8.4.12

Paulo Leminski: "quando eu tiver setenta anos"





quando eu tiver setenta anos


quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência.




LEMINSKI, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1985.

6 comentários:

  1. Olá poeta,com licença, gostei muito-quem não gosta- desse poema do grande Leminski. Me identifico tanto...embora ainda não tenha chegado aos setenta.:) Na minha opinião, todos deviam "guardar"seus conteúdos infantis. Nos tornamos adultos mais felizes.:)

    Aspeei "guardar"porque,sem dúvida alguma, seu poema Guardar, poeta Cícero, é magistral, é alumbramento. :)

    Publiquei-o no meu blog há algum tempo e os amigos leitores adoraram.:)

    Um abraço, poeta.

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  2. Prezado Antônio Cícero:

    Segue um poema que escrevi sobre os meus 70 anos.

    UM FACHO DE LUZ SOBRE A SOMBRA

    O que se dispersa além dos olhos
    diz do vacilo de não se ter sorvido o tempo.


    Estarei na ultima idade.
    Quando ruir a biblioteca
    não restará mais nada.
    Sem nenhum escrúpulo
    estarei a mijar nas calças
    todas as cervejas
    que pensei esquecidas.
    Aprenderei que não só a memória
    mas também a bexiga dos velhos
    despejam seus guardados...
    E, como ancião,
    terei em meus ouvidos
    um ruído agudo
    a dizer da morte ...
    (Esse crepúsculo atravessado
    na garganta.)
    Mas minha memória recente,
    sempre desatenta,
    privilegiará as flautas de antanho,
    olvidando a impertinência
    dos últimos segundos.
    Saberei que retive com primor
    uma certa dignidade burguesa,
    execrada nos versos.
    Em minha face retalhada
    será definitivo
    o rendado da ironia.
    Recearei de alguns saberes,
    sem dúvida.
    Mas um cristão tardio
    espero não ser.
    Lembrar: não fechar o ciclo
    previsível de tantos homens.
    Não me permitir,
    ao menos, essa contradição.

    Jorge Elias Neto

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  3. Parabéns pelo belo poema, Jorge Elias Neto!

    Abraço

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