14.7.10

Carlos Drummond de Andrade: "Poesia"





Poesia


Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda a minha vida inteira.



DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. "Alguma poesia". Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

14 comentários:

  1. ..."a poesia deste momento / inunda minha vida inteira."

    Drummond... que beleza!

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  2. Cicero,

    O máximo! Salve a Poesia de todo momento!


    Abração,
    A. Nunes.

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  3. Querido Cicero,

    que coisa linda esse poema. Valeu o dia.

    Beijo,

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  4. A poesia de Drummond é poesia para toda a vida, em todos os momentos, sempre, sempre, sempre.

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  5. Cícero,
    Todos que escrevem poemas já passaram por essa situação, mas Drummond soube achar poesia nisso.
    JR.
    ET: Acho que é "Gastei uma hora pensando um verso".

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  6. João Renato,
    você está certo, é claro. é que escrevi de memória; e a memória às vezes falha. Vou corrigir.
    Abraço

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  7. cá dentro, expressão interessante e delicadamente intimista.

    Bela lembrança...

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  8. DEBAIXO DO SOL

    "escolhe, pois, a vida"
    deuteronômio 40,19


    Como condensar esta luz e jogá-la sobre a pele da página? Como transplantar mil árvores e fazer um bosque num deserto de sal? Como porejar este orvalho que a grama suou na febre verde da madrugada? E como, nas entranhas que partilhamos eu e o domingo, vestir com meu corpo nu a mulher deitada na memória? Como? Como filtrar este azul boquiaberto e banguela e derramá-lo na retina de um cego? E as línguas da luz falando calor e carícia? E o perfume quase venenoso da pitangueira? Como traduzir um cão dormindo? Como reivindicar a autoria da aurora? Como reduzir o horizonte irredutível e com a esferográfica recriar a máquina atordoada de um inseto? Como concorrer todas as palavras para o acidente fabuloso de uma manhã (que amanhã reinventa)? Como me traduzir, contemplativo, agudamente sólido mas dissolvido, esta aventura diária, epopéia de uma página? Como?
    Não dá, simplesmente. Talvez fosse melhor que soubesses: amassa esta folha, depõe a caneta e vive.
    Não podemos traduzir o dia, a vida. O dia é intraduzível. A vida é intraduzível. Mas a poesia tem o tamanho da vida.
    Deixa ao menos que o poema te devolva ao mundo, com teus cinco sentidos e as mãos enormes.

    ***

    abç, cicero.
    obrigado pela lembrança destes versos de drummond, o incrível poeta que sabia ser grande e comoventemente pequeno.

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  9. observador,

    o melhor de drummond é sempre parecer inédito!

    grande abraço.

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  10. Belo poema esse de DRUMMOND !
    Ele é foda !!!!
    Leio DRUMMOND desde os 13 anos quando ainda era estudante em Salvador.
    Numa madrugada recente deparo-me com
    esta joia drummondiana :

    " Há que tentar o dialogo /
    quando a solidão é vicio. "

    Dei pulos de alegria !
    Hoje aos 64 anos leio e amo cada vez
    mais CARLOS DRUMMOND de ANDRADE !!

    JORGE SALOMÃO RIO 2010

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  11. Cicero,

    Um poema recente:

    ‎"O coração"

    metáfora de carne,
    sem osso, denso plexo
    de sinapses complexo,
    estrutura do cerne,

    poros, pelos, pupilas,
    pés, pescoço, pulmão,
    vísceras, voz, visão.
    vidas? como esculpi-las?

    sobra de tempo, tédio,
    fim, forma, fonte, fábula,
    isca, escape da escápula,
    no mediastino médio.


    Abraço forte,
    Adriano Nunes.

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  12. Antonio,

    Drummond, um mestre maior. Poema para a eternidade!


    Um poema meu:

    ‎"Canção para depois do pranto"


    Pelas minhas tolas pupilas,
    Essas vidas, como esculpi-las?
    Pelas minhas tortas pupilas,
    Tantas vidas! Como invadi-las?
    Pelas minhas pobres pupilas,
    Outras vidas - Como adquiri-las?
    Pelas minhas tristes pupilas,
    Nossas vidas. Quem vai senti-las?



    Beijos,
    Cecile.

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Descobri a pouco tempo este espaço tão recheado de riqueza. Apreciar uma boa leitura é sempre bom. Parabéns pelo blog, e pela iniciativa de enriquecer nós leitores.
    Como a inspiração surge do espanto
    já diz o nosso grande Gullar e a primeira leitura que tive foi tão proveitosa,as palavras quiseram sair. e vieram assim:

    Leitura

    Quanto mais
    me aventuro em leitura
    mais descubro que sou
    pequeno mesmo
    nessa gaveta

    do pó que sou
    o vento leva
    e nada resta do que antes era eu.
    Do que antes, nada era eu-

    mais me perco na imensidão
    do mapa
    das pessoas
    das coisas
    principalmente as boas

    mais eu sei
    que não sei
    que não sabia
    nunca soube
    talvez...
    nunca saberei.



    Vivo
    e desisto sempre
    e sempre
    volto


    quanto mais procuro as luzes
    mais encontro
    paredes escuras
    quanto mais me vejo no espelho
    menor ficam as imagens.


    Tão forte
    eu fico
    digo
    quando leio
    além dos olhos
    quando sinto
    além da pele.

    Quando olho ao mar
    e os peixes se escondem
    ou nunca aparecem mesmo
    aí eu volto
    ao pó
    volto a dar nó
    nos ventos
    que sopram no meu ouvido

    então,leio
    e vejo
    que na floresta
    se esconde muito
    que os olhos embaçados
    não captam

    esse é o papel da leitura:
    luta vã, de palavras
    que romperam as manhãs de
    Drummond
    que rompem as almas
    e o corpos
    e as mentes
    e a gente.
    Quem dera fosse
    toda nossa gente.

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