23.11.10

Declaração







DECLARAÇÃO

Quantas vezes lhe declarei o meu amor?
Declarei-o verbalmente inúmeras vezes
e o declaram todos os meus gestos tendentes
a você: a minha língua, a brincar com o som
do seu nome, Marcelo, o declara; e o declaram
os meus olhos felizes quando o vêem chegar
feito um presente e de repente elucidar
a casa inteira que, conquanto iluminada,
permanecia opaca sem você; e quando,
tendo apagado todas as lâmpadas, juntos,
no terraço, nos consignamos aos traslados
dos círculos do relógio do céu noturno
ou aos rios de nuvens em que nos miramos
e nos perderemos, declaro-o no escuro.



CICERO, Antonio. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002.

14 comentários:

  1. Declaração de poeta é outra coisa! De um grande poeta é outra coisa mais bonita ainda!

    Esse poema é belíssimo. Bom relê-lo aqui.

    Um beijo.

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  2. Cicero,



    Que belíssimo poema! Que declaração!



    Abração fraterno,
    Adriano Nunes.

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  3. "... declaro-o no escuro". Esclarecimento, clarificação feliz de todo obscuro, luz sobre obscurantismo. Leitor de poesia, leio, releio, recomendo e agradeço sempre por "A cidade e os livros", um dos mais belos livros de poesia que já li.

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  4. Oi Antonio,

    Que declaração delicada e, ao mesmo tempo, forte. Assim como você.

    Um abraço,


    Eleonora

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  5. da série "bárbaros amargos":

    (http://cenag.uol.com.br/noticias_ler.php?id=NDA5NQ==)

    "O militar e deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) sugeriu que os pais deveriam bater nos filhos com tendências homossexuais para mudarem de comportamento. A afirmação foi feita ao programa "Participação Popular", da TV Câmara.

    Os deputados Jair Bolsonaro e Paulo Henrique Lustosa (PMDB/CE), presidente da Frente Parlamentar da Criança e do Adolescente, discutiam sobre a Lei da Palmada, quando Bolsonaro afirmou: “O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem”."

    é essa gente q vai pro congresso representar este estado em chamas????

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  6. Agradeço a gentileza de Letícia, Adriano, Roberto e Eleonora.

    E concordo com Nobile José: é de fato inacreditável o primarismo desse deputado.

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  7. A hora do amor é iluminada e este poema é isso: amor!!

    Beijos

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  8. Cicero,

    não publique o comentário anterior, pois o poema tinha um erro. O poema certo está aqui:


    "para ele"

    ele,
    com o seu medo
    de pele,

    me repele.
    com seu dedo
    no gatilho - tiro

    certo -
    (nem sei
    por que vivo)

    assusta-me.
    (como ele é
    lindo!)

    amá-lo
    decerto
    é isso:

    ele,
    lá, na sua
    teia,

    em seu edifício.
    eu aqui
    com os meus

    cacos de menino
    de circo,
    em curto-fortuito,

    escondido.
    entre um ver-
    so e um flerte

    promíscuo,
    declamo: amo-o!
    que importa o risco?



    abração,
    Adriano Nunes.

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  9. Esse poema é muito belo, e também os demais desse livro tão lindo, parabéns, e é uma honra poder estar aqui e dizer isso ao seu próprio autor,rss, é difícil fazer algo assim!
    um grande abraço!

    Revelação

    Oh, minha vida
    Aonde permaneces escondida
    Se todos os caminhos
    Levam-me até você
    E tudo foge para longe
    sombras feitas de nuvens
    Ao meu redor
    Os edifícios crescem como bolhas
    Bem longe das folhas, das ruas,
    Aonde eu perdi a eira
    E a beira
    Milhares de janelinhas
    Todas em linha
    no espelho
    na carruagem dos meus sonhos
    outro mundo se rompeu
    Esqueço meu eu
    Quando atravesso um simples olhar teu.

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  10. Teus olhos cheios de mistérios,
    brilhantes como diamantes,
    miram para o mundo,
    seu pensamento profundo,
    almejo um dia mergulhar.
    e contigo compartilhar,
    meus desejos mais profundos,
    em delírios divagar,
    de seus beijos desfrutar.

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  11. Gostei demais deste poema, Cícero.

    Em retribuição, segue um escrito.

    Há toques que – às vezes muito de leve – nos tocam tão intensamente
    que o desvario se produz em ondas sucessivas de cor, de som, de luz.
    Há palavras que – às vezes de longe – nos tocam tão profundamente,
    tão diretamente ao ponto,
    que nos cintilam a alma e nos oceanam imenso
    em marés de embriaguez e fé.
    A palavra dita com os olhos por um instante cravados,
    revelando sentidos outros,
    A palavra escrita com fendas intencionais
    de não-ditos, reticências, interditos,
    O silêncio e sua aguda voz implacável.
    O toque assim se faz pelos sentidos
    do que se diz-não-diz e não pelo tato.
    O toque vai direto ao peito,
    por dentro dos sentidos,
    não passa pela pele.
    O toque estremece o coração
    com uma onda de gelo seco e quente,
    fugaz,
    como um vento de relance.
    A linguagem, quando chega à alma,
    rompe os pólos e frutifica unidade.
    Real e virtual?
    Longe e perto?
    Corpo e mente?
    Com e sem?
    Sim e não?
    Tu e eu?
    Nada disso.

    Rosaura Soligo
    http://chiarosscuro.blogspot.com/

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  12. Querido poeta:

    Este belíssimo poema -- um dos mais belos que conheço -- compõe a epígrafe do livro que preparei para comemorar o aniversário de 50 anos de meu filho.
    Só tenho a lhe agradecer.

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  13. Que bom, Cecilia! Suas palavras me deixam muito feliz. Muito obrigado!

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