Pedro Álvares Cabral
O enorme céu que cobre mar e mágoas
e abriga os astros,
sustém meu claro sonho sobre as águas,
velas e mastros.
Um dia hei de encontrar terra ignota:
é assim quem sonha.
E se nenhuma houver em minha rota,
Que Deus a ponha.
Em meio ao longo mar não faço caso
dos dias meus,
Pois tenho a guiar-me o vento ou o puro acaso
e o acaso é Deus.
PENA FILHO, Carlos.
Livro geral: poemas. Org. por Tânia Carneiro Leão. Recife: ed. da organizadora, 1999.
Belíssimo poema! Que a vida lhe retribua, Cicero, pois eu não posso.
ResponderExcluirAbraço
A seca
ResponderExcluirque não cessa
não seca
essa sede
de ser dissecado.
Aetano
Parabéns, Aetano!
ResponderExcluirCícero, que belo poema este do Carlos Pena Filho. Deixo aqui um poema, com a mesma temática, que dedico a ti. Ele é fruto de uma conversa, um tanto que insólita que tive com uma criança de seis anos,e da leitura de vários poemas de seu último livro de poesias, especialmente o "O fim da vida". Grande abraço.
ResponderExcluirA Antônio Cícero e Letícia Valentim
É o que parece,
Por isso tantos conflitos,
Tantos gritos e ritos,
Teogonias e preces.
Por isso tantas crenças,
A História e o Tempo,
A voz de Deus
Onde há somente
O sussurro do vento.
É o que parece,
Por isso este poema
Contra a voz cartesiana,
Contra todo sistema
Que nos engana.
Por isso este poema,
Que também será esquema
Propenso ao erro,
Se apenas for
Aquilo com o qual quer parecer-se
Mas com ele não se parecer.
Por isso tantas formas,
O anseio por ordem,
O ilusório encanto da norma,
O canto e as essências
Onde só há aparência.
É o que parece.
E não há
Como ser diferente.
É a virtude
Ou engano da mente.
O que se diz e ilude,
É o interminável museu
Dos discursos do eu.
E o que ouvi
De mais bonito
Foi uma criança dizer,
Após muito contar,
Que depois do mil
Só há o infinito.
É o que parece.
E malgrado
Alguém dissesse:
“Tudo é!”
Não estaria mentindo;
Tudo é!
E com isso se parece.
Não há como dizer
O que é o ser
E entre o que digo ser
E como aos outros me pareço
Vivo e desapareço.
É o que parece
E só ao dizê-lo
Já me traio
Pela linguagem
E mergulho
Nessa imensa viagem
De querer dizer tudo:
O que, efeméride,
Ganha breve aspecto,
Surge e desaparece,
O que não ganha tempo
Para dizer-se
Sequer coisa ou ser,
O que resplandece
Para logo perecer,
Tudo que com a vida
Se parece e que deixa
De com ela parecer-se
Quando se torna
Discurso, regra ou prece.
Tudo que é
E se torna
Uma outra natureza,
Dura empresa
Que a vida
Não mais reconhece.
Bonito, Felipe. Obrigado!
ResponderExcluirAbraço
Cicero,
ResponderExcluirmeu mais novo soneto:
"Um poeta não se faz só" - para Aetano Lima Santos
Um poeta não se faz só
De palavras e pensamento
Nem do que tanto pulsa adentro.
Um poeta não se faz só.
Às vezes, pousa o próprio invento
No acaso, como se por dó,
Numa plena ilusão, mas só.
Às vezes, poupa-o do alheamento.
Todo poeta não é feito
Sob o forte efeito do sonho,
Do apelo prático do peito
Nem do risco mais enfadonho.
Todo poeta, ser suspeito,
Tem de tudo medo medonho.
Abraço forte,
Adriano Nunes
Cicero e Adriano,
ResponderExcluirMuito obrigado.
Forte abraço