5.1.10

Paul Valéry: de "Ego"




Tenho contra mim as pessoas dotadas de opiniões – quer dizer, as pessoas que se confundem com as opiniões que lhes ocorrem; as pessoas dotadas de convicções e fés.

Mas eu me distingo das minhas, e isso é quase o que me define. Sou aquele que não é / não sou / o que lhe ocorre.



VALÉRY, Paul. "Ego". Cahiers. Paris: Gallimard, 1973.

17 comentários:

  1. Caro Cícero,
    Creio que só com esse distanciamento conseguimos apreciar realmente um poema.
    JR.

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  2. "Um homem de condição social excepcional, dando sua opinião acerca de uma questão de nonada que se discutia à mesa, assim começou: só um mentiroso ou ignorante poderia negar que, etc. Eis um argumento filosófico apresentado de punhal na mão."

    (Montaigne. "Da arte de conversar". In: Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 424)

    "A obstinação e a convicção exagerada são a prova mais evidente da estupidez. Haverá algo mais afirmativo, resoluto, desdenhoso, contemplativo, grave e sério do que um burro?"

    (Ibid., p. 425)

    Lendo a última sentença, "in fine", duvidei se Montaigne também não teria sacado do punhal.

    Grato, Cicero.

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  3. Cicero,


    Bravo!


    Um poema-arte:

    "Poliedro"


    Minha vida
    É ver-tida.
    Talvez, arte,

    Tudo. Parte
    Do meu ser
    Um só ser-

    Vir à toa,
    Tal pessoa
    Para nada.

    Alma dada
    À vã sorte,
    De luz forte,

    Assim sou.
    Sem fins ou
    Fundo, ver-

    To do céu,
    Mesmo ao léu.
    Só suponho

    Ter do sonho
    Minha vida
    Con-sumida,

    Por um lá-
    Pis, ca-lá-
    La no ver-

    So. No fim
    Do momento,
    Tudo invento.


    Grande abraço,
    Adriano Nunes.

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  4. despede-te do ego
    abandona teu umbigo
    que te vê no espelho é cego
    embaralha-te comigo

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  5. Alguém disse que qto mais avançamos em idade, mais vamos pertencendo a um dos dois grupos: o que relativiza tudo ou o outro, de convicções intransigentes.(se puder escolher,quero estar entre os primeiros)

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  6. É complicado ter opinião contrária em país que sofreu com a inquisição.

    O pensamento único percorre as mentes.

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  7. Cicero, gosto muito disso:

    "Como todas as naturezas poéticas, Ele amava os ignorantes. Sabia que na alma de quem é ignorante existe sempre um lugar para uma grande ideia. Mas não podia tolerar os estúpidos, especialmente os estúpidos pela instrução: pessoas que estão cheias de opiniões, que elas próprias não entendem, um curioso tipo moderno, definido por Cristo quando descreve como o modelo daquele que tendo a chave da sabedoria, não sabe fazer uso dela, e não admite que outros a usem, muito embora tenha sido feita para abrir as portas do Reino de Deus."

    (Wilde. "De profundis". Tradução de José F. Ferreira Martins. São Paulo: Princípio Editora, 1994, p. 50)

    Abraços.

    P.S. Uma intensa Festa de Reis a todos.

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  8. "Eu sou um euzinho muito mixa. Mas com certa classe. Ser feliz é uma responsabilidade tão grande." Clarice

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  9. Muito bom!

    Lembra também as considerações de Blanchot sobre a amizade ;)

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  10. paulinho (paulo sabino)7 de janeiro de 2010 às 16:35

    que lindo, que consciência!

    é a sabedoria de saber-se não sabedor, é a sapiência de enxergar-se sem convicções e fés porque as coisas mudam, nós mudamos o tempo todo.

    como se "ser" fosse estar "não sendo" o tempo inteiro, já que a todo instante praticam-se mudanças internas, comportamentais, psíquicas. mudanças do ego, mudanças do eu.

    é importante ser não sendo. é o giro das transformações.

    paul valéry é o bicho (rs)!!

    beeeeeeeeijo nocê, delícia!!

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  11. Cicero,


    Um poema lunar:

    "Talvez, ela"



    Da janela,
    Talvez, ela
    Seja bela.

    Na aquarela
    Do céu, vê-la
    Feito estrela

    A brilhar,
    (No luar
    Desse olhar

    Que luz há!)
    Do meu lar,
    É sonhá-la.

    Eis a lua,
    Solta, nua,
    Já na rua.

    Alta a lua
    Continua,
    Bem na sua.

    Só cintila,
    Tal película,
    Na pupila.

    Refleti-la
    É senti-la
    Sobre a vila.



    Grande abraço,
    Adriano Nunes.

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  12. Amado Cicero,


    Um poema que fiz para você agorinha. Você que é a minha imensa luz. Se hoje sou um poeta (se tenho algum brilho) devo tudo a você. Sempre deixo claro isso. Talento sem uma orientação, um estímulo é nada. Muito obrigado!


    "Da noite, sobre a cidade" - Para Antonio Cicero.


    Confesso-me: não sou nada
    A não ser versos e sonho.
    Amo tudo e tudo exponho
    Do meu ser. A vida é dada

    A quem faz por merecê-la?
    Entrego toda a minh'alma
    D'uma vez, sem medo ou calma,
    Feito uma longínqua estrela

    A brilhar, pra que o breu verta
    Da noite, sobre a cidade
    Desconhecida, deserta.

    Não será felicidade
    Isso que mais me desperta,
    Mesmo que somente tarde?


    Grande abraço,
    Adriano Nunes.

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  13. Adriano,

    muito obrigado. É um belo poema. Mas não é verdade que você deva tudo a mim. Na verdade, não sei nem se você deve alguma coisa a mim: no máximo lhe dei algum estímulo, que é o que também recebo de você. Quando o conheci, através do blog, você já era poeta havia muito tempo. Acho que você escreve cada vez melhor, mas que só deve isso a si próprio. De todo modo, obrigado mais uma vez e parabéns pelo poema.

    Abraço grande

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  14. Tenho o ímpeto de lhe chamar Antônio, ou Cícero, mas acho muito íntimo para alguém que acabo de conhecer, também não quero dizer Antônio Cícero, o que sugere?

    É que entrei agora na "bolgsfera" e estou amando, seu blog é um dos meus favoritos. Na semana que você postou esse texto do Valéry postei uma crônica intitulada "Escolhas", que, ao que parece, têm algo em comum. Queria deixar o convite para quando quiser aparecer por lá:

    www.mareseressacas.blogspot.com

    Grande abraço da leitora e fã,
    Fernanda.

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  15. Obrigado, Fernanda.

    Uns me chamam de Antonio, outros de Cicero. Tanto faz para mim.

    Abraço

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