Confirmando o que observei sobre os ateus envergonhados, hoje uma carta de leitor à Folha, escrita por uma pessoa que se diz ateia, afirma considerar “boa notícia a informação [...] de que a campanha contra a discriminação ao ateísmo foi cancelada. Ela me pareceu agressiva demais”.
Então é agressivo dizer que “a religião não define o caráter”? É agressivo dizer a verdade? Por que é que os ateus devem ouvir calados as proposições não apenas falsas mas caluniosas e ofensivas dos religiosos sobre o ateísmo, porém os religiosos devem ser poupados de ouvir verdades simples como essa?
Segundo o mesmo leitor, os ateus não necessitam “usar a mesma intolerância e ódio que os religiosos têm pelos que não creem na mesma coisa que eles”. Também acho. Mas deixar de se defender da intolerância, do ódio e das calúnias dos religiosos não é uma demonstração de tolerância, mas de covardia, que só faz confirmar aos religiosos intolerantes, raivosos e caluniosos que é assim mesmo que eles devem continuar a ser.
Texto que escrevi sobre o tema:
ResponderExcluirhttp://cassionei.blogspot.com/2010/12/pela-liberdade-de-nao-crer.html
Concordo. As pessoas têm necessidade em fazer o outro crer em Deus. Aqui em MG é uma coisa de louco, ninguém deixar Deus em paz!!!
ResponderExcluirEu li um poema seu na Folha de domingo, e pelo que lá consta, você escreverá para a Ilustríssima. Não?
um abraço, Márcio.
Como a Vergílio Ferreira,«Deus gastou-se-me».Apenas isso. Não tem lugar na minha vida quotidiana,que tem dentido sem ele. Mas respeito quem nele acredita, seja de que religião for.«Não penso como tu, mas era capaz de dar a vida para teres o direito de pensar como pensas.»-disse-o Voltaire que, suponho, se não era ateu seria,talvez, agnóstico...
ResponderExcluirSim, Márcio. Fui convidado para escrever para a Ilustríssima, sem periodicidade estabelecida.
ResponderExcluirAbraço
Belo texto, Cassionei. Parabéns!
ResponderExcluirSobre a frase "Se Deus (não) existe tudo é permitido" escrevi um artigo para a Folha em abril de 2007. Ele se encontra aqui: http://antoniocicero.blogspot.com/2007/04/tese-de-ivan-karamazov.html.
Abraço
A frase foi "etenirnizada" pelo Sartre, e se propaga como se estivesse de forma literal nos Irmãos Karamazov. No romance está assim (lembrnado que é uma fala do Mitia):
ResponderExcluir- Mas então, que se tornaria o homem, sem Deus e a imortalidade? Tudo é permitido e, conseqüentemente, tudo é lícito? (...) Que fazer, se Deus não existe, se Rakitine tem razão ao pretender que é uma idéia forjada pela humanidade? Neste caso, o homem seria o rei da terra, do universo. Muito bem! Mas como ele seria virtuoso sem Deus?
Exato...
ResponderExcluirAproveito para externar minha admiração pelo teu trabalho,tanto o filosófico e literário, quanto o musical. Suas letras até hoje marcam a trilha sonora da minha vida.
Abraço.
Cassionei Petry,
ResponderExcluirMuitíssimo obrigado por dizê-lo.
Voltando ao Dostoievski:
A verdade é que a frase "Se Deus não existe, tudo é permitido" exprime o essencial de uma ideia que se encontra no romance. Normalmente, essa ideia é atribuída a Ivã Karamazov, pois vários personagens a tratam desse modo. Rakitin, que é citado no trecho de Mitia que você reproduz, ouviu a ideia de Ivã. Isso está no capítulo 7 do livro I: “Ouvi há pouco a sua [de Ivã] estúpida teoria: ‘Não existe imortalidade da alma; por conseguinte, não há virtude e tudo é permitido’”.
Essa primeira versão da tese havia sido exposta pela primeira vez no capítulo 6 do livro I, quando Piotr Alieksándrovitch contou que Ivã uma vez declarou que “se tirassem à humanidade a fé na vida extraterrena, ela perderia imediatamente não só o amor, mas toda força indispensável à vida. Mais ainda: não haveria moral e tudo seria permitido, mesmo a antropofagia”.
E no final do livro Smerdiakov diz a Ivã que “estava certíssimo o que você me ensinou, pois você falava muito sobre isso. Pois se não há um Deus eterno, não há virtude nem necessidade de virtude. Você estava certo nisso”.
É por isso que geralmente se fala da "tese de Ivã Karamazov", para mencionar essa ideia.
lembro-me sempre do "para desenhar um pássaro"...
ResponderExcluirsempre belo o prévert ...