4.9.10

Manuel Bandeira: "Testamento"




Testamento

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!



BANDEIRA, Manuel. "Lira dos cinquent'anos". Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.

14 comentários:

  1. Amado Cicero,


    tenho um amor imenso por Manuel Bandeira. Esse poema é belíssimo, tem uma sinceridade sobre-humana, uma delicadeza, um sentimento nobre... Coisas de um poeta maior! Estou plenamente emocionado nesta madrugada! Valeu! Você e suas escolhas...


    Grande abraço,
    Adriano Nunes

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  2. Belo poema !!!
    Sou fã total de MANUEL BANDEIRA !!!
    Quando chamavam de grande, ele respondia: " Grande foi DANTE ! "
    Viva MANUEL BANDEIRA !!!!

    JORGE SALOMÃO RIO 2010

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  3. Testamento de poeta, de grande Poeta, viva Manuel Bandeira.

    Carmen Silvia Presotto

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  4. Amo Manuel Bandeira mas ainda não conhecia este poema. Fiquei muito emocionada ao ler. Maravilhoso!
    Obrigada.

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  5. definitivamente, o melhor poema da língua portuguesa.

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  6. Cicero,


    Um poema novo:


    "aurora"


    em todo infinito
    há um deus
    inscrito.

    sempre
    observo os intervalos
    entre

    os meus gritos...
    tantos gritos de grafite!

    de vez
    em quando
    evito calá-los.
    berro alto,
    solto o verbo,
    deixo a língua
    solta,
    sem eixo.

    os dias?
    vejo-te servindo
    o verso... recitando
    para mim
    a vida.

    teus dedos imergem
    em meus dedos.
    tato e desejo.
    teu flerte reflete
    o meu ver-te
    em mim.
    registros cotidianos
    de quimeras
    no lobo occipital.

    por um momento,
    milagre

    do tempo,
    esqueço
    o porvir.

    a morte?
    que ela não se apavore,
    que entre convidada,
    sente-se
    no sofá
    da sala,
    tenha paciência,
    leia um livro,
    enquanto isso

    preparo o café.
    ainda é manhã!



    Abraço fraterno,
    Adriano Nunes.

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  7. E assim Bandeira deixou seus bens que não obteve, mas que criou (e por isso, obteve) belamente em um poema como este.
    Coisas que faltam e temos.
    De primeira este poema de Bandeira!
    Um abraço.
    Jefferson.

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  8. Li agora sua entrevista para a Folha da Região. E ontem eu o vi no documentário Palavra (En)cantada.

    Um abraço.

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  9. querido cicero,

    segue um soneto branco, inspirado no diálogo marítimo que o poema da Sophia despertou...


    O mar torna mais breve quem o vê,
    ignora fazer parte da paisagem,
    e resta-nos, eternos exilados,
    olharmo-lo e lembrarmos a remota
    Atlântida; perdemos, nele, heróis,
    retornos e conquistas, traficaram-se
    escravos e tristeza, e ainda assim,
    apazigua mirá-lo, ressuscitam-se
    ancestrais celacantos do que exala
    sua maresia plena de segredos,
    assalta-nos, tão logo nos molhemos
    em suas plagas, saudade singular
    de guelras; à sua margem majestosa,
    não se despede, volta-nos as costas.


    Forte abraço,
    Marcelo Diniz

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  10. Dou calorosos parabéns a Marcelo e Adriano pelos belos poemas.

    Abraços

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  11. Cicero
    Este, de Manuel Bandeira, é o mais belo testamento que já foi escrito!
    Fico-lhe grata, amigo, por este momento de excelente leitura.
    Abraço,
    Zélia

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  12. Caro Marcelo,


    Adorei o soneto! Bravo!


    Abraço fraterno,
    Adriano Nunes.

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  13. Grato, Cicero e Adriano,

    Abraço a todos.
    Marcelo Diniz

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