A estrela fria II
Vieste em meio aos livros infantis
na tepidez das chuvas estivais
ao gosto vivo dos fonemas claros
na rima simples dos quintais.
Duraste a amplidão de uma tarde cara
e a minha sina te acolheu, tão viva
e a minha vida te abraçou, tão rara.
Ali, entre aventuras coloridas
no azul do mais azul dos sóis a pino
sagrou-se o meu destino; mais um pouco:
um certo jeito de sorrir que eu tinha
e o doce mandato da alegria
que vez por outra me acalenta a alma.
ALMINO, José. A estrela fria. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Caro Cícero,
ResponderExcluirBonito poema.
Bonito e cheio de sentimentos e emoções geralmente ausentes na poesia atual.
Uma dúvida: no quinto verso é "urna" ou será "uma" ?
Abraço,
JR.
Caro João Renato,
ResponderExcluiré "uma" mesmo. O scanner se enganou e não percebi, ao reler. Obrigado por me alertar. Já corrigi.
Abraço
Linda escolha esta sua,poeta sensível! Me permita aproveitar a deixa, e lembrar um poema lindo de Jose Almino que dá "pra ver colorindo", é A RASPA DO TACHO, óia só...
ResponderExcluirbeijos de poesia,
Nina
A RASPA DE TACHO
A vida miúda
e a velha a fiar:
um destino cocho.
Um riso de trovas
um mijo das trevas
um vezo aloprado
um peso azulado
um sino versátil
uma reza solar
e a raspa do tacho
e a velha a fiar.
JOSE ALMINO
belo poema...
ResponderExcluirna mesma clave:
FOTOGRAFIA
onde viridiana, lisandra, babi?
e os filhos sonhados quando
éramos sobretudo filhos?
onde elas todas?
o amigo que mudou de cidade,
mudou de cara, mudou de pele?
a vira-lata prenhe no muro
da casa acostada? onde a casa?
onde as antífonas da capelinha,
as aulas de eternidade
na duração infinita da missa?
onde o sol foz-iguaçuense?
que me escarnou a pele
e me tisnou o rosto,
pequeno caçador etíope.
onde o rosto?
onde as amoreiras?
que eram árvores sem nome
mas davam amoras
(dói saber que árvores têm nomes,
que amoreiras dão amoras, dói saber).
onde tudo isso?
em mim é que não permanecem.
talvez o passado exista sem ser memória
na dispersão da aura,
na concentração das pedras.
talvez apenas borrifou-se-me
um perfume antigo nos olhos
e eles ardem um sol nascente
e eles choram o orvalho do capim.
talvez apenas
o menino se esqueceu de mim.
***
(nota de rodapé de árvore)
voltei a foz há um ano.
comi amoras no pé, as mesmas amoras.
o pé e meus pés eram os mesmos.
o gosto mudou.
não voltei para casa
deliciosamente surrado,
com a hering exangue de
frutivoracidade.
e já não aconteceu
o limão frutificar
num galho invisível...
a amoreira, sem a infância
pesando no durame,
se não escrevo o poema,
não passa de uma amoreira.
r.m.
Cícero,
ResponderExcluirMuito obrigada por me apresentar a este poeta. Seu lirismo é carregado de ternura e suavidade.
Quanta delicadeza em um Mundo tão indelicado!
BJS!!!
Lou
Antonio Cícero, sempre apresentando poetas e poemas que antes eu não conhecia. Adoro crescer!
ResponderExcluirObrigada.
um poema
ResponderExcluirque acalenta
a alma de quem o lê.
Abraços.
Jefferson.
Cicero,
ResponderExcluirBelíssimo poema! Grato por compartilhá-lo!
Um poema recente:
"De silêncios, nós"
meu coração dis-
para: a vida fiz
de versos e voz.
de silêncios, nós.
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Cicero,
ResponderExcluirUm poema novo:
"vida-verso" - Para Nydia Bonetti.
resta o verso.
a vida é
nada, é tudo.
a vida é
todo o resto.
não me iludo.
nesta o ver-
so. a vida é
tudo, é nada.
a vida é
o reverso.
que cilada!
Abração,
Adriano Nunes.
Cicero,
ResponderExcluirUm novo poema:
"Onde a vida é feita" - Para Péricles Cavalcanti.
Nada me completa.
Sou quebra-cabeça
Faltando uma peça,
Sou mesmo poeta.
Em busca de mim,
Vivo. Sem saber
De nada, prazer
Encontro no fim
Do túnel, o verso,
Onde a vida é feita
De forma perfeita.
O lado perverso:
Se apenas me caço,
Perco outro pedaço!
Abração,
Adriano Nunes.
Querido Poeta!
ResponderExcluirHá poemas tão bons, que nos fazem retornar a eles muitas vezes, Estrela fria II é um canto tão bom, tão bom, que com aquele tenho aquecido meu dias.
Um beijo e obrigada por toda Poesia em Acontecimentos.
Carmen Silvia Presotto
www.vidraguas.com.br
tudo tão raro neste poema
ResponderExcluirEncantador poema, Antônio Cícero! O que, por certo, não surpreende, ante a maestria daquele que o selecionou para publicação neste blog.
ResponderExcluirA dança e a cor dos sons nos versos remetem a uma espécie de sensorialidade cognitiva, na leitura que nos pinta painéis de essência e visualidade. As rimas fluentes e eufônicas, bem como a poesia bem cuidada de quem vaticina por dom e felicidade, dão-nos a idéia de um passeio pelos campos da linguística.
Obrigado por nos presentear por dádivas como esta!
Com admiração,
Sayonara Salvioli
www.sayonarasalvioli.blogspot.com