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Heroísmos
Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.
Eu temo o largo mar rebelde, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
Os ruídos dum túmulo disforme.
Contudo, num barquinho transparente,
No seu dorso feroz vou blasonar,
Tufada a vela e n'água quase assente,
E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,
Escarro, com desdém, no grande mar!
De: VERDE, Cesário. O livro de Cesário Verde. Edição revista por Cabral do Nascimento. Lisboa: Minerva, s.d.
Cícero, o mar é um desses abismos chamativos que atraem os poetas. A poesia portuguesa deve muito ao mar. Eu diria que o mar deve muito mais a poesia portuguesa.
ResponderExcluirHá um poema seu de que gosto muitíssimo, "Leblon".
Deixo abaixo um poema como um diálogo/homenagem ao seu "Leblon"
há sempre alguém na areia
olhando em direção ao mar,
o mundo, às costas, serpenteia,
alheio ao vasto azul sem par,
repleto de vozes de sereia,
aberto ao transe desse olhar.
Cicero,
ResponderExcluirQue belíssimo soneto! Ótima escolha!
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Caro Antonio Cícero,
ResponderExcluirSegundo a OBRA COMPLETA DE CESÁRIO VERDE, colecção Poetas de Hoje, Portugália Editora, Lisboa,Fevereiro de 1964, organizada, prefaciada e anotada por Joel Serrão, este belo soneto de Cesário Verde (o qualificativo é meu), não faz parte de «O Livro de Cesário Verde», mas sim de um outro grupo de POESIAS NÃO INCLUÍDAS EM «O LIVRO DE CESÁRIO VERDE»; isto é só uma pequena anotação, que para o caso do poema em si e do seu autor não tem grande valor, mas poderá ter algum interesse para os estudiosos do poeta.
Obrigado pela escolha.
Domingos da Mota
Raízes
ResponderExcluirMeu outro quer a lua fria
Meu outro quer ouvir a redondilha
Quer o piano tocado
Amado
Enlaçado, possuído e vivido
em tantos momentos
A memória
Meu outro sobrevoa impactado
Nem bem nem mal humorado
Procura as raízes
Nós em nódoas
Berço e poda
(é foda!)
Caro Cícero,
ResponderExcluiresse poema de Cesário Verde me encanta sempre que releio. O modo como ele apresenta o mar - o grande símbolo português. O heroísmo em navegar em um barquinho transparente que desdenha do grande mar! É muito bommmmm mesmo!
Um abraço.
Jefferson.
Caro Domingos da Mota,
ResponderExcluirObrigado pelo esclarecimento. O soneto está incluído na edição do Livro de Cesário Verde que tenho, mas seu editor, o Cabral do Nascimento, explica que foi por motivo de conveniência editorial que incluiu no mesmo tomo “as composições diversas, não aproveitadas para a colectânia definitiva”
Abraço
Uma escolha maravilhosa !
ResponderExcluirC.
lindo mesmo!...
ResponderExcluiras imagens, fortes!, poesia pura!
um homem, tão pequenino, tão grão de sal na imensidão de um mar vociferante, rebelde, com seus cabelos de água e espuma desalinhados, revoltos, desprezando a sua força, a sua potência, e nele escarrando, de dentro de um barquinho transparente, numa atitude de desprezo e deboche, é sensacional!
o desdém do vate é grande demais, equivalente ao tamanho de quem o despertou, tão alto e feroz quanto a própria força do mar.
tudo lindo, tudo bacana, meu poeta porreta!
como sempre, arrebentando em suas postagens!
beijo terno e carinhoso.
Boa tarde, Cícero, o maior poder que temos contra os monstros que criamos é ignorá-los, vivermos deles descuidados. Levar a vida na flauta, como se diz... o som é doce, e adormece nossos medos. Lindíssimo poema do Cesário Verde.
ResponderExcluirGrande abraço.
Segue um poema de Cesário Verde bem legal!
ResponderExcluirAmo insensatamente os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.