.
ai que vontade de largar tudo
virar música
e sair por aí
de dentro dos radinhos de pilha
entrar pelos ouvidos das moças
vibrar nos ossos das pessoas
ai que vontade de deitar nu
numa nuvem numa boa
virar chuva
e cair por aí
molhar a copa das árvores
o capô dos automóveis
refrescar a cabeça das pessoas
me largar
lavar o ar
e pingar sobre a Lagoa.
De: AMARAL, Dado. Olho nu. Rio de Janeiro: Mundo das Idéias, 2008.
ôi Cícero
ResponderExcluirGosto deste poema quase-brinquedo, onde o prazer estético é fácil e nem por isso, menor. Arrisco-me(nunca o fiz antes)de apresentar algo meu, neste mesmo registro (não sem medo...)
Trabalho Noturno
Na noite escura, o relógio produz unidades de tic-tac,milhares... a mim me é dado o trabalho de empilhá-los um a um.
No escuro, um avião cruza ruidosamente o céu de minha noite, a mim me é dada a tarefa de medir, com uma régua, o som comprido.
No escuro, os cães grandes latem quadrado e são seguidos por latidinhos redondos dos cães menores.
A mim me cabe, guardar os quadrados em caixas e os redondos em latinhas.
Na noite quente, as estrelas derretem
e a mim me é dado moldá-las para a noite seguinte.
No meio da noite escura, um galo canta fora de hora
E eu preciso anotar esta extravagância.
Na noite densa, meus pensamentos fogem e é preciso conduzi-los de volta, gado xucro ao curral.
Na noite funda, um medo monstro abre boca e preciso suportar o seu hálito até o dia clarear.
Nossa, lindo. De verdade.
ResponderExcluirNão conhecia, vou buscá-lo.
parece coisa do grande jorge mautner, este poema.
ResponderExcluircicero, poderia por favor dizer o titulo original em italiano do livro de massimo cacciare "nietzche e jesus"?
obrigado,
abraço,
luiz
Antonio,
ResponderExcluirQue belo poema! Ganhei o dia hoje! Parabéns pela postagem!
***SÓ SILÊNCIOS EM REDOR***
Perco-me contando as horas.
Há tanta alegria ali.
Por que tu sempre demoras
Pra trazer tudo de ti
Pra mim? Que ainda preciso
Desse drama, teu teatro
Inacabado, impreciso?
Por que sempre te idolatro?
Quanta gritaria além
Dos berros do coração,
Ecos, ruídos, desdém
De alguém, poemas não são?
Só silêncios em redor.
Encontro-me tonta agora.
Lá fora, será pior?
Pressinto que foste embora.
Beijos,
Cecile.
Cicero,
ResponderExcluirNão conhecia o autor e vou em busca desse livro em breve!
"INFECUNDO"
Um poema,
Que pretende?
Mesmo preso
À vontade
De lançar-se
A vazios,
A segredos,
Não se agrega,
Um poema,
A nenhum
Pensamento.
Foge apenas
Do comum,
Desse mundo
Violento
Que se vale
De verdades,
Infecundo,
De vis regras,
Afastando-se
Desse frio
Julgamento
Sempre feito
Imperfeito
Por vassalos
Encefálicos.
Abraço forte!
Adriano Nunes
Junto-me ao coro: adorei conhecer o Dado Amaral.
ResponderExcluirAntonio Cicero é um garimpeiro chique.
E quem se dá bem somos nós.
Obrigado por isso.
Ps.: pena que Dado fechou o blog Poeria - há outro aberto?
Cicero,
ResponderExcluirPAX, adorei o título que você deu ao Cicero: GARIMPEIRO CHIQUE!
Com certeza, saímos todos nós ganhando essas pérolas descobertas, essas safiras, esses rubis,esses diamantes poéticos!
Um abração em ambos!
Adriano Nunes.
Caro Antonio Cícero,
ResponderExcluirum belo poema.
Desconhecia o poeta, vou procurar os seus livros.
Obrigado por partilhar.
Domingos da Mota
Poeta,
ResponderExcluirDado diz coisas tão achegadas ao que sinto neste poema...Muito Boa a tua sensibilidade na apuração desses poetas! Beijos daqui,
Pra ti estas linhas...
Opostos A Postos!
Quando ele era Pascal,
Ela era Carmem Miranda
Ele fala em Schopenhauer
Ela, em Elvis e sua banda
Ele releu Zarastruta
Ela diz que ali tem truta
Ele acha Nietzsche legal
Ela diz que ele é biruta
O que dizer de Confúcio ?
Se ela diz : -melhor é o Lúcio
Ele então quis ponderar
Perguntou de Kierkgaard
Ela foi rumo à janela
Fitou o verde do mar
E sapecou :- sou mais o Edgar!
Ele fez uma gracinha
Aquele que é Allan Poe?
Ela disse :- é Scandurra, benhe!
Guitarra que grita às turra
No bamba do grupo Ira
Que tem por fã a Zulmira
Ele disse: ah,isso não...
Socorro, chamem Platão!
Deem-me frase de Heráclito
Porque ela é o próprio cão !
Diz que Freud é um lunático,
Que só cura "telepático"
Preferia o performático
Fred, vulgo Queen-emoção!
Socorro, chamem a perícia!
Que eu matei, mas estou limpo!
Vou correndo até o Olimpo
Deuses!!! Eu luto com afinco
Diploma , juntei uns cinco
E ela diz que não sou prático
Enquanto vive enrolando
Supletivo com o “Marlon Brando”
Seu instrutor tão simpático...
Nina Araújo.
o poeta mora na palavra
ResponderExcluira palavra não tem telhado
quando cai a chuva
o poeta chove no molhado
Caro Luiz,
ResponderExcluirNa verdade não é um livro, mas um ensaio. A referência é:
CACCIARI, M. "Il Gesù di Nietzsche". MicroMega, fascicolo 5, 2000.
Abraço
Caro Antonio Cicero,
ResponderExcluiragradeço pela publicação.
E agradeço também aos gentis leitores que elogiaram o poema.
"olho nu" é meu primeiro livro, e já está nas livrarias.
Aproveito para mencionar o endereço do meu novo blog:
http://febrix.blogspot.com/
Abraço a todos,
Dado
Antônio,
ResponderExcluirGosto muito do seu blog.
Segue aí um poema meu.
SUJEITO OCULTO (Victor Colonna)
O problema são as conjunções desconjuntadas
As interjeições rejeitadas
Os adjetivos desajeitados
Os substantivos sem substância
As relações de deselegância entre as palavras.
É preciso superar o superlativo:
O absoluto sintético
E o analítico.
Achar o verso
Entre o verbo epilético
E o pronome sifilítico.
Falta definir o artigo inoxidável
O numeral incontável, impagável.
Resta procurar o objeto direto
Situar o particípio passado
E o pretérito mais-que-perfeito
Desvendar a rima
Desnudar a palavra
Encontrar o predicado
E revelar o sujeito.
http://www.deitandooverbo.wordpress.com
Victor,
ResponderExcluirobrigado. Também gostei muito do seu poema. Aliás, fico feliz de ver que está alto o nível dos poemas que têm sido aqui postados.
Abraço
Antônio,
ResponderExcluirem breve vou lançar um livro de poesias, Cabeça, Tronco e Versos Espero que também seja um "acontecimento" (rs).
Segue aí outro poema.
BOCA DO ESTÔMAGO (Victor Colonna)
Minha língua afiada
Cortou o céu da boca:
Passei a cuspir marimbondos.
Era tanto veneno
Que toda ferida era casca
Todo ruído era estrondo.
Um dia, desatento
Passei ungüento na boca
E amaciei o céu.
Pus-me a cuspir marimbondos
e abelhas
Sangue adoçado
Veneno e mel.
http://www.deitandooverbo.wordpress.com
que supimpa, cicero!
ResponderExcluirque vontade me deu, após a leitura, de também sair por aí, feito música, feito chuva, e entrar pelos ouvidos, e desabar por sobre a cabeça das pessoas, para dar-lhes um embalo musical e uma refrescada na cuca.
porra, que coisa bonita as linhas do dado amaral, poeta, vê-se, dado ao despojamento, ao livre caminhar.
'dorei! ;-)
beijoca boa!