19.8.09

O país das maravilhas









O PAÍS DAS MARAVILHAS

Não se entra no país das maravilhas
pois ele fica do lado de fora,
não do lado de dentro. Se há saídas
que dão nele, estão certamente à orla
iridescente do meu pensamento,
jamais no centro vago do meu eu.
E se me entrego às imagens do espelho
ou da água, tendo no fundo o céu,
não pensem que me apaixonei por mim.
Não: bom é ver-se no espaço diáfano
do mundo, coisa entre coisas que há
no lume do espelho, fora de si:
peixe entre peixes, pássaro entre pássaros,
um dia passo inteiro para lá.



CICERO, Antonio. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002.

19 comentários:

  1. Boa noite, Cícero. Coincidência, há umas duas semanas recebi este teu poema de uma amiga e muito me tocou, tanto que o certamente o colocaria em uma antologia dentre os melhores de língua portugesa que já li. Agora vc nos brinda com ele nesta postagem, duplamente, nas palavras, e na voz do criador.
    Parabéns, belíssimo poema.

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  2. Maravilhoso anti-Narciso às portas de outras percepções.
    Que privilégio ter acesso a essas leituras.
    Sublime epifania.
    Gratíssimo pela generosidade.
    Abraço.

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  3. a limpidez do mundo no espelho do seu 'fora'. D+

    Maravilha!

    Um abraço.

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  4. que lindo. sua voz lendo está muito bonita também.

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  5. Cicero,


    Ouvi-lo/lê-lo é estar dentro do âmago da alegria, é ver todos os mundos existentes e imagináveis de uma só vez. Belíssimo, meu amado amigo! Como seria maravilhoso que em seu novo livro de poemas estivesse anexado um cd com os poemas nele contidos, assim como um dos livros do Arnaldo Antunes. Seria uma dádiva! Não pensou nisso? Mesmo que saísse um pouco mais caro, quem não compraria?



    Grande abraço,
    Adriano Nunes.

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  6. Queridos amigos,

    agradeço a todos pelos elogios. Adriano, vou sugerir isso à editora.

    Abraços

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  7. sim, sim, como um livro metafísico que tem um encarte com o Gilberto Gil tocando suas músicas só com o violão - acho o melhor cd dele.

    poema lindo! não deve ter Sarneys desse país, quando muito, Marinas. essa ideia da fuga de si, ekstasis, evoca os versos do Lucrécio, mas eu não sei latim:

    "hoc se quisque modo fugit, at quem scilicet, ut fit,/
    effugere haut potis est: ingratius haeret et odit/
    propterea, morbi quia causam non tenet aeger;/
    quam bene si videat, iam rebus quisque relictis/
    naturam primum studeat cognoscere rerum,/
    temporis aeterni quoniam, non unius horae,/
    ambigitur status, in quo sit mortalibus omnis/
    aetas, post mortem quae restat cumque manenda." (De rerum natura, III, vv.1068-75).

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  8. Antonio,

    Para você, em homenagem a essa maravilha de poema:


    "CICERO"


    Dentro do centro
    Dessa alegria,
    Abrigaria
    Cada centímetro


    Da tua métrica,
    Pra ser feliz.
    Assim me fiz,
    Arte mimética,


    Pra tudo ou nada,
    Prática pressa,
    Na madrugada


    Mágica. És essa
    Proeza dada à
    Vida, promessa.



    Beijos,
    Cecile.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Caro Antonio,

    Gosto muito desse poema, em especial da sua leitura. Concordo com a sugestão do Adriano, seria ótimo contar com as gravações dos novos poemas!

    Parabéns!

    um abraço,
    Lucas

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Cicero
    Ci
    Alicia

    ***

    Bem-agradecido!

    Aeta

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  13. Arrebatador ...
    Um poema arrebatador, forte, intenso e imenso!
    Uma inspiração perfeita!


    Beijos.


    Wallace F.

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  14. Coincidentemente, li e reli A Cidade e os Livros esses dias, e reli ainda mais O país das maravilhas. Resolvi postar o poema no blog, lembrei de visitar o seu, e era justamente o último poema publicado.
    Também hoje conheci um outro blog, A Home for Alice, um projeto em que se pede para que você envie uma Polaroid da fachada da sua casa. Junto com a foto, um pequeno texto explicando por que sua casa não é só uma casa, mas um lar. As fotografias são lindas, assim como os textos e até os envelopes. O endereço do projeto é esse aqui: http://ahomeforalice.blogspot.com/

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  15. cheguei aqui, fiz uma coisa que não costumo fazer, que é ler TODOS os comentários postados (sempre leio alguns), e fiquei pensando o que escreveria para você...

    tanta coisa bacana e bonita já dita, que não desejo me dar o trabalho (rs).

    fica, somente, registrada a minha presença e a minha concordância com tudo o que disseram a respeito das suas linhas.

    beijo, meu ETERNO porto de luz e inspiração!

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