Soneto
Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.
Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas tão pouco dura;
E inda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.
Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saüdades me atormento;
Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.
ALBANO, José. "Soneto". In: CAMPOS, Paulo Mendes.
Forma e expressão do soneto. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1952.
Genial!
ResponderExcluirSonetos assim nos levam a crer que a tradição permanece. Que bom!
Bem bonito... Valeu!
ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluirQue soneto belíssimo! Grato por compartilhar! Viva José Albano!
Abraço forte,
Adriano Nunes
Cicero,
ResponderExcluircom a palavra Manuel Bandeira:
"José de Abreu Albano foi um altíssimo poeta, escreveu um dos mais belos sonetos da língua portuguesa e de todas as línguas, viveu perfeitamente feliz dentro do seu sonho, na loucura que Deus lhe deu e na miséria que foi a criação de sua própria mão perdulária"
Abraço forte,
Adriano Nunes
Lindo demais!!!
ResponderExcluirDoloroso - como a percepção de mundo dos mais profundos entes ungidos pela melancolia.
ResponderExcluir"Poesia é tudo. O resto é prosa." - Walter Franco. ;)
ResponderExcluirPoDA
ResponderExcluirCruzar as fronteiras
Interessa-me
Sem nomes
Intervenção brutal
Poda
Poder tão banal
Além do bem e do mal
As flores são belas.
Cicero,
ResponderExcluirUm soneto meu:
"Ao imaginar que tudo isso é somente sonho"
Ao vale quando vou, Favônio me acompanha.
Levo a lira e a lembrança da jovem Erato
Em todo pensamento (o amor é mesmo exato!)
E canto o cosmo afora, a paisagem: a montanha,
Os campos, os desertos, o vivo regato,
O horizonte... A alegria é suprema, tamanha.
Euterpe e sua flauta têm-me (que façanha!)
E domam-me. Alguns Faunos veem-me estupefato
Diante dessa mágica música, aflito
Ao imaginar que tudo isso é somente sonho,
Artimanha de Baco, do vinho, do mito
(Esse tímido escrito que agora componho?)
Adormecido em mim, esculpindo o infinito
Que o grafite traduz, com um medo medonho.
abraço forte,
Adriano Nunes
O pulo do gato do soneto é o terceto final.
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