Um belíssimo poema de Waly Salomão, que imensa SAUDADE me causa:
ARS POÉTICA
OPERAÇÃO LIMPEZA
Assi me tem repartido extremos, que não entendo...
(Sá de Miranda)
I
SAUDADE é uma palavra
Da língua portuguesa
A cujo enxurro
Sou sempre avesso
SAUDADE é uma palavra
A ser banida
Do uso corrente
Da expressão coloquial
Da assembléia constituinte
Do dicionário
Da onomástica
Do epistolário
Da inscrição tumular
Da carta geográfica
Da canção popular
Da fantasmática do corpo
Do mapa da afeição
Da praia do poema
Pra não depositar
Aluvião
Aqui
Nesta ribeira.
II
Súbito
Sub-reptícia sucurijuba
A reprimida resplandece
Se meta-formoseia
Se mata
O q parecia pau de braúna
Quiçá pedra de breu
Quiçá pedra de breu
CINTILA
Re-nova cobra rompe o ovo
Da casca velha
SIBILA
III
SAUDADE é uma palavra
O sol da idade e o sal das lágrimas
De: SALOMÃO, Waly. Armarinho de miudezas. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1993.
A saudade é grande matéria-prima dos poetas,só por isso merece ser sentida e respeitada.
ResponderExcluirAntonio,parabéns pelo blog!
tenho uma admiração que seria gigantesca se não fossem tão sútis os meus respiros silêncios por aqui.
ResponderExcluirsuerte.
T.
wally... poeta importantíssimo na minha formação, alteza que abdicou cetro e coroa, a voz de pessoa vitoriosa, voz que resplandece, nítida e real, entre livros e os tambores de vigário geral, homem da vida, de talismã encerrado no peito, cravado, a ferro e fogo, no coração.
ResponderExcluirque lindo poema, que linda, e sábia, maneira de falar da SAUDADE. tão inteligente, tão esperto o poeta... depois de tudo o que nos passa (a mim ensinou) nas partes I e II, encerra magistralmente com os versos da parte III, delicados, sumos poéticos.
homenagens são poucas ao bardo, ao navegador de luas.
que bela LEMBRANÇA, cicero!
bom contar com o seu espaço! continue a escrever!
beeeijo!
Cícero, mando o poema corrigido e mais um, de onda. Você lembrou da situação que relatei? Eu gostava demais do Waly...
ResponderExcluirEU CONHECI
um sujeito
chamado Waly
gostava de palavras
bunda furico açaí
Real Grandeza
fã ardoroso da beleza
esse sujeito
de nome Waly
que por sorte
um verdadeiro
golpe de sorte
eu conheci
e cuja conversa
abraçado comigo
numa praça de Ipanema
“nós somos apenas poetas,
mas somos o sêmem de tudo”
jamais eu esqueci
SEJAM SEUS
a força que nunca cessa
a fonte que jorra e enleva
o sangue que pulsa e vibra
a mim
a fome de amor que eu sinto
a boca que eu beijo e trago
o gesto de ardor que eu finco
Eu me deparo diante um muro chamado Wally Salomão e desejo muito que os meus poemas sejam de pedra, de ferro e de ar, como são os poemas dele.
ResponderExcluirUm monstro ainda pouco conhecido, submergido no lago da poesia brasileira