Por sugestão do Arthur Nogueira, ponho aqui mais um poema meu:
Noite
Vêm lá do canal
reverberações
do ladrar de um cão.
Uma dessas noites
tudo vai embora:
Leve-nos,
ladrão.
Abre-se o sinal
pra ninguém passar.
É melhor ser vão
tudo o que pontua
nossa escuridão.
De: CICERO, Antonio. GUARDAR. Rio de Janeiro: Record, 1996 / Vila Nova do Famalicão: Quase, 2002.
Gostei de Ler.
ResponderExcluirÓtimo 2009.
Grande abraço
A noite ensina ao dia:
ResponderExcluirO breu imiscuindo as almas
Os sonhos perfilados
Infinidade de desejos
A multiplicação da espécie
Calma e violenta como a vida é
O dia retribui, mostrando à noite:
Os olhos bem abertos
Os inimigos perfilados
Desejos afiados
O sexo sutil e detalhista
Minucioso e requintado como a vida é
Esse poema é maravilhoso. Tive contato com ele por intermédio da Adriana Calcanhotto. Ele é enigmático, suscita inúmeras interpretações. O ladrão, o ladrar, o que é vão, o que é escuro, tudo isso junto e misturado nos leva para o lugar onde uma boa poesia deve levar!
ResponderExcluirFeliz 2009, caro Antonio Cícero.
Obrigado, Eder!
ResponderExcluirFeliz 2009 para você também!
Grande abraço
Querido Cicero,
ResponderExcluirQue amor atender o pedido. Eu adoro ler e ouvir esse poema, "Noite". A gravação da Calcanhotto é linda, a melodia do Orlando idem, tocantes.
Agora, aproveito para esclarecer uma dúvida. A mudança na letra da canção proposital? Ela canta "abre-se o sinal sem ninguém passar". E acho lindo o "pra"...
Obrigado - again. Um beijo grande.
Arthur,
ResponderExcluirquando fiz o poema, fiquei na dúvida: ora usava "pra", ora "sem". Fui eu mesmo que dei a Adriana a versão com "sem". Até hoje não tenho certeza, mas fiquei contente de você gostar de "pra".
Beijo
Há três meses conheci seu blog, e desde então não consigo mais ficar um dia sem dar um passadinha por aqui.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente espaço.
Feliz 2009 !
Um abraço.
Amado Cicero,
ResponderExcluirLindo poema. Quando vi o poema com "pra" estranhei porque estava acostumado ouvindo Adriana com "sem". Gosto de ambos por motivos óbvios: não há alteração da métrica (mantém-se a redondilha), os sentidos expostos com "sem" e "pra" são lindos,
além disso há com o uso do "sem" a seuência de sons em "S"; com o "pra" sequências em "R"...gosto dos dois porque são dinâmicos no poema.
Abraço forte.
Adriano Nunes.
Seja muito bem-vindo, Pimentel!
ResponderExcluirFeliz ano novo!
Abraço
ótimo.
ResponderExcluirfeliz ano novo.
feliz ortografia nova?
abraço.
Rafael,
ResponderExcluirse você se refere ao "pra", observo que ele já fazia parte da ortografia antiga: já está dicionarizado há muito tempo. Mas
também espero que seja feliz a nova ortografia.
Abraço
Cada segundo vivido
ResponderExcluirNo oco do mundo
Vale a pena
Mesmo quando a noite serena
Nos convida a navegar
Não se sabe pra onde
Construindo pontes
Além do horizonte
Na avenida passam carros sem cessar
Nem reparo
Persigo sem plano
Meu mais doce engano
A beleza do teu olhar
Embriagado nas curvas
Sereia do mar.
Feliz ano novo, grande poeta, Antonio Cicero, e pra galera!
Querida Alcione,
ResponderExcluirfeliz ano novo pra você também!
Beijo
Gostei muito do poema. O canal é aquele mesmo do Leblon, né? Quanto às duas variantes, está tudo certo: "pra" nesse contexto é mais enigmático, mais profundo e mais rico em entretons (pode haver alguém hesitando em atravessar a rua, pode não haver ninguém ou simplesmente um jogo de sombras) que "sem".
ResponderExcluirFeliz Ano Novo!
Oleg Almeida.
Caro poeta Antonio Cícero,
ResponderExcluirdeixe-me que lhe ofereça um poema meu também com o título de A noite, para comentar o seu belo
poema:
A Noite
Perpassa, rasga a noite siderante
um ar de desvario cego, vário,
em busca do acaso incendiário,
no dorso da loucura delirante;
em busca do vazio, o chão errante
à beira do abismo solidário;
em busca, eu sei lá, do santuário
aceso do pecado inebriante;
em busca do queimor, dessa fogueira
que sobe, sobe a prumo, nos abeira
da febre galopante da paixão;
perpassa, morde a pele:e até a lua,
fremente como o sol, se perde
[e estua
nos braços alongados do verão.
Domingos da Mota
Tenho o seu livro, o Guardar. É muito instigante. E bom.
ResponderExcluirclap clap clap - belíssimo!
ResponderExcluireste poema é lindo. acho especialmente emocionantes os versos "Leve-nos, / ladrão."
ResponderExcluirnão conhecia seus poemas, caí neste blog por acaso e fiquei impressionado. vou voltar aqui muitas vezes.
tudo de bom pra você, e abraço.
Obrigado, Rafael. Volte sempre.
ResponderExcluirAbraço