19.1.12

Severo Sarduy: "Rothko" / "Rothko": trad. Haroldo de Campos




Rothko

                         A Andrés Sánchez Robayna

No los colores, ni la forma pura.
Memoria de la tinta. Sedimento
que decanta la luz de su pigmento,
más allá de la tela y su armadura.

Las líneas no, ni sombra ni textura,
ni la breve ilusión del movimiento;
nada más que el silencio: el sentimiento
de estar en su presencia. La Pintura

en franjas paralelas cuya bruma
cruza la tela intacta, aunque teñida
de cinabrio, de vino que se esfuma;

púrpura, bermellón, anaranjada…
El rojo de la sangre derramada
selló su exploración. También su vida.


Rothko

                        A Andrés Sánchez Robayna

As cores, não, tampouco a forma pura.
Rememorar da tinta. Sedimento
que se decanta, à luz, de seu pigmento,
além, além da tela e sua armadura.

Sombra alguma, nem linhas, nem textura,
nem a quase-ilusão do movimento;
silêncio, nada mais: o sentimento
de já estar em presença: da Pintura,

suas franjas paralelas, cuja bruma
cruza o intacto da tela, colorida
embora de zarcão, vinho que esfuma;

cor púrpura, cinábrio, tez laranja...
O vermelho do sangue que se esbanja
selou sua exploração. Selou sua vida.



CAMPOS, Haroldo de. "Três (re)inscrições para Severo Sarduy". In:_____. O segundo arco-íris branco. São Paulo: Iluminuras, 2010

7 comentários:

  1. Cicero,

    amo Haroldo e suas traduções, transcriações, intraduções etc e tal. Um mestre. Esse poema de Sarduy é muito belo! Grato por compartilhar. Deixo aqui um soneto dele que traduzi/transcriei:


    "SONETO MERIDIANO" - SEVERO SARDUY


    La transparente luz del mediodía
    filtraba por los bordes paralelos
    de la ventana, y el contorno de los
    frutos; o de tu piel — resplandecía.

    El sopor de la siesta: lejanía
    de la isla. En el cambiante cielo
    crepuscular, o en el opaco velo
    ante el rojo y naranja aparecía

    otro fulgor, otro fulgor. Dormía
    en una casa litoral y pobre:
    en el aire las lámparas de cobre

    trazaban lentas espirales sobre
    el blanco mantel, sombra que urdía
    el teorema de la otra geometría.




    "Soneto Meridiano"
    (Tradução/transcriação de Adriano Nunes)

    A transparente luz do meio-dia
    filtrava pelos paralelos bordos
    das janelas, e o perímetro dos
    frutos; ou de tua pele - luzia.

    O torpor da sesta: o que distancia
    da ilha. Nas permutáveis nuvens dos
    crepúsculos, ou nos véus ocultados
    ante o roxo e o laranja aparecia

    outro fulgor, outro fulgor. Dormia
    em uma casa litorânea e pobre:
    e na atmosfera as lâmpadas de cobre

    trançavam as lentas espirais sobre
    a branca toalha, sombra que urdia
    o teorema d'outra geometria.




    In: SARDUY, Severo. Obra completa. Tomo I. Edición crítica. Gustavo Guerrero – François Wahl coordenadores. Madrid: ALLCA XX, 1999.

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  2. Adriano,

    parabéns pela sua tradução! Cada vez você está melhor.

    Abraço grande

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  3. Cicero,


    Que bom que você gostou! Que honra!


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  4. Oi, Cícero!

    Por um acaso você conhece a poesia de Ruy Espinheira Filho?

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  5. Cláudia,

    Sim; conheço alguma coisa, inclusive alguns belos sonetos, do Ruy Espinheira Filho.

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  6. AS traduções foram muito felizes, Cícero e Adriano. As lerei hoje no encontro de poesia que fazemos em santa tereza. Espero que não se importem! Abraço!

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  7. Heyk,

    claro que não me incomodo; fico até feliz com isso. De todo modo, as traduções não são minhas, mas do Haroldo e do Adriano: mas acho que eles também não se incomodarão, desde que seus nomes sejam citados. Bom encontro!

    Abraço grande

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