No texto seguinte, Sartre fala dos seguintes versos de Rimbaud:
O saisons, O châteaux!
Quelle âme est sans défaut ?
[Oh estações, oh castelos !
Que alma é sem defeito?]
Ninguém é interrogado; ninguém interroga: o poeta está ausente. E a interrogação não comporta resposta ou antes ela é sua própria resposta. Será uma falsa interrogação? Mas seria absurdo crer que Rimbaud tenha querido dizer “todo o mundo tem defeitos”. Como dizia Breton de Saint-Pol-Roux, “se tivesse querido dizê-lo, tê-lo-ia feito”. E tampouco quis dizer outra coisa. Fez uma interrogação absoluta; conferiu à palavra alma uma existência interrogativa. Eis a interrogação transformada em coisa, como a angústia do Tintoreto tornara-se céu amarelo. Não é mais uma significação, é uma substância; é vista de fora e Rimbaud nos convida a vê-la de dentro com ele, sua estranheza vem de que nos colocamos, para considerá-la, do outro lado da condição humana; do lado de Deus.
De: Qu'est-ce que la littérature? Paris: Gallimard, 1948, p.24.
Sartre comenta a poesia. Mas seu texto também se torna literatura poética. Não explica nada: muito pelo contrário: torna-se beleza, texto em si. O mais intrigante, para mim, é quando afirma que "o poeta está ausente". Também nos diz "do outro lado da condição humana, do lado de deus". Acrescenta mistérios a um texto de poeta dos mais misteriosos: Rimbaud.
ResponderExcluirCaro Antônio,
ResponderExcluirMuito belo esse texto. Mas, se acrescenta mistérios e é também beleza, não deixa, por isso, de explicar. E lança verdadeiramente uma luz sobre a pergunta de Rimbaud: revela-se opaca.
Muito bom que esteja postando os textos discutidos nas aulas, assim podemos continuar a apreciá-los e discuti-los.
um abraço,
Lucas
Nos meus estudos iniciais de Rimbaud, foi esse texto de Sartre que melhor me exibiu a obra do "enfant Shakespeare".
ResponderExcluircicero,
ResponderExcluireu quero que voce leia alguns
de meus poemas.
http://poemamergulho.blogspot.com/
victor de chevalier.