Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda a minha vida inteira.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. "Alguma poesia".
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
..."a poesia deste momento / inunda minha vida inteira."
ResponderExcluirDrummond... que beleza!
Cicero,
ResponderExcluirO máximo! Salve a Poesia de todo momento!
Abração,
A. Nunes.
Querido Cicero,
ResponderExcluirque coisa linda esse poema. Valeu o dia.
Beijo,
A poesia de Drummond é poesia para toda a vida, em todos os momentos, sempre, sempre, sempre.
ResponderExcluirCícero,
ResponderExcluirTodos que escrevem poemas já passaram por essa situação, mas Drummond soube achar poesia nisso.
JR.
ET: Acho que é "Gastei uma hora pensando um verso".
João Renato,
ResponderExcluirvocê está certo, é claro. é que escrevi de memória; e a memória às vezes falha. Vou corrigir.
Abraço
cá dentro, expressão interessante e delicadamente intimista.
ResponderExcluirBela lembrança...
DEBAIXO DO SOL
ResponderExcluir"escolhe, pois, a vida"
deuteronômio 40,19
Como condensar esta luz e jogá-la sobre a pele da página? Como transplantar mil árvores e fazer um bosque num deserto de sal? Como porejar este orvalho que a grama suou na febre verde da madrugada? E como, nas entranhas que partilhamos eu e o domingo, vestir com meu corpo nu a mulher deitada na memória? Como? Como filtrar este azul boquiaberto e banguela e derramá-lo na retina de um cego? E as línguas da luz falando calor e carícia? E o perfume quase venenoso da pitangueira? Como traduzir um cão dormindo? Como reivindicar a autoria da aurora? Como reduzir o horizonte irredutível e com a esferográfica recriar a máquina atordoada de um inseto? Como concorrer todas as palavras para o acidente fabuloso de uma manhã (que amanhã reinventa)? Como me traduzir, contemplativo, agudamente sólido mas dissolvido, esta aventura diária, epopéia de uma página? Como?
Não dá, simplesmente. Talvez fosse melhor que soubesses: amassa esta folha, depõe a caneta e vive.
Não podemos traduzir o dia, a vida. O dia é intraduzível. A vida é intraduzível. Mas a poesia tem o tamanho da vida.
Deixa ao menos que o poema te devolva ao mundo, com teus cinco sentidos e as mãos enormes.
***
abç, cicero.
obrigado pela lembrança destes versos de drummond, o incrível poeta que sabia ser grande e comoventemente pequeno.
observador,
ResponderExcluiro melhor de drummond é sempre parecer inédito!
grande abraço.
Belo poema esse de DRUMMOND !
ResponderExcluirEle é foda !!!!
Leio DRUMMOND desde os 13 anos quando ainda era estudante em Salvador.
Numa madrugada recente deparo-me com
esta joia drummondiana :
" Há que tentar o dialogo /
quando a solidão é vicio. "
Dei pulos de alegria !
Hoje aos 64 anos leio e amo cada vez
mais CARLOS DRUMMOND de ANDRADE !!
JORGE SALOMÃO RIO 2010
Cicero,
ResponderExcluirUm poema recente:
"O coração"
metáfora de carne,
sem osso, denso plexo
de sinapses complexo,
estrutura do cerne,
poros, pelos, pupilas,
pés, pescoço, pulmão,
vísceras, voz, visão.
vidas? como esculpi-las?
sobra de tempo, tédio,
fim, forma, fonte, fábula,
isca, escape da escápula,
no mediastino médio.
Abraço forte,
Adriano Nunes.
Antonio,
ResponderExcluirDrummond, um mestre maior. Poema para a eternidade!
Um poema meu:
"Canção para depois do pranto"
Pelas minhas tolas pupilas,
Essas vidas, como esculpi-las?
Pelas minhas tortas pupilas,
Tantas vidas! Como invadi-las?
Pelas minhas pobres pupilas,
Outras vidas - Como adquiri-las?
Pelas minhas tristes pupilas,
Nossas vidas. Quem vai senti-las?
Beijos,
Cecile.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDescobri a pouco tempo este espaço tão recheado de riqueza. Apreciar uma boa leitura é sempre bom. Parabéns pelo blog, e pela iniciativa de enriquecer nós leitores.
ResponderExcluirComo a inspiração surge do espanto
já diz o nosso grande Gullar e a primeira leitura que tive foi tão proveitosa,as palavras quiseram sair. e vieram assim:
Leitura
Quanto mais
me aventuro em leitura
mais descubro que sou
pequeno mesmo
nessa gaveta
do pó que sou
o vento leva
e nada resta do que antes era eu.
Do que antes, nada era eu-
mais me perco na imensidão
do mapa
das pessoas
das coisas
principalmente as boas
mais eu sei
que não sei
que não sabia
nunca soube
talvez...
nunca saberei.
Vivo
e desisto sempre
e sempre
volto
quanto mais procuro as luzes
mais encontro
paredes escuras
quanto mais me vejo no espelho
menor ficam as imagens.
Tão forte
eu fico
digo
quando leio
além dos olhos
quando sinto
além da pele.
Quando olho ao mar
e os peixes se escondem
ou nunca aparecem mesmo
aí eu volto
ao pó
volto a dar nó
nos ventos
que sopram no meu ouvido
então,leio
e vejo
que na floresta
se esconde muito
que os olhos embaçados
não captam
esse é o papel da leitura:
luta vã, de palavras
que romperam as manhãs de
Drummond
que rompem as almas
e o corpos
e as mentes
e a gente.
Quem dera fosse
toda nossa gente.