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Barco
Vou hoje começar a recordar-te
embora a luz entrando sob o arco
escasso da realidade possa dar-te
a ilusão ainda de que o barco
simplesmente balouça mas não parte
Já partiu afinal do porto parco
onde vieste perceber a arte
de nada ser; no mesmo barco marco
lugar como num ventre: igual escala
é a perda da vida que ganhá-la
De: CRUZ, Gastão. Repercussão. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004
CÍCERO,
ResponderExcluirBELÍSSIMO POEMA!
UM ABRAÇO!
ADRIANO NUNES.
observador,
ResponderExcluirgosto muito de Gastão Cruz.
teatro, poesia, estudo profundo da língua...
um homem-poeta invejável!
abraço!
Os pássaros em revoada
ResponderExcluirDeixam sombras na estrada
De amor, sexo, vinho
Memórias
Fluindo, indo e vindo,
Redemoinhos
Cravados nas pedras
Nos lagos, montanhas,
No mar que fazem as ondas
Sob o vento
Flutuarem feito nuvens.
Lindo, Cicero. Não conhecia esse poema, mas adoro as coisas do Gastão Cruz. Esse, espeficicamente, me lembrou uma música sublime do Guinga e do Aldir Blanc, chamada "Neblinas e flâmulas": "os teus olhos barcos gritam adeus no mar dos meus". Um beijo grandão.
ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluiraqui fica um outro poema dele, que eu adoro. (acho que é porque tem o sabor a sal da casa da minha infância).
abraço,
F.
LITANIA PARA UMA CASA
Uma casa morreu
quem pode usá-la agora?
Alguma coisa nossa
ficou nela e nós fora
De madrugada, cega,
perdeu-se junto à costa
não quero vê-la mesmo
que vê-la ainda possa
Existe mas morreu
ancorou numa rocha
o vento que a fechou
fechou-nos a nós fora
Não quero vê-la nem
que vê-la ainda possa
dentro dela ficou
alguma coisa nossa
In Rua de Portugal, Assírio & Alvim, 2002.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPrezado Antonio, UAU, menino, um poema lindíssimo com a marca registrada desse poeta tão esquecido por nós. O verso quebrado, com o sentido sendo completado mais adiante, como que em suspense, para dar toda a dimensão do sentimento. Obrigado !
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