16.1.13

Ascenso Ferriera: "Filosofia"






Filosofia

Hora de comer – comer!
Hora de dormir – dormir!
Hora de vadiar – vadiar!
Hora de trabalhar?
-- Pernas pro ar que ninguém é de ferro!



FERREIRA, Ascenso. In: MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Um comentário:

  1. Prezado Cícero:
    Cometi mais uma tradução de um poema de Swinburne. Como você gentilmente divulgou minha tradução anterior, vou abusar de novo da sua boa vontade, pedindo que você divulgue esse também, se possível.
    Meu Tumblr: http://nsantand.tumblr.com
    Abraços!

    UM AMIGO MORTO – Algernon Charles Swinburne

    I.
    Não mais, ó puro e meigo coração,
    Amigo de esperas fatais,
    Aqueles dias prósperos, irmão,
    Não mais?

    Dias brilhantes de cristais
    Viram mais, além desse desvão,
    O que ninguém verá jamais.

    Alma’lva como a clara cerração,
    Por que, então, cedo demais
    Se foi para além de nós, para não,
    Não mais?

    II.
    Irmão de longas horas fugidias,
    Que dilacerante emoção
    Emanará da boca que dizia
    ‘Irmão’?

    Suspiro e canção que mesclam
    Louvor com desolada agonia,
    Embora ascenda a louvação?

    Nada oculta o que de ti irradia:
    Por que encerra a escuridão –
    Ó dileto e morto – tão cedo o dia,
    Irmão?

    III.
    Caro finado, cumpriste o dever
    Ainda em vida, dando amparo
    Aos corações que pudeste deter,
    Caro

    Tempo e acaso podem, claro,
    Crestar a fé com dor, e o morrer,
    Cindir mãos com seu dom avaro:

    A memória, ora cega a planger
    A dor, vê, com seu faro raro
    Tudo o que de ti se fez para ser
    Caro

    IV.
    Fiel e afável de alma invulgar,
    Que deve a memória cruel
    Fazer além de ver a fé chorar,
    Fiel?

    Poucos viram além do véu
    Do teu ser, mas quem foi ao teu lar
    Dedicou-te amor a granel!

    Janus, que faz o novo definhar,
    Transforme algo velho em novel;
    Um amor honesto a se declarar
    Fiel.

    V.
    Puro tal qual o céu, enquanto ao chão
    Tu te mantiveste seguro,
    Para os homens deste o teu coração
    Puro

    Já não te cega mais o escuro
    Agora: as horas em mutação
    Afagam teu sono futuro

    O amor, sentindo ainda a morte tão
    Perto, pode, com seu apuro,
    Evocar teu doce ser, meu irmão
    Puro

    VI.
    Como, ó amigo, deve ser a vida?
    Esquecer o perpétuo sono?
    A fé concede à dor do amor guarida,
    Como?

    É certo, tristes seres somos.
    No entanto, mesmo que certa a lida,
    Brilha tua testa tal um pomo.

    Sim, embora tu estejas de partida,
    O amor te encontrará de assomo,
    Apesar de não sabermos ainda
    Como.

    VII.
    Passou, como canção que desvanece,
    E enquanto era vivo, brilhou;
    Como o pio da ave de que se esquece
    Passou!

    O vento da morte soprou,
    O senhor da canção o fornece,
    Mas teu amor firme ficou.

    O trono vazio de um rei que fenece:
    Mas, para a dor que perdurou,
    O amor fez canção do que não se esquece.
    Passou.

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