Tenho contra mim as pessoas dotadas de opiniões – quer dizer, as pessoas que se confundem com as opiniões que lhes ocorrem; as pessoas dotadas de convicções e fés.
Mas eu me distingo das minhas, e isso é quase o que me define. Sou aquele que não é / não sou / o que lhe ocorre.
VALÉRY, Paul. "Ego".
Cahiers. Paris: Gallimard, 1973.
EUS OU EU
ResponderExcluirCaro Cícero,
ResponderExcluirCreio que só com esse distanciamento conseguimos apreciar realmente um poema.
JR.
"Um homem de condição social excepcional, dando sua opinião acerca de uma questão de nonada que se discutia à mesa, assim começou: só um mentiroso ou ignorante poderia negar que, etc. Eis um argumento filosófico apresentado de punhal na mão."
ResponderExcluir(Montaigne. "Da arte de conversar". In: Ensaios. Tradução de Sérgio Milliet. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 424)
"A obstinação e a convicção exagerada são a prova mais evidente da estupidez. Haverá algo mais afirmativo, resoluto, desdenhoso, contemplativo, grave e sério do que um burro?"
(Ibid., p. 425)
Lendo a última sentença, "in fine", duvidei se Montaigne também não teria sacado do punhal.
Grato, Cicero.
Cicero,
ResponderExcluirBravo!
Um poema-arte:
"Poliedro"
Minha vida
É ver-tida.
Talvez, arte,
Tudo. Parte
Do meu ser
Um só ser-
Vir à toa,
Tal pessoa
Para nada.
Alma dada
À vã sorte,
De luz forte,
Assim sou.
Sem fins ou
Fundo, ver-
To do céu,
Mesmo ao léu.
Só suponho
Ter do sonho
Minha vida
Con-sumida,
Por um lá-
Pis, ca-lá-
La no ver-
So. No fim
Do momento,
Tudo invento.
Grande abraço,
Adriano Nunes.
despede-te do ego
ResponderExcluirabandona teu umbigo
que te vê no espelho é cego
embaralha-te comigo
Alguém disse que qto mais avançamos em idade, mais vamos pertencendo a um dos dois grupos: o que relativiza tudo ou o outro, de convicções intransigentes.(se puder escolher,quero estar entre os primeiros)
ResponderExcluirbem dito!
ResponderExcluirÉ complicado ter opinião contrária em país que sofreu com a inquisição.
ResponderExcluirO pensamento único percorre as mentes.
Cicero, gosto muito disso:
ResponderExcluir"Como todas as naturezas poéticas, Ele amava os ignorantes. Sabia que na alma de quem é ignorante existe sempre um lugar para uma grande ideia. Mas não podia tolerar os estúpidos, especialmente os estúpidos pela instrução: pessoas que estão cheias de opiniões, que elas próprias não entendem, um curioso tipo moderno, definido por Cristo quando descreve como o modelo daquele que tendo a chave da sabedoria, não sabe fazer uso dela, e não admite que outros a usem, muito embora tenha sido feita para abrir as portas do Reino de Deus."
(Wilde. "De profundis". Tradução de José F. Ferreira Martins. São Paulo: Princípio Editora, 1994, p. 50)
Abraços.
P.S. Uma intensa Festa de Reis a todos.
"Eu sou um euzinho muito mixa. Mas com certa classe. Ser feliz é uma responsabilidade tão grande." Clarice
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirLembra também as considerações de Blanchot sobre a amizade ;)
que lindo, que consciência!
ResponderExcluiré a sabedoria de saber-se não sabedor, é a sapiência de enxergar-se sem convicções e fés porque as coisas mudam, nós mudamos o tempo todo.
como se "ser" fosse estar "não sendo" o tempo inteiro, já que a todo instante praticam-se mudanças internas, comportamentais, psíquicas. mudanças do ego, mudanças do eu.
é importante ser não sendo. é o giro das transformações.
paul valéry é o bicho (rs)!!
beeeeeeeeijo nocê, delícia!!
Cicero,
ResponderExcluirUm poema lunar:
"Talvez, ela"
Da janela,
Talvez, ela
Seja bela.
Na aquarela
Do céu, vê-la
Feito estrela
A brilhar,
(No luar
Desse olhar
Que luz há!)
Do meu lar,
É sonhá-la.
Eis a lua,
Solta, nua,
Já na rua.
Alta a lua
Continua,
Bem na sua.
Só cintila,
Tal película,
Na pupila.
Refleti-la
É senti-la
Sobre a vila.
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Amado Cicero,
ResponderExcluirUm poema que fiz para você agorinha. Você que é a minha imensa luz. Se hoje sou um poeta (se tenho algum brilho) devo tudo a você. Sempre deixo claro isso. Talento sem uma orientação, um estímulo é nada. Muito obrigado!
"Da noite, sobre a cidade" - Para Antonio Cicero.
Confesso-me: não sou nada
A não ser versos e sonho.
Amo tudo e tudo exponho
Do meu ser. A vida é dada
A quem faz por merecê-la?
Entrego toda a minh'alma
D'uma vez, sem medo ou calma,
Feito uma longínqua estrela
A brilhar, pra que o breu verta
Da noite, sobre a cidade
Desconhecida, deserta.
Não será felicidade
Isso que mais me desperta,
Mesmo que somente tarde?
Grande abraço,
Adriano Nunes.
Adriano,
ResponderExcluirmuito obrigado. É um belo poema. Mas não é verdade que você deva tudo a mim. Na verdade, não sei nem se você deve alguma coisa a mim: no máximo lhe dei algum estímulo, que é o que também recebo de você. Quando o conheci, através do blog, você já era poeta havia muito tempo. Acho que você escreve cada vez melhor, mas que só deve isso a si próprio. De todo modo, obrigado mais uma vez e parabéns pelo poema.
Abraço grande
Tenho o ímpeto de lhe chamar Antônio, ou Cícero, mas acho muito íntimo para alguém que acabo de conhecer, também não quero dizer Antônio Cícero, o que sugere?
ResponderExcluirÉ que entrei agora na "bolgsfera" e estou amando, seu blog é um dos meus favoritos. Na semana que você postou esse texto do Valéry postei uma crônica intitulada "Escolhas", que, ao que parece, têm algo em comum. Queria deixar o convite para quando quiser aparecer por lá:
www.mareseressacas.blogspot.com
Grande abraço da leitora e fã,
Fernanda.
Obrigado, Fernanda.
ResponderExcluirUns me chamam de Antonio, outros de Cicero. Tanto faz para mim.
Abraço