lido.
É "difícil"? Ora, me poupem. Este soneto mesmo explica tudo.
Confesso que este é o primeiro poema de Bilac que leio em que não há aquele excesso de impostação da qual se ressentem alguns de seus poemas.
ResponderExcluirE, ademais, aquilo que nele se apresenta como conteúdo se dá em total harmonia com a própria forma do poema.O ritmo é claro, fluido.
Enfim, é um belo poema.
Então, Bruno, segue um outro poema de Bilac - a meu ver ainda melhor do que este postado pelo Cícero - em que ele também foge das convenções do gênero parnasianista para compor um trabalho singelo e sensível:
ResponderExcluirNel mezzo del camin... (Olavo Bilac)
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo
Pouco lido, rejeitado por muitos, mas lindamente bem lembrado aqui.
ResponderExcluirAbraços.
Jefferson.