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Rumor
a Eugênio de Andrade
Servias o silêncio
decantado num
cálice de luz,
sílaba a sílaba:
rumor quase
nu, agasalhado
com duas, três
palavras em
surdina: breves
como as aves: livres,
roucas desceram por aí
a debicar: poisaram
nos meus olhos
e na boca:
mas prestes a subir
e a voar.
Domingos da Mota
(Publicado, com variações, na revista Palavra em Mutação, Nº.1 zero, Maio/Outubro 2002).
Ciero,
ResponderExcluirlindo!
Adriano Nunes.
Cicero,
ResponderExcluirmeu novo soneto às pressas:
"SONETO-QUADRO"
Esse emaranhado céu de cobalto,
Sobre o asfalto gasto, tudo digere,
Mas o seu sol parece bem-me-queres
Quando, a pino, fita a vida do alto.
Do lado de lá, onde finda o flerte,
Falte, talvez, o azul do firmamento
A fixar-se, disforme, no que invento.
Movem-se nuvens, agitam-se, verdes,
As matas vistas por meu coração.
Nada se revela. Aqui se desfaz
A miragem: as coisas como são
Não coincidem com a imaginação:
Nem os navios parados no cais
Nem, de repente, se os sonhos se vão.
Abraço forte!
Adriano Nunes
Caro poeta Antonio Cícero,Agradeço que tenha publicado no portal do seu blog,«comme il faut», o meu poema Rumor que dediquei a Eugénio de Andrade, quando ele ainda estava do lado de cá, e a que ele me respondeu com o poema As sete Bicas, mais tarde publicado no seu livro Pequeno Formato.Naturalmente que é um poema de um amador de poesia. O Eugénio merecia e teve felizmente outros grandes poetas que o homenagearam devidamente.(Certamente é um abuso da minha parte, mas gostaria de publicar no meu blogue http://fogomaduro.blogspot.com/ um ou outro dos seus poemas, publicados no seu livro A Cidade e os Livros, edições Quasi, e que acabei de comprar, e para isso gostaria de ter a sua autorização expressa).O meu obrigado, e as melhores saudações poéticas (e filosóficas),
ResponderExcluirDomingos da Mota
CICERO,
ResponderExcluirOutro poema novo:
"ESTILHAÇOS" (PARA AETANO)
Quando me desfaço,
Feito esses desenhos
Dispersos no céu,
Feito esses rascunhos
Poéticos densos
No papel, exponho
Rarefeitos cacos
Desse cosmo quântico,
Dessa vida ardente
Ávida por versos.
A minh'alma vibra
Como brasa em chamas.
Depois, nada sinto.
Depois, mundos quero.
Ser quem eu só sou,
Apenas dispenso,
Para não ferir
A Fênix que dorme,
Toda madrugada,
Em meu coração.
Esses estilhaços
Colados não são
Pelos meus desejos.
O meu sangue jorra,
O meu grito calha,
O meu pranto pára,
O meu ser metáfora
Revolta-se: sempre
Quer ser tal Proteu,
Sem forma possível.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Cicero,
ResponderExcluirOutro poema novo:
"COM LÁPIS, PAPEL E LÁGRIMA" (PARA A MINHA AMADA MÃE)
Desisto de mim e sumo.
Preciso-me desprender
De tudo que ainda sou.
Não resta traço sequer
Da minh'alma de poeta.
Consumo-me consciente
De que nada quero ser.
Fui outras vezes o sonho
De ter a tez tatuada
De versos, de ver os ossos
Roídos por rimas, rins
Desfeitos feito marés:
Alternadamente Fênix,
Fígado de Prometeu,
Epiderme e coração
Do inesperado devir.
Não deixei de duvidar
Da dádiva da Mudança,
De lapidar minha vida
Com lápis, papel e lágrima.
Nunca me refiz inteiro,
Nunca quis essa quimera
Invadindo os meus olhares,
Não provei dessa alegria.
Aqui dentro morre o mundo,
Mas renasce a cada dia,
Outro céu bem mais distante,
Outro tempo sem promessa
De nada, sem hora H.
Desisto de mim e fujo
Das palavras, dos sentidos
Violentamente estéticos.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
Não há nenhuma flor na proa
ResponderExcluirDo barco que navega sem cessar
Será que a esconderam
Na popa, noutra dobra
Lembranças diluídas
Vela inflada, boto, baleia,
Sereia perdida a se encontrar
Mar adentro, unguento,
Espectro solar
Boca a deslizar na nuca
Flores no jardim dos amores
Na veia da palavra que não naufraga
Imersa no teu olhar.
Para Adriana Calcanhotto e seu incrível livro "Saga Lusa".
Este poema me emocionou, talvez porque ponha em palavras a mágica que eu sinto ao ser tocada por um poema: "surdina: breves / como as aves: livres ... mas prestes a subir / e a voar".
ResponderExcluirVou atrás de outros textos do autor, que desconheço.
Caro Domingos da Mota,
ResponderExcluirgostei do seu poema e gostarei muito de ver os meus poemas no seu blog. Dou-lhe autorização com prazer. Muito obrigado.
Grande abraço