11.11.12

Arnaldo Antunes: de "Psia"





Porque eu te olhava e você era o meu cinema, a minha Scarlet O' Hara, a minha Excalibur, a minha Salambô, a minha Nastassia Filípovna, a minha Brigitte Bardot, o meu Tadzio, a minha Anne, a minha Lorraine, a minha Ceci, a minha Odete Grecy, a minha Capitu, a minha Cabocla, a minha Pagu, a minha Barbarella, a minha Honey Moon, o meu amuleto de Ogum, a minha Honey Baby, a minha Rosemary, a minha Merlin Monroe, o meu Rodolfo Valentino, a minha Emanuelle, o meu Bambi, a minha Lília Brick, a minha Poliana, a minha Gilda, a minha Julieta, e eu dizia a você do meu amor e você ria, suspirava e ria.




ANTUNES, Arnaldo. "Psia". In:_____. Como é que chama o nome disso. São Paulo: Publifolha, 2006.

8 comentários:

  1. Cicero,


    demais! Salve Arnaldo Antunes! Grato por compartilhar!




    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  2. Lindo! Que pena ser tão difícil encontrar livros seus cá em Portugal...

    um beijo,
    Sarah

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  3. Cícero, Arnaldo é luz.

    Segue um poema pra vc.
    Abs.


    SEGUNDA NAVEGAÇÃO


    Teria que haver um sol, passada a chuva, a afundar feixes de ouro na poça oblonga da rua XV, ainda a dosar o furta-cor bater das asas-rápidas, quando o beija-flor se espanta e foge em seguida?

    Teria o vento o sublime dizer de não levar o perfume das flores de
    jasmim, em qualquer direção,ainda que empurrasse cavalos de nuvens até o fim da tarde?

    Teriam que estar tingidas de tempo e vermelho lácteo - essas espumas
    de água sonâmbula que são as nuvens - dissolvendo-se já na boca da noite?

    Teriam estrelas, depois, marchetadas em barco-céu de cobalto, onde
    meu pensamento espreitará indefinições e certezas evanescentes?

    Teria que pescar com as redes dos meus olhos, os meteoros, a riscarem - de quando em vez - faíscas de cristal na pele de abismo que cobre o mar na madrugada?

    Teria que entender que, por uma sempre nova arrumação da manhã a nascer - em ferro solar - a catapulta de meu sorriso, sob lâmina de dentes e de sim, acontece de me lançar adiante?

    (EDSON P. FILHO (EDSON DA BAHIA)

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  4. Caro Edson da Bahia,

    muito obrigado pelo belo poema.

    Grande abraço

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  5. A poesia como uma presentificação, a alma em busca de uma auto-presença. Isso, porque a alma vive num não-lugar; vive entre: passado, presente e futuro. E ela, a alma, não se encontra em nenhum destes cronotopos.

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  6. Tim tim

    Bem te vi
    Assim canta o passarinho
    E martelam os andaimes sem fim
    Crescem
    Fogueiras crepitando
    Tantos casais vão abrigar
    Amando ou não,
    Crescem feito capim
    Para bem longe de mim
    E dessa vida enfadonha
    A minha casa, abençoada,
    Será verde e rosada
    Toda enluarada
    Repleta de verde e
    Com cheiro de jasmim
    Arroz e feijão
    Churrasco e pamonha
    E a cerveja, pois, veja,
    Tão curta é a vida
    Que merece ser vivida
    Tim tim por tim tim.

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  7. Cicero!

    Saudades dos seus textos lúcidos quinzenais na folha.

    O que ando lendo por aí tá tão "déjá li", "tipo assim" da Veja, que o cara fala fala fala e diz mto pouco sobre gays e tal, e a resposta do deputado do PSOL que fala fala fala e convoca a militância; que me lembrei de uma entrevista sua sobre o que afinal quer o chamado "movimento gay"?

    E eu achando como os discursos estão fragmentados, e o MPF (órgão para o qual trabalho!) que entrou na justiça para a retirada de 'Deus seja louvado' das cédulas de dinheiro.

    Ufa!!!! Tá tudo tão igual, e tão diferente, que do mensalão baixei os textos para ler em casa, com calma, pra ver se entendo o que essa turma suprema anda decidindo em meio da gritaria.

    Abrçs!

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