Arte poética
Escrever um poema
é como apanhar um peixe
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questão de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me livrar do peixe
livro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer
LOPES, Adília.
Um jogo bastante perigoso. Lisboa: Edição da autora, 1985.
Muitos poetas fazem poemas sobre esse tema... Esse é belíssimo!
ResponderExcluir"livro-me do peixe com o alívio /
que não sei dizer", mas, para o poeta, logo o embate recomeça.
Não é mesmo?
Grande Abraço!
Cicero,
ResponderExcluirLindo demais!
Abraço forte!
Adriano Nunes.
muito bom
ResponderExcluirDisco voador
ResponderExcluirQuando eu me sinto assim
Tão distante de mim
Olhando prá vida distraída
Os carros passando na medida
Golpes de martelo
Um sino angelical
E nos quatro cantos
Saídas e partidas
Frio intenso enquanto penso
Não quero peixe
Não quero água
Não quero mágoa
Não quero dor
Só quero você, amor
Não sinto isso
Não sei daquilo
Não inventei
Não espetei
De nada sei, não
Vi o disco voador.
morta de prazer lendo isso*
ResponderExcluirbeijos seu cicero !
Muito interessante como ela descreve o seu processo de criação.
ResponderExcluirBelo e interesante!
Cicero,
ResponderExcluirUm poema novo:
"de vez em quando" - Para Betina Moraes.
de vez em quando
eu canto
meu pranto
eu espanto as bruxas
eu mando
tudo para o inferno
eu berro
eu grito
eu abrigo tímido
o silêncio
o grafite
a folha
em branco
o rabisco...
em meu coração.
que risco!
a seiva de tudo
de todo segundo
no milésimo
momento
do seguinte
segundo,
o mundo...
e quando,
sob o efeito
de tal encanto,
eu poderia
vingar,
ter n'alma
uma alegria,
sequer a vida
dá por mim...
ainda que
a tudo
eu
siga
entregando
olhos
medos
sonhos
esperanças
versos...
o meu ser
inteiro.
Abração,
Adriano Nunes.
maravilhoso!
ResponderExcluirE eu já apanhei peixes com as mãos... e é um desafio, sem dúvida :)! O desafio poético só acontece quando se liberta a poesia (tal como o peixe que deve seguir em liberdade), é aí que se dá a verdadeira arte!
ResponderExcluirComparação interessante! :)
que coisa, não?
ResponderExcluirsalve-salve, adília e adélia!
BILHETE
escrevi um verso
um poema
um livro
e daí?
se a esquadria do que escrevo
não me segura
o esqueleto de água
se vou morrer
se vais morrer
se vai morrer a língua
em que escrevo
se vai morrer o país
que fala minha língua
e todas as línguas de todos
os países que falam
por que esta teimosia
em escrever?
por que não deixar
o passado fedendo
o futuro mentindo
impunemente
o presente apenas
o que já vai deixando de ser?
escrevo como quem
vive e não vai viver
não como quem
à visitação pública
em terras de amanhã
se enraíza e flora
eu escrevo não para ficar,
meu amor,
escrevo para ir embora
Pessoalmente não aprecvio este modo de poesia...
ResponderExcluirMas aproveito, visto nºao ter o seu e-mail, para lhe dizer que coloquei um poema seu no meu blogue:o Sair
http://barcosflores.blogspot.com
Amado Cicero,
ResponderExcluirA minha Arte:
"Arte poética" - Para Antonio Cicero.
o poema só
surge quando quer,
com razão. qualquer
dia desses, só-
brio, ganharei
toda a sua luz.
isso não reduz
fuga alguma: é lei,
entre as muitas musas,
o cérebro ver-
ter formas confusas
de sinapses, ver
as idéias reclusas,
sem saber nascer.
Abraço forte,
Adriano Nunes.
Caro Cicero,
ResponderExcluirEstou na Suica e hoje visitei, em Sils-Maria, a casa de Niet. La lembrei de todos os q me ensinaram algo sobre o referido filosofo, vc inclusive. Por isso, passei aqui para registrar e agradecer. Abcs
PS: perdoe os erros e as abreviacoes: eh q estou usando o confuso teclado de um hotel coreano.
Muitíssimo obrigado, Adriano!
ResponderExcluirÉ um poema lindo. Parabéns!
Que bela viagem, Aetano! Aproveite. E fico contente de você ter lembrado de mim. Quem agradece sou eu.
ResponderExcluirAbraço
É perigoso mesmo. Acho que no final das contas é o peixe que leva a melhor.
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