O poema de Sá de Miranda, que começa com “O sol é grande [...]” lembrou-me o Soneto da maioridade, de Vinícius de Moraes, que aqui postei em 01/05/2007, que começa com os magníficos versos “O Sol, que pelas ruas da cidade / Revela as marcas do viver humano”, e me lembrou também o seguinte poema de João Cabral:
POEMA
Trouxe o sol à poesia
mas como trazê-lo ao dia?
No papel mineral
qualquer geometria
fecunda a pura flora
que o pensamento cria.
Mas à floresta de gestos
que nos povoa o dia,
esse sol de palavra
é natureza fria.
Ora, no rosto que, grave,
riso súbito abria,
no andar decidido
que os longes media,
na calma segurança
de quem tudo sabia,
no contato das coisas
que apenas coisas via,
nova espécie de sol
eu, sem contar, descobria:
não a claridade imóvel
da praia ao meio-dia,
de aérea arquitetura
ou de pura poesia:
mas o oculto calor
que as coisas todas cria.
De: CABRAL de MELO NETO, João. “Museu de tudo”. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p.414.
Bonito mesmo esse poema! Coincidência, meu último poema postado foi influenciado pela recente leitura do JCMN... e agora o vejo por aqui!
ResponderExcluirpoéticos abraços
Leandro Jardim
A poesia escorre
ResponderExcluirpelo assoalho da linguagem,
resto de pó do pensamento,
costura e dobra do que foi tormento,
princípio que ilumina a vida,
laboriosamente preparado,
dentro da calma espectral que assusta os mortos,
faz latir os cães e emudecer as mulheres.