3.6.11

Murilo Mendes: Anti-Elegia nº 2




Murilo Mendes: Anti-Elegia nº 2

Olho para tudo
Com o olhar ambíguo
De quem vai se despedir do mundo
Eis a última curva o último filme
Eis o último gole d’água a última mulher
Eis o último fox-blue

Já estou sentindo
As violetas crescerem sobre mim.



MENDES, Murilo. "Os quatro elementos". In:_____Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

6 comentários:

  1. morre nasce trigo, vive morre pão.

    ResponderExcluir
  2. Eis um magnífico poeta. Gosto do punch de

    MAU SAMARITANO

    Quantas vezes tenho passado perto de um doente,
    Perto de um louco, de um triste, de um miserável,
    Sem lhes dar uma palavra de consolo.
    Eu bem sei que minha vida é ligada à dos outros,
    Que outros precisam de mim que preciso de Deus
    Quantas criaturas terão esperado de mim
    Apenas um olhar – que eu recusei.


    e de


    SOMOS TODOS POETAS

    Assisto em mim a um desdobrar de planos.
    As mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
    A luz desce das origens através dos tempos
    E caminha desde já
    Na frente dos meus sucessores.

    Companheiro,
    Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma.
    Sou todos e sou um,
    Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita vazia do cego,
    Pelos gritos isolados que não entraram no coro.
    Sou responsável pelas auroras que não se levantam
    E pela angústia que cresce dia a dia.

    ResponderExcluir
  3. Cicero,

    Um poema meu:

    "por uma e outra fresta" - Para Paulo Sabino


    às seis horas,
    o galo digital
    anuncia
    com mecânica alegria
    a aurora.

    é a hora!
    é a hora!
    acordo. acordas. acordam
    todos os meus sonhos...
    rasga-se o dia lá fora.

    à socapa,
    a claridade penetra
    por uma e outra fresta
    da porta.
    e agora?

    devoro a alvorada
    através
    de flexível flerte
    e a vida segue
    intacta.

    é a hora!
    grita o galo
    à pilha enquanto o sol trilha
    o seu trajeto
    na calota.



    Abração,
    Adriano Nunes.

    ResponderExcluir
  4. E É ESSE OLHAR AMBÍGUO QUE VER E PERCEBE O ALÉM DO CONCRETO, É ESSE OLHAR QUE TRANSCENDE E NOS TORNA MAIS PRÓXIMOS DOS INVISÍVEIS, DOS SEM EXPRESSÃO....

    MUITO LINDO!

    ResponderExcluir