Soneto LXXIII
Em mim tu podes ver a quadra fria
Em que as folhas, já poucas ou nenhumas,
Pendem do ramo trêmulo onde havia
Outrora ninhos e gorjeio e plumas.
Em mim contemplas essa luz que apaga
Quando no poente o dia se faz mudo
E pouco a pouco a negra noite o traga,
Gêmea da morte, que cancela tudo.
Em mim tu sentes resplender o fogo
Que ardia sob as cinzas do passado
E num leito de morte expira logo
Do quanto que o nutriu ora esgotado.
Sabê-lo faz o teu amor mais forte
Por quem em breve há de levar a morte.
SHAKESPEARE, William. "Soneto LXXIII". In:_____. 50 sonetos. Trad. de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
Sonnet LXXIII
That time of year thou mayst in me behold,
When yellow leaves, or none, or few do hang
Upon those boughs which shake against the cold,
Bare ruined choirs, where late the sweet birds sang.
In me thou seest the twilight of such day,
As after sunset fadeth in the west,
Which by and by black night doth take away,
Death's second self that seals up all in rest.
In me thou seest the glowing of such fire,
That on the ashes of his youth doth lie,
As the death-bed, whereon it must expire,
Consumed with that which it was nourished by.
This thou perceiv'st, which makes thy love more strong,
To love that well, which thou must leave ere long.
SHAKESPEARE, William. The complete works. Edited with a glossary by W.J. Craig. London: Oxford University Press, 1957.
AMADO CICERO,
ResponderExcluirSHAKESPEARE REPRESENTA PARA MIM TODA UMA AMPLIDÃO ÍMPAR: NÃO DISCORDO QUANDO MUITOS CRÍTICOS O CONSIDERAM UM DOS MAIORES DE TODOS OS TEMPOS - NÃO É FÁCIL ESCREVER PARA MULTIDÕES COM TANTA PERFEIÇÃO, ESCREVER PARA O POVO COMO SHAKESPEARE ESCREVIA, COM UM ESTILO PRÓPRIO - POLÍTICO E HUMANO - ISTO É, ABSOLUTAMENTE PERFEITO! A HUMANIDADE NUNCA MAIS FOI A MESMA DEPOIS DE SHAKESPEARE - TODOS OS GRANDES ESCRITORES - PESSOA, WILDE, ENTRE TANTOS, TINHAM ESSE MESMO CONCEITO.
PARA APROVEITAR O MOMENTO, UM DOS SEUS SONETOS QUE ADORO:
"SONETO XXXVI"
DEIXA-ME CONFESSAR: SEREMOS SEMPRE DOIS,
MESMO SE O AMOR DOS DOIS SEJA UM SÓ, SEM PARTILHA.
ASSIM CARREGAREI SÓ E SEM TEU AUXÍLIO
AS MANCHAS DE QUE SÓ DEVO SOFRER A AFRONTA.
SE NOSSO DUPLO AMOR UM SÓ É PELO ASPECTO,
UM DIVÓRCIO CRUEL SEPARA NOSSAS VIDAS,
QUE, SEM DE NOSSO AMOR ALTERAR A UNIDADE
VEM-LHE INSTANTES ROUBAR DE INFINITA DOÇURA.
É-ME, PRECISO, POIS, DUMA VEZ RENEGAR-TE,
SE TE DEVE AFRONTAR MEU ERRO LAMENTADO;
MOSTRAS NÃO PODES DAR DE GENTIS ATENÇÕES
A MIM, SEM QUE TEU BOM RENOME SE AMESQUINHE;
MAS NÃO TE IMPORTES, NÃO: EU TE AMO E DE TAL MODO
QUE TEU RENOME É O MEU, SE A MIM MESMO PERTENCES.
IN:OBRA COMPLETA; EDITORA NOVA AGUILAR,1995; VOLUME III; PÁGINA 829. TRADUÇÃO DE OSCAR MENDES.
ABRAÇO FORTE!
ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.
CICERO,
ResponderExcluirPARA MEU OUTRO AMADO, WALY SALOMÃO! POSTEI HOJE EM MEU BLOG:
"PROGRAMA" (Para Waly Salomão)
DE TUDO QUE SOU
PROTEJO TEU BEIJO.
QUE DESEJO TENHO
OCULTO NA DOR?
QUE PROJETO VEJO
PROIBIDO AQUI
NO VÁCUO DO VERSO?
QUE PROMESSA QUERO
CONTIGO QUEBRAR?
QUE NÃO PUDE ENTÃO?
PROCURO PROEZAS
PORQUE TUDO VIBRA.
FINJO PLENO CLÍMAX
E MEUS OLHOS BRILHAM.
TENTO NOVAMENTE
FLERTAR O POEMA.
MARCAMOS, DEPOIS
DE TANTO TEMER
O MOMENTO MÁGICO,
PARA NUNCA MAIS
O ENCONTRO. SENTI
MEDO DE MIM MESMO
E AS PALAVRAS FORAM
EMBORA FRUSTRADAS.
ABRAÇO FORTE!
ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.
Eu gosto tanto de Shakespeare, li algo sobre ele não ter escrito nada e tal. Fiquei triste! Não posso que crer que as obras que eu li (menos do que eu gostaria) possam ser de pessoas diferentes.
ResponderExcluirParece que isso foi tese de alguma coisa, enfim, pra mim ele sempre será belo, sempre serei amante das palavras dele.
PATRÍCIA,
ResponderExcluirSÃO APENAS SUPOSIÇÕES QUE HÁ MUITO JÁ FORAM DERRUBADAS - SABE-SE BEM QUE FORAM ESCRITAS POR SHAKESPEARE AS SUAS OBRAS. HAVIA CERTA DÚVIDA QUANTO A ALGUNS ESCRITOS HISTÓRICOS. RECOMENDO QUE VOCÊ LEIA ESSES DOIS LIVROS: "A INVENÇÃO DO HUMANO" DE HAROLD BLOOM E "O HOMEM POLÍTICO EM SHAKESPEARE" DE BÁRBARA HELIODORA.
UM FORTE ABRAÇO!
ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.
AMADO POETA,
ResponderExcluirMAIS UM POEMA URBANO:
"MAR CINZENTO"
DESSES MARES
DE CONCRETO
DA CIDADE
ONDE MORO
SOU SURFISTA
(OU PEDESTRE?)
SEM QUERER
SABER ONDE
ARREBENTA
A ONDA BENTA,
CRISTA D'ÁGUA
DOS MEUS OLHOS,
CURTO TUDO.
EM QUE PRÉDIO
EM QUE POSTE
EM QUE PÁTIO
EM QUE PISTA
DE CORRIDA
EM QUE PRAÇA
DESTRUÍDA
TUDO ACABA?
DEPOIS, CANSO-ME
DE VER RUAS
INUNDADAS
DE VERDADES
QUASE NÁUFRAGAS
QUASE LÍQUIDAS
QUASE LOUCAS.
O SOL NÃO
SE DISPERSA
NEM O TRÂNSITO
COAGULA.
O MAR CÉTICO
NÃO SE DESPE
DO SEU TÉDIO:
RODA-VIVA
CORRE-CORRE
TUDO-NADA
DEUS-DARÁ.
FORTE ABRAÇO!
ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.
Palavras eternas!
ResponderExcluir:))
Lindíssimo poema. Gostei também da tradução.
ResponderExcluirAMADO CICERO,
ResponderExcluirSOBRE A ARTE POÉTICA:
"MONTAGEM"
PÕE A PALAVRA
NO DESEJO
DA EXISTÊNCIA.
NÃO SUPONHAS
SER ASSIM
MUITO FÁCIL
CRIAR TODO
UNIVERSO.
É FUGAZ
O POEMA.
SIMPLES SÊ
NESSE OFÍCIO.
ABRAÇO FORTE!
ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.
que dramático, forte!
ResponderExcluiro poema é triste, pois que a morte nunca é visita ansiada, aguardada com furor, e muito bonito, porque, nele, no poema, há alento e delicadeza no amor de quem ainda sente, naquele que expira, naquele que morre, o fogo da vida resplandecendo.
romââântico (rs)...
beijo, meu amor!
Sinto o cheiro do mar
ResponderExcluirAonde vou desaguar
Como é bom te amar
Agora a sinfonia
Saúda o dia
Numa harmonia
Difícil de acreditar
Minha luz
Estrela luminosa
Apareça antes que eu parta
Pássaro canta em
Esparta.
Querido Antônio Cícero,
ResponderExcluirComecei a ler o romance "Stoner", de John Williams, lançado pela Rádio Londres em 2015, e logo no primeiro capítulo há uma cena em que um professor de Literatura Inglesa menciona o Soneto 73 de Shakespeare. A edição usou a tradução de Jorge Wanderley, publicada pela Civilização Brasileira em 1991, com o título "Sonetos". Motivada pela leitura, resolvi procurar outras versões para o mesmo soneto. Nesta pesquisa descobri que a tradução postada no seu blog como sendo do Oscar Mendes é, na verdade, do Ivo Barroso. A do Oscar Mendes que se encontra no Vol. III da "Obra Completa" da Aguilar (1995) começa com "Reconheces em mim essa estação do ano".
A tradução do Ivo que você usou foi publicada pela Nova Fronteira em 2005, em um livrinho chamado "42 Sonetos", e é citada em um trabalho da aluna da PUC Debora Landsberg, orientada pelo prof. Paulo Henriques Britto, chamado: OS SONETOS DE SHAKESPEARE: ESTUDO COMPARATIVO DAS PERDAS E GANHOS DAS DIFERENTES ESTRATÉGIAS TRADUTÓRIAS. O mesmo estudo traz outra três tentativas, uma do Vasco Graça Moura, uma do Jerônimo de Aquino e a do Jorge Wanderley, acima mencionada.
Quando puder, sugiro que tente corrigir a referência. Você sabe como estas questões são sensíveis!
Um beijo carinhoso,
Liana Pérola
Agradeço calorosamente a Liana Pérola por ter chamado minha atenção para o fato de que a tradução até hoje aqui apresentada desse soneto de Shakespeare não era, ao contrário do que eu pensava e publicara, do Oscar Mendes, mas sim do Ivo Barroso. Acabo de corrigir esse erro.
ResponderExcluirO que ocorre é que, como sou louco por Shakespeare, que leio desde adolescente, quando morava nos Estados Unidos, confesso que jamais sequer presto atenção às traduções portuguesas dele. A verdade é que, ao publicar um soneto dele, normalmente busco uma tradução na Internet, sem prestar muita atenção. Prestarei mais atenção no futuro.
Mais uma vez, obrigado, Liana Pérola!