27.2.12

Ivan Junqueira: "Ária marinha"




Ária marinha

Tecla de sal
clave de sol
acorde oculto
num caracol

será o espectro
de infância morta
que desabrocha
como um farol?

serão ginetes
já sem memória
ficando esporas
no azul lençol?

será meu pai
debaixo d´água
com sua flauta
e seu punhal?

ou não será
em mim disperso
o som submerso
de outro coral?

resposta alguma
à tona sobe
mas eu indago
e lanço o anzol



JUNQUEIRA, Ivan. A rainha arcaica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Um comentário:

  1. Cicero,

    lindo demais! amo esse poema!

    um soneto meu:

    "Na euforia de um tempo diverso"

    Entre livros e discos eu vivo
    Co' imensa alegria, atado ao verso
    E à música, inteiramente imerso
    No que quero, das musas cativo.

    É desse cosmo contemplativo
    Que parto do sonho e me disperso
    Na euforia de um tempo diverso:
    Ai, não me tragam o sedativo!

    Depois? noutro infinito me invento,
    Liberto da dor, rente ao instrumento
    De luz: Lanço-me ao lápis e risco

    - Em silêncio permaneço atento -
    A folha da memória e me arrisco
    A fazer, quem sabe, um livro, um disco!

    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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