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Lira quebrada
[...]
Uma febre, um ardor nunca apagado,
Um querer sem motivo, um tédio à vida
Sem motivo também,—caprichos loucos,
Anelo d'outro mundo, d'outras coisas;
Desejar coisas vãs, viver de sonhos,
Correr após um bem logo esquecido,
Sentir amor e só topar frieza,
Cismar venturas e encontrar só dores;
Fizeram-me o que vês : não canto,
sofro! Lira quebrada, coração sem forças
De poético manto as vou cobrindo,
Por disfarçar desta arte o mal que passo.
[...]
De: DIAS, Gonçalves. "Lira quebrada". Últimos cantos. Rio de Janeiro: Typographia de F. de Paula Brito, 1851.
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ResponderExcluirque seja triste e tudo, mas é uma gracinha esse poema né...parece de um adolescente de treze anos.
ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluirUma bela lembrança esse poema,recordei outro :
"Tu pedes-me um canto na lira de amores,
Um canto singelo de meigo trovar?!
Um canto fagueiro já — triste — não pode
Na lira do triste fazer-se escutar.
Outrora, coberto meu leito de flores,
Um canto singelo já soube trovar;
Mas hoje na lira, que o pranto umedece,
As notas d'outrora não posso encontrar!
Outrora os ardores que eu tinha no peito
Em cantos singelos podia trovar;
Mas hoje, sofrendo, como hei de sorrir-me,
Mas hoje, traído, como hei de cantar?
Não peças ao bardo, que aflito suspira,
Uns cantos alegres de meigo trovar;
À lira quebrada só restam gemidos,
Ao bardo traído só resta chorar. "
(Gonçalves Dias - Que me Pedes)
Abraço , Ricardo Soutto Maior
Belo, belo... vida noves fora zero.
ResponderExcluirAeta
Querido Cicero,
ResponderExcluircomovente o poema. Lembro que certa vez você contou uma história de infância envolvendo Gonçalves Dias e a descoberta da poesia. Foi esse o poema que leu naquela ocasião?
Um beijo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAntonio Cicero, hoje, minha Lira quebrou,um ser amado foi-se, envenenado... procurei a poesia para não sucubir e te envio um pouco da Flavia Muniz como uma oferta a serenidade que a tua poesia me traz...Obrigada.
ResponderExcluir"Plantei um poema-carta para dizer: o amor sabe escrever seus silêncios. Fiz isso, pois as letras têm pés e curvas e podem tocar os olhos e fazer afagos. É o arredonado dos abraços que cabe no círculo da boca a dizer(quem diz fala do tempo e da alma, dos tapetes voadores e histórias fantásticas). Mas uma imagem caberia bem melhor nestes sobrevoos: um balão movido por intensas labaredas de fogo a sobrevoar toda a cidade. E lá do alto avistasse o potencial humano de mudar o rumo das coisas. Meu trifásicoração a eletrificar os postes das ruas pavimentadas. Transeuntes a movimentar o moto-contínuo aqui-agora dos seres. Não sei voar, por isso canto."
Cicero,
ResponderExcluirEspero que goste dessa minha astúcia com os versos rsrsrs!
"QUASE PARNASIANO"
DOZE PEQUENAS PARTES, UM DODECASSÍLABO.
PERDIDA AQUELA LÁ, SOMAM-SE ONZE SÍLABAS.
PARA O SONETO SÁFICO, UM HERÓICO
MOVIMENTO DE NOVE PARTÍCULAS:
UMA A UMA SONDAM OITO SONS,
QUASE QUEBRANDO A MAIOR
DE TODAS AS SEIS FILHAS,
MENOR REDONDILHA.
QUATRO UNIDADES,
OUTRAS TRÊS.
DISSÍLABOS?
VERSO UM
A
UM.
ABRAÇÃO!
ADRIANO NUNES.
Não, Arthur. Na época foi o I-Juca Pirama.
ResponderExcluirAbraço
Adorei, Adriano! Ótimo!
ResponderExcluirAbraço
Cicero,
ResponderExcluiroutro soneto:
"À LA CARTE"
A morte me morde
Sempre todo dia.
Ferindo-me, fria,
Quer que me recorde
Disso: acolá, cá,
Dos caninos dentes,
Das presas potentes,
Que vive a fincar,
Forte, em minha carne,
E, dilacerando-a,
Feito uma leoa,
Come, numa boa,
A minha pessoa
E todo o meu cerne.
abração!
adriano nunes.
maravilha o poema!
ResponderExcluiruma outra maneira de um bardo dizer-se astuto na elaboração de seus versos, já que, aqui, também, a vida camuflada, disfarçada, reelaborada, através desta arte, a arte poética.
tudo lindo, benvindo!
beijo, vate vivo de vida!