18.7.09

Diamante

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Às vezes não me reconheço mais num poema que tenha escrito há muito tempo. É que deixei de ser exatamente aquele que o fez. Assim foi em relação ao poema “Diamante”, que escrevi há muito tempo. Por isso, não o incluí em livro nenhum. Em junho de 2007, porém, ele foi publicado na revista Joyce Pascowitch. Arthur Nogueira o leu e achou bom. Graças a isso, acabei, aos poucos, por me reconciliar com ele: e até com a fase da minha vida em que foi escrito. Assim, acabei resolvendo fazer uma gravação caseira de “Diamante” e postá-la aqui:





DIAMANTE

O amor seria fogo ou ar
em movimento, chama ao vento;
e no entanto é tão duro amar
este amor que o seu elemento
deve ser terra: diamante,
já que dura e fura e tortura
e fica tanto mais brilhante
quanto mais se atrita, e fulgura,
ao que parece, para sempre:
e às vezes volta a ser carvão
a rutilar incandescente
onde é mais funda a escuridão;
e volta indecente esplendor
e loucura e tesão e dor.

20 comentários:

  1. Excelentes o poema, a leitura e a qualidade do áudio.

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  2. Caro Antonio Cícero,

    Ainda bem que se reconciliou com este seu "Diamante" e o publicou: belo.

    Domingos da Mota

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  3. Cicero,

    Esse soneto é mesmo encantador. Suas oito sílabas tônicas, seu contexto, tudo polido, valem o vate, grande poeta.
    A seuqência repetitiva da vogal "e" movimentando o poema ("seria fogo ou ar?" - o fogo das paixões avassaladoras? o ar da ARte poética? o ar hermético dos sentimentos sufocantes?), ligando cada verso, cada palavra, criando liames, laços (não seria assim o amor?), gerando uma tensão rítmica alternante, que não se pode prever: 3/6/8, 1/4/8, 3/5/8, 2/5/8... numa cadência que remete às batidas cardíacas, palpitantes, de quem envolvido está pelo amor. (não seriam assim as pancadas do imprevisível amor?).
    Notar as belíssimas anáforas compondo um ritmo à parte, também mutável, dinâmico, e as aliterações "internas", cravadas no poema, causando uma intensidade luminosa, que espanta: como não perceber a palavra "mais", em dois versos distintos, ocupando a terceira sílaba, tornando outros vocábulos, como "tão" e "tanto" mais evidentes, provocando no leitor uma sensação de quão intenso é mesmo esse amor.
    O amor que fulgura, que atrita, que pode virar carvão, pegar fogo, produzindo chamas, luz, calor, consumindo-se, reinventando-se, renascendo feito fênix, ofertando tesão e dor.
    Fogo? A dor da queima. Seu brilho ofusca e cega então o poeta.
    Sim, Cicero, o seu soneto, como visto pelo Arthur Nogueira, é um DIAMANTE ÚNICO, VERDADEIRO. Nunca saberemos do seu quilate por completo. Agora, depois de tanto tempo envolto nas trevas das gavetas, ele só precisa reluzir... e já muito reluz!


    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

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  4. Ainda bem que houve reconciliação e com gravação.
    Diamante geralmente em cristais com forma octaédrica.Amor , muitas vezes é um raro diamante azul com reflexos de branco .Corta com precisão , marca com sentimento tão profundo que nem sempre trás sentidos , puro arde exposto a uma chama , transforma-se , é solúvel exceto a altas pressões , é o mais resistente com dureza de 10....brilho é adamantino pela refração e o valor reside em ausências totais...diamante um raio que corta mesmo que na escuridão e o amor carvão queima ,consome .

    C.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Gostei muito do poema. A sua leitura também ficou excelente. Bom que decidiu publicá-lo.

    Um abraço.
    Jefferson.

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  7. Olá cícero,

    Interessante é essa maneira afetuosa de nos relacionarmos com nossas criações: a condicionamos como criaturas que ora afagamos ora repelimos.
    Os poemas, especialmente, têm vida, cores, humores. Às vezes são eles que nos afastam com suas delicadas inteirezas, tomam outros rumos e vão saborear olhos e sensações de outros leitores. Às vezes basta um outro leitor para elidir novas sensações... e o poema acontecer. Também tenho escritos que deposito certo distanciamento, mas que tocam outros leitores e crescem e me surpreendem.
    Pelos comentários vê-se que o poema é bom. Também achei. Está certinho, redondo, tanto no trabalho do tema quanto na forma nada escapa... Mas será isso o amor, o diamente... não?

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  8. Cicero,



    Gosto muito de Mário de Sá-Carneiro e sempre fui comovido por sua trágica vida. Amo-o e essa é a minha gratidão para com ele por ter-me mostrado uma outra poesia, "um outro":


    "In Locu" - para Mário de Sá-Carneiro.


    Converso com as gavetas.
    Paquero mesmo as paredes.
    Os armários? Posso amá-los


    Sem medo. Movem-se os móveis
    Pelo quarto. São só quatro
    Horas da tarde e tudo arde,


    Em segredo, no silêncio.




    Abração!
    Adriano Nunes.

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  9. Líquido

    A gota d’água
    Se mantém graças
    Às suas extremidades
    Que contém o líquido
    Que não extravasam
    Pela força que repele
    A outra matéria
    O artista é um delirante
    Ele mesmo um diamante
    Forjado
    E amalgamado
    Na sua dor
    No seu amor.

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  10. Diamante é tua poesia trabalhada com maestria no mais puro da entrega brilha ...
    Ricardo Soutto Maior

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  11. Está logo em cima do poema escrito, Flávia.

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  12. Querido Cicero,

    que satisfação saber que contribuí para você se reconciliar com esse belo poema. Adorei a gravação, as modificações e a gentil citação a mim - que honra.

    Um beijo enorme.

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  13. Prezado Cícero,
    Uma relação viciada liga o poema ao poeta, mas não ao leitor.
    O poema é lindo e universal.
    JR.

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  14. Precisa abrir o post com os navegadores Internet Explorer ou Opera para "aparecer" o audio. No Mozilla Firefox não aparece.

    Detalhe técnico.

    Aproveitando a carona, a leitura de poemas os tranforma em outros. Melhor ainda se forem feitas pelos autores. Valem um tanto o exercício.

    Normalmente ficam melhores.

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  15. Querido Arthur,

    quem agradece sou eu. Você fez o poema voltar a rodar na minha cabeça, até que me dei por vencido.

    Beijo

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  16. Gostei muito do poema e da leitura.

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  17. uau, que leitura linnnnda! AMEI!

    e um "viva!" ao arthur nogueira, que o fez reconciliar-se com as linhas, tão lindas, de imagens belas, concentradas, como o é o diamante.

    adorei essa idéia desse amor vivido, ao invés de fogo e ar, ser terra. exuberante o recurso!

    beijo, meu querido!

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