30.10.12

Carlos Pena Filho: "Pedro Álvares Cabral"





Pedro Álvares Cabral


O enorme céu que cobre mar e mágoas
e abriga os astros,
sustém meu claro sonho sobre as águas,
velas e mastros.

Um dia hei de encontrar terra ignota:
é assim quem sonha.
E se nenhuma houver em minha rota,
Que Deus a ponha.

Em meio ao longo mar não faço caso
dos dias meus,
Pois tenho a guiar-me o vento ou o puro acaso
e o acaso é Deus.



PENA FILHO, Carlos. Livro geral: poemas. Org. por Tânia Carneiro Leão. Recife: ed. da organizadora, 1999.

7 comentários:

  1. Belíssimo poema! Que a vida lhe retribua, Cicero, pois eu não posso.

    Abraço

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  2. A seca
    que não cessa
    não seca
    essa sede
    de ser dissecado.

    Aetano

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  3. Cícero, que belo poema este do Carlos Pena Filho. Deixo aqui um poema, com a mesma temática, que dedico a ti. Ele é fruto de uma conversa, um tanto que insólita que tive com uma criança de seis anos,e da leitura de vários poemas de seu último livro de poesias, especialmente o "O fim da vida". Grande abraço.

    A Antônio Cícero e Letícia Valentim

    É o que parece,
    Por isso tantos conflitos,
    Tantos gritos e ritos,
    Teogonias e preces.

    Por isso tantas crenças,
    A História e o Tempo,
    A voz de Deus
    Onde há somente
    O sussurro do vento.

    É o que parece,
    Por isso este poema
    Contra a voz cartesiana,
    Contra todo sistema
    Que nos engana.

    Por isso este poema,
    Que também será esquema
    Propenso ao erro,
    Se apenas for
    Aquilo com o qual quer parecer-se
    Mas com ele não se parecer.

    Por isso tantas formas,
    O anseio por ordem,
    O ilusório encanto da norma,
    O canto e as essências
    Onde só há aparência.

    É o que parece.
    E não há
    Como ser diferente.
    É a virtude
    Ou engano da mente.
    O que se diz e ilude,
    É o interminável museu
    Dos discursos do eu.

    E o que ouvi
    De mais bonito
    Foi uma criança dizer,
    Após muito contar,
    Que depois do mil
    Só há o infinito.

    É o que parece.
    E malgrado
    Alguém dissesse:
    “Tudo é!”
    Não estaria mentindo;
    Tudo é!
    E com isso se parece.

    Não há como dizer
    O que é o ser
    E entre o que digo ser
    E como aos outros me pareço
    Vivo e desapareço.

    É o que parece
    E só ao dizê-lo
    Já me traio
    Pela linguagem
    E mergulho
    Nessa imensa viagem

    De querer dizer tudo:
    O que, efeméride,
    Ganha breve aspecto,
    Surge e desaparece,

    O que não ganha tempo
    Para dizer-se
    Sequer coisa ou ser,
    O que resplandece
    Para logo perecer,

    Tudo que com a vida
    Se parece e que deixa
    De com ela parecer-se
    Quando se torna
    Discurso, regra ou prece.

    Tudo que é
    E se torna
    Uma outra natureza,
    Dura empresa
    Que a vida
    Não mais reconhece.

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  4. Cicero,

    meu mais novo soneto:

    "Um poeta não se faz só" - para Aetano Lima Santos

    Um poeta não se faz só
    De palavras e pensamento
    Nem do que tanto pulsa adentro.
    Um poeta não se faz só.

    Às vezes, pousa o próprio invento
    No acaso, como se por dó,
    Numa plena ilusão, mas só.
    Às vezes, poupa-o do alheamento.

    Todo poeta não é feito
    Sob o forte efeito do sonho,
    Do apelo prático do peito

    Nem do risco mais enfadonho.
    Todo poeta, ser suspeito,
    Tem de tudo medo medonho.


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  5. Cicero e Adriano,

    Muito obrigado.

    Forte abraço

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