20.11.11

José Albano: "Soneto"




Soneto

Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.

Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas tão pouco dura;
E inda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.

Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saüdades me atormento;

Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.



ALBANO, José. "Soneto". In: CAMPOS, Paulo Mendes. Forma e expressão do soneto. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1952.

10 comentários:

  1. Genial!

    Sonetos assim nos levam a crer que a tradição permanece. Que bom!

    ResponderExcluir
  2. Cicero,

    Que soneto belíssimo! Grato por compartilhar! Viva José Albano!



    Abraço forte,
    Adriano Nunes

    ResponderExcluir
  3. Cicero,

    com a palavra Manuel Bandeira:


    "José de Abreu Albano foi um altíssimo poeta, escreveu um dos mais belos sonetos da língua portuguesa e de todas as línguas, viveu perfeitamente feliz dentro do seu sonho, na loucura que Deus lhe deu e na miséria que foi a criação de sua própria mão perdulária"


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

    ResponderExcluir
  4. Doloroso - como a percepção de mundo dos mais profundos entes ungidos pela melancolia.

    ResponderExcluir
  5. "Poesia é tudo. O resto é prosa." - Walter Franco. ;)

    ResponderExcluir
  6. PoDA

    Cruzar as fronteiras
    Interessa-me
    Sem nomes
    Intervenção brutal
    Poda
    Poder tão banal
    Além do bem e do mal
    As flores são belas.

    ResponderExcluir
  7. Cicero,


    Um soneto meu:


    ‎"Ao imaginar que tudo isso é somente sonho"



    Ao vale quando vou, Favônio me acompanha.
    Levo a lira e a lembrança da jovem Erato
    Em todo pensamento (o amor é mesmo exato!)
    E canto o cosmo afora, a paisagem: a montanha,

    Os campos, os desertos, o vivo regato,
    O horizonte... A alegria é suprema, tamanha.
    Euterpe e sua flauta têm-me (que façanha!)
    E domam-me. Alguns Faunos veem-me estupefato

    Diante dessa mágica música, aflito
    Ao imaginar que tudo isso é somente sonho,
    Artimanha de Baco, do vinho, do mito

    (Esse tímido escrito que agora componho?)
    Adormecido em mim, esculpindo o infinito
    Que o grafite traduz, com um medo medonho.


    abraço forte,
    Adriano Nunes

    ResponderExcluir
  8. O pulo do gato do soneto é o terceto final.

    ResponderExcluir