23.7.09

Rainer Maria Rilke: "Ernste Stunde" / "Hora grave": tradução de José Paulo Paes

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Hora grave


Quem chora agora em algum lugar do mundo,
sem razão chora no mundo,
chora por mim.

Quem ri agora em algum lugar da noite,
sem razão se ri na noite,
ri-se de mim.

Quem anda agora em algum lugar do mundo,
sem razão anda no mundo,
vem para mim.

Quem morre agora em algum lugar do mundo,
sem razão morre no mundo,
olha para mim.



Ernste Stunde


Wer jetzt weint irgendwo in der Welt,
ohne Grund weint in der Welt,
weint über mich.

Wer jetzt lacht irgendwo in der Nacht,
ohne Grund lacht in der Nacht,
lacht mich aus.

Wer jetzt geht irgendwo in der Welt,
ohne Grund geht in der Welt,
geht zu mir.

Wer jetzt stirbt irgendwo in der Welt,
ohne Grund stirbt in der Welt:
sieht mich an.



De: RILKE, Rainer Maria. Poemas. Tradução e introdução de José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

11 comentários:

  1. Para além das razões - os caminhos do Poeta. Lindo poema!

    Verso-serpentina

    (enquanto festejam lá fora
    eu aqui sentado escrevo
    e sinto sentado.
    quatro da manhã
    depois de já dormir
    penso na vaidade de um verso
    que se quer registrar,
    se quer lido)

    então um verso-serpentina
    enrolado ao tempo breve
    feito para jogar ao chão
    em ondulação aérea

    ouvindo
    um verso claro
    - que em seu curso
    se evapora no suor de fazê-lo
    como quem brinca
    - sem fantasia,
    sem co
    (memoração)

    Jefferson Bessa

    Obrigado.
    Um abraço.

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  2. morangos mofados reloaded

    p/ caio f., ana c. e antônio cícero

    I.
    me viste no shopping
    como quem vira um fantasma
    não tema, não fuja
    capaz
    sou de nada

    II.
    se houve algo esquisito, não sei
    já no carro, acelero
    no vidro da frente, amassado
    um mosquito

    III.
    como passa rápido a vida
    sinal que não abre - uma eternidade
    me lembro do beijo, uma buzina
    me alerta
    era tudo de verdade?

    IV.
    agora que somos estranhos
    até voltei a escrever

    V.
    se me vires novamente
    esconderás de novo o que sentes?
    deu pra ver o tamanho do seu medo
    (no seu susto)
    através de seus dentes

    VI.
    tá bom, deu errado
    melhor deixar tudo no passado
    (cheguei em casa)
    subo as escadas
    agora que sou casado

    VII.
    sua foto no orkut não é de agora
    deslogo
    desligo
    pronto pra dormir

    VIII.
    sonho de padaria suburbana
    - isso não é vida, cara!
    (disse sua família ao chegar de nova iorque)

    IX.
    acordo.

    (Nobile, 23.07.2009)

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  3. Para mim Rilke é sempre tão bem vindo...poi se é meu livro de cabeceira, o Cartas a um jovem poeta.(bom seria q os poetas e os pretendentes à, lêssem).
    Neste "Hora grave" seu estilo limpo e fluído não esconde a profundidade do sentido.
    Obrigada
    Angela

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  4. O que nos conduz à morte também é um caminho.

    Construímos pontes, dinamitamos antigas passagens,

    levantamos nossos filhos e partimos para não voltar.

    Não há arrependimento para a vida.

    Nossas obsessões estão a sete chaves do inferno.

    Nossos sonhos, a sete palmos.

    Um beijo lavra a superfície do carinho.

    Do amor viemos: para amar nascemos.

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  5. Em linhas azuis (escrevo)
    Alguns traços da memória
    Jogo silábico fortuito
    Sem intuito a não ser
    Pertencer
    A esse cálido momento raro
    Acesa a lamparina
    Colho algumas uvas no quintal
    Tanta coisa já não me pertence
    Tanta certeza, tristeza
    Se foi
    Que decerto beberei de novo um dia
    Da mesma fonte da minha alegria.

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  6. cheguei aqui através do link da poesia incompleta e achei o seu blog lindo. a sua poesia é maravilhosa e os poemas que aqui põe são formidáveis.

    um abraço,
    rui

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  7. lindo poema, cicero!, a respeito dos passos que convergem, que se encontram, sem razões, sem certezas, sem juízo de muita coisa: os meus, os seus, os passos de todos - nos risos, nas lágrimas, nas dores, nos amores.

    lembraram-me, os versos de rilke, estes aqui, de drummond, vindos até mim, há pouco, por conta de fernando pessoa: "tenho apenas duas mãos/ e o sentimento do mundo".

    ADOREI!

    beijo, lindeza!

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  8. Nossa, fazia um tempo que eu não passava por aqui. Acho que esse poema me chamou, rs. Arrepiei!!!

    Obrigada!! E beijos!

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  9. Não nos esqueçamos de que por trás da beleza de um poema traduzido está a poesia de um tradutor.
    Belíssima essa transcriação do maravilhoso poeta José Paulo Paes.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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