quando eu tiver setenta anos
quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência.
LEMINSKI, Paulo.
Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Olá poeta,com licença, gostei muito-quem não gosta- desse poema do grande Leminski. Me identifico tanto...embora ainda não tenha chegado aos setenta.:) Na minha opinião, todos deviam "guardar"seus conteúdos infantis. Nos tornamos adultos mais felizes.:)
ResponderExcluirAspeei "guardar"porque,sem dúvida alguma, seu poema Guardar, poeta Cícero, é magistral, é alumbramento. :)
Publiquei-o no meu blog há algum tempo e os amigos leitores adoraram.:)
Um abraço, poeta.
Prezado Antônio Cícero:
ResponderExcluirSegue um poema que escrevi sobre os meus 70 anos.
UM FACHO DE LUZ SOBRE A SOMBRA
O que se dispersa além dos olhos
diz do vacilo de não se ter sorvido o tempo.
Estarei na ultima idade.
Quando ruir a biblioteca
não restará mais nada.
Sem nenhum escrúpulo
estarei a mijar nas calças
todas as cervejas
que pensei esquecidas.
Aprenderei que não só a memória
mas também a bexiga dos velhos
despejam seus guardados...
E, como ancião,
terei em meus ouvidos
um ruído agudo
a dizer da morte ...
(Esse crepúsculo atravessado
na garganta.)
Mas minha memória recente,
sempre desatenta,
privilegiará as flautas de antanho,
olvidando a impertinência
dos últimos segundos.
Saberei que retive com primor
uma certa dignidade burguesa,
execrada nos versos.
Em minha face retalhada
será definitivo
o rendado da ironia.
Recearei de alguns saberes,
sem dúvida.
Mas um cristão tardio
espero não ser.
Lembrar: não fechar o ciclo
previsível de tantos homens.
Não me permitir,
ao menos, essa contradição.
Jorge Elias Neto
Parabéns pelo belo poema, Jorge Elias Neto!
ResponderExcluirAbraço
Obrigado, Antônio Cicero!
ResponderExcluirUm Abraço,
Incrível.
ResponderExcluirLindo poema Jorge Elias!
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