7.10.11
Wisława Szymborska: "Elogio dos sonhos" / trad.: Regina Przybycien
Elogio dos sonhos
Nos sonhos
eu pinto como Vermeer van Delft.
Falo grego fluente
e não só com os vivos.
Dirijo um carro
que me obedece.
Tenho talento,
escrevo grandes poemas.
Escuto vozes
não menos que os mais veneráveis santos.
Vocês se espantariam
com minha performance ao piano.
Flutuo no ar como se deve
isto é, sozinha.
Ao cair do telhado
desço de manso na relva.
Respiro sem problema
debaixo d'água.
Não reclamo:
consegui descobrir a Atlântida.
Fico feliz de sempre poder acordar
pouco antes de morrer.
Assim que começa a guerra
me viro do melhor lado.
Sou, mas não tenho que ser
filha da minha época.
Faz alguns anos
vi dois sóis.
E anteontem um pinguim.
Com toda a clareza.
SZYMBORSKA, Wisława. Poemas. Trad. de Regina Przybycien. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
No sonho, a mulher que eu amo
ResponderExcluiré minha,
Dona do meu reino, minha rainha.
No sonho, sou seu mocinho
seu heroi salvando-a dos perigos
e nosso filme nunca termina
sempre além do que se imagina
No sonho não há saudades
solidão, esquecimento
somos uno ha todo momento
No sonho, em paisagens divinas
tenho tudo que almejo
o calor do corpo dela
e teus molhados beijos
No sonho tenho ela
durante a noite a madrugada,
pena que o sonho se acaba
ao chegar a alvorada ...
Gilson Costa
Cicero,
ResponderExcluirBelíssimo!
Amo esse outro poema dela, abaixo, que eu acho ser mais intenso e forte. Deixo na tradução de dois mestres:
"O TERRORISTA, ELE OBSERVA"
(Tradução: Nelson Ascher)
A bomba explodirá no bar às treze e vinte.
Agora são apenas treze e dezesseis.
Alguns terão ainda tempo para entrar;
alguns, para sair.
O terrorista já está do outro lado da rua.
A distância o protege de qualquer perigo.
E, bom, é como assistir a um filme.
Uma mulher de casaco amarelo, ela entra.
Um homem de óculos escuros, ele sai.
Jovens de jeans, eles conversam
Treze e dezessete e quatro segundos.
Aquele mais baixo, ele se salvou, sai de lambreta.
E aquele mais alto, ele entra.
Treze e dezessete e quarenta segundos.
A moça ali, ela tem uma fita verde no cabelo.
Mas o ônibus a encobre de repente.
Treze e dezoito.
A moça sumiu.
Era tola o bastante para entrar, ou não?
Saberemos quando retirarem os corpos. Treze e dezenove.
Ninguém mais parece entrar.
Um careca obeso, no entanto, está saindo.
Procura algo nos bolsos e
às treze e dezenove e cinqüenta segundos
ele volta para pegar suas malditas luvas. São treze e vinte.
O tempo, como se arrasta
É agora.
Ainda não.
Sim, agora.
A bomba, ela explode.
Tradução: Nelson Ascher
(Versão realizada a partir da versão inglesa de Adam Czerniawski e da
norte-americana de Magnus J. Krynski e Robert A. Maguire)
"O TERRORISTA… OLHA"
(Tradução de Júlio Sousa Gomes)
A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
São neste momento treze e dezasseis.
Alguns conseguem ainda entrar,
alguns sair.
O terrorista passou já para o outro lado da rua.
A esta distância ficará livre de perigo
e, quanto a vista, é como no cinema:
Uma mulher de casaco amarelo... entra.
Um homem de óculos escuros... sai.
Rapazes de jeans... conversam.
Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.
Aquele baixinho tem sorte e senta-se na vespa,
mais um tipo alto que entra.
Treze horas, dezassete minutos e quarenta segundos.
Passa uma moça de fita verde nos cabelos.
Só que o autocarro oculta-a.
Treze e dezoito.
A rapariga desapareceu.
Se foi bastante estúpida para entrar ou não,
isso se saberá pelas notícias.
Treze e dezanove.
Parece que ninguém entra.
Há porém um careca gordo que sai.
Mas olha, parece que procura algo nos bolsos,
faltam treze segundos para as treze e vinte,
e ele volta a entrar em busca das luvas que perdeu.
São treze e vinte.
Como o tempo voa.
Deve ser agora.
Ainda não.
Sim, é agora.
A bomba.... explode.
“Paisagem Com Grão de Areia”, (Relógio d’Água, Lisboa, 1998, tradução de Júlio Sousa Gomes).
Abraço forte!
Adriano Nunes
Cicero,
ResponderExcluirFiz este soneto para você:
"do labirinto íntimo" - Para Antonio Cicero
a mera jornada...
fui bem recebido
na sicília. adido
da imprensa aleijada,
inventor do olvido,
da quimera ilhada
desse tudo ou nada,
assim acolhido
fui. súdito, amigo
de minos, a malha
de concreto, o abrigo
do monstro, a muralha
erguida sem falha,
carreguei-a comigo.
Abração,
Adriano Nunes
Adriano,
ResponderExcluirmuito obrigado! Belo soneto!
Grande abraço